Um “open space” com uma atmosfera cénica peculiar

Publicamos, quinzenalmente, às sextas, um projecto de arquitectura e de decoração de interiores com exemplos de como aproveitar da melhor forma o pouco espaço disponível numa habitação. Bem-vindos às Casas XS. Uma curadoria do blogue Alexandra Matos Design

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No início da Rua de Cedofeita, no Porto, há um pequeno edifício que termina na Praça de Carlos Alberto. Aqui apresentamos a unidade mais alta desse edifício, recuperado pelo arquitecto Nuno Rodrigues, da Metrobox. A finalidade desta unidade de 50 metros quadrados era absorver um programa de habitação de uma pequena família, que pudesse abranger tanto turistas como residentes temporários, numa fórmula cosmopolita e informal.

Antes da intervenção, este edifício apresentava algumas patologias, existindo uma deterioração do granito existente e da estrutura de madeira em geral. Nuno Rodrigues explica que “a primeira intervenção consistiu na salvaguarda imediata destes elementos, alavancando o desenvolvimento do projecto em torno deste objectivo". "As madeiras do soalho, à semelhança das paredes de tabique, foram imunizadas, permitindo o resgate destas peças", acrescenta o mesmo. "São estes mesmos elementos a principal assinatura de qualquer projecto de uma cidade como o Porto. Como arquitectos de interiores que somos, a escolha da cor, bem como a iluminação, são duas das mais importantes variáveis a ter em conta no desenho dos nossos projectos, como tal, a componente cénica deste espaço foi explorada.”

Sendo a iluminação algo que a Metrobox privilegia, Nuno Rodrigues referiu que “a própria opção e escolha dos materiais de revestimento é sempre feita com vista a ser explorada cenicamente pelo tipo de iluminação" desenhada. "Neste caso em particular, a malha do tecto é o actor principal e o jogo de tons e de luz activa esse elemento, sendo este conjunto a assinatura do ambiente que quisemos oferecer.”

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Alexandra Matos é mestre em Ciências da Comunicação e é autora do blogue Alexandra Matos Design

Na prática, quando entramos neste pequeno apartamento, percebemos a sua amplitude de forma imediata, pois o facto de ser um open space com um tecto descolado das divisórias, cria uma bolsa de ar, uma espécie de clareira, que nos guia para os espaços que queremos usar. Nele existe uma kitchenette oculta e uma casa de banho com uma janela ampla, que a ilumina de forma autónoma em relação aos restantes espaços deste apartamento. Um mezanino acessível por um pequeno lanço de escadas, leva-nos a uma zona com uma cama extra, criando um refúgio de leitura ou de descanso, privilegiado pela vista que se tem de toda a envolvente do edifício, através das inúmeras janelas que temos em redor da sala principal que constitui o bloco central desta tipologia mínima.

Este corpo oferece uma zona de dormitório com uma cama de casal e um bloco de arrumação e roupeiro generoso e adaptado à escala em causa. Uma pequena sala de estar articula o acesso deste apartamento com a porta de acesso à extensa varanda exterior que contorna todo o edifício, espaço acessível também pela zona de refeições. Segundo Nuno Rodrigues, “este projecto foi bastante reconhecido pelos turistas que procuram a Oporto City Flats, quer pela sua atmosfera estética particular, quer pela funcionalidade que tão pequena área consegue oferecer”.

Dicas para espaços pequenos

Nuno Rodrigues acredita que “deve haver um objectivo de ocupação, ou seja, um programa pessoal para habitar. Desta forma, os técnicos — arquitectos e engenheiros — têm condições para pensar uma solução em conjunto”. “Uma pequena unidade de habitação deve conter obrigatoriamente uma zona de estar e/ou de refeições, uma zona de dormir, uma casa de banho e uma pequena kitchenette de apoio. Deve haver sempre uma primeira lógica de fluxos, ou seja, pensar de que forma se quer movimentar dentro de casa e perceber quais as zonas que terão mais permanência de uso. Como tal, o maior conselho é perceber as necessidades pessoais antes de começar a desenhar. O resto é projecto, desenho... e luz”.

Soluções low cost

“As nossas casas procuram mais alma do que decoração. As peças que escolhemos deverão sempre cumprir uma expectativa de uso, seja mais efémera ou 'para ficar'. As efémeras poderão ser mais disruptivas, já que permanecerão menos tempo no local e não terão tempo para nos cansar, devendo ser naturalmente, baratas. No entanto, deve haver peças especiais que surgem como objectos de desejo e acabam por assinar a alma das nossas casas.” Acima de tudo, Nuno Rodrigues é da opinião de que não se deve rechear uma casa de uma vez só, os projectos de habitação vão-se fazendo aos poucos. Além de se evitar assim as comuns precipitações, consegue-se decorar com alma.

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