Eleições britânicas: segurança foi reforçada, mas é pouco visível nas mesas de voto

Depois de uma campanha marcada por dois atentados, 47 milhões de britânicos vão às urnas. Sem medo, mas preocupados.

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Mesa de voto em Hyde Park Clodagh Kilcoyne/Reuters
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Jeremy Corbyn, líder trabalhista, votou em Islington (Londres) Stefan Wermuth/Reuters
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A primeira-ministra conservadora Theresa May votou em Sonning Toby Melville/Reuters

Não há polícias à porta da Biblioteca John Harvard, a secção de voto mais próxima da London Bridge. As carrinhas de emergência e os agentes estão concentrados uma centena de metros mais à frente, garantindo a inviolabilidade do cordão de segurança que continua a isolar o Borough Market, local do último ataque terrorista em solo britânico. “Onde está a segurança? Aqui não há segurança nenhuma”, indigna-se Lilian Worliy, abordada pelo PÚBLICO logo depois de votar. “O Governo continua a falhar. Cortou o número de polícias e, mesmo depois do que aconteceu, qualquer um pode entrar aqui.”

Depois de 50 dias de campanha, há quase 47 millhões de eleitores registados para votar nas legislativas desta quinta-feira no Reino Unido, que a primeira-ministra, Theresa May, convocou para reforçar o seu mandato antes das negociações para a saída da União Europeia.

Mas a questão da segurança e do combate ao terrorismo irrompeu pela campanha depois do atentado na Manchester Arena, a 22 de Maio, e de três homens terem atropelado e esfaqueado dezenas de pessoas junto à London Bridge (o último balanço dá conta de oito mortos e mais de 20 pessoas continuam hospitalizadas). Das duas vezes, a campanha foi suspensa, mas todos os partidos garantiram depois do último ataque que a votação iria decorrer como previsto, ainda que com o reforço de segurança em algumas zonas – o nível de alerta permanece “grave”, significando que “há uma elevada probabilidade” de um novo atentado.

Um reforço da segurança que não é visível na biblioteca, onde à hora de almoço o vaivém de eleitores é constante, sem que se cheguem a formar filas. Benjamin diz que não se sente inseguro – “No caminho de casa até aqui vi quatro polícias” –, mas explica que o ataque de sábado, ali tão perto de casa, “ajudou a reforçar” aquela que já era a sua intenção de voto. “A forma como este Governo age é cruel. Diminuiu a segurança ao reduzir o número de polícias, corta os apoios sociais. Temos cada vez mais sem-abrigos e a pedir esmolas nas ruas”, afirma.

Em Earls Court, no bairro de Chelsea, a votação decorre com normalidade e Julia, dirigente dos conservadores na zona, acredita que os atentados vão acabar por favorecer o partido. “Não queremos ganhar votos com base na tragédia”, explica, mas perante a ameaça “as pessoas inclinam-se para os políticos que transmitem confiança” e May, ministra do Interior durante seis anos, “tem um excelente currículo na área”. Julia assegura que os cortes nas forças de segurança foram decididos pelos comissários de polícia, não pela actual primeira-ministra e parte ao ataque aos trabalhistas, afirmando que as suas promessas “só iriam levar o país novamente à bancarrota”, e à União Europeia, culpando a legislação comunitário “por travar a expulsão dos terroristas condenados”.

Reforço nas pontes

A segurança também não é visível na secção de voto Methodist Central Hall, mesmo ao lado da Abadia de Westminster e a poucos passos do Parlamento, local habitual de voto dos chefes de governo em eleições que não as legislativas – May votou nesta quinta-feira em Maidenhead, o círculo pelo qual é eleita. O maior aparato é fruto de filmagens que decorrem na zona e que quase escondem a entrada da mesa de voto. “Tive de dar a volta ao edifício para a encontrar”, diz uma voluntária do Partido Conservador que ali está para registar o número dos eleitores que já votaram e que prefere não dar o nome. “As urnas só fecham às 22h, por isso é normal que muita gente só venha depois do trabalho”, diz perante a fraca afluência do meio da manhã.

Lá fora, junto ao coração político do Reino Unido, a segurança é mais apertada. Há polícias armados à entrada de edifícios governamentais e do Parlamento, barreiras metálicas a ser colocadas ao longo de Whitehall. Mas as marcas mais visíveis da ameaça terrorista estendem-se ao longo da Westminster Bridge, onde a 22 de Março um homem atropelou várias pessoas e esfaqueou um polícia que guardava o Parlamento antes de ser abatido. Railes de metal e blocos de cimento separam as faixas de rodagem dos passeios, impossibilitando o atropelamento dos peões.

O mesmo aparato foi colocado nos últimos dias na London Bridge e noutras pontes de Londres, concretizando o provérbio português “em casa arrombada, trancas à porta”.

“Isso de pouco adianta. Se alguém quiser fazer alguma coisa, é muito difícil impedi-los. Pode-se comprar uma faca de cozinha em qualquer lado, alguém pode fazer-se explodir em poucos segundos e nem um milhão de polícias o pode evitar”, diz Linda, moradora na zona há 22 anos, que veio até ao memorial de flores e mensagens que continua a crescer junto à entrada da ponte, mesmo em frente ao Borough Market.

Cinco dias depois dos ataques, confessa que não ainda conseguiu voltar a atravessar a ponte e pensa constantemente que poderia ter sido uma das vítimas. “Estive no local onde eles esfaquearam pessoas na sexta-feira, àquela mesma hora, e no sábado à tarde.” Mas não se quer deixar vencer pelo medo e deixou essa mensagem num dos post-its que decoram um muro à entrada da ponte. “A London Bridge nunca irá cair. Londres, estamos unidos.”

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