Poeta polaco Adam Zagajewski vence Prémio Princesa das Astúrias de Literatura

Também ensaísta, romancista, e tradutor, é um dos nomes cimeiros da chamada "geração de 1968" ou New Wave.

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O poeta polaco Adam Zagajewski Frankie Fouganthin

O poeta polaco Adam Zagajewski venceu o Prémio Princesa das Astúrias de Literatura 2017, foi esta quinta-feira anunciado em Oviedo, Espanha. O júri considerou que a obra de Zagajewski “confirma o sentido ético da literatura” e constitui "uma das experiências poéticas mais emocionantes da Europa", herdeira de autores como Rainer Maria Rilke, Czeslaw Milosz ou do espanhol Antonio Machado.

Escolhido por um júri de 16 elementos, que incluía poetas como Félix de Azúa, Xuan Bello e Luis Alberto de Cuenca, a jornalista de cultura Blanca Berasátegui, ou o ensaísta e crítico Darío Villanueva, Adam Zagajewski foi proposto ao prémio por vários anteriores galardoados nas diferentes modalidades dos prémios Princesa das Astúrias. Um deles foi o anterior vencedor deste prémio de Literatura, o ficcionista norte-americano Richard Ford, que já se congratulou com a decisão dos jurados. “A poesia de Adam Zagajewski, luminosa, profunda, às vezes crua, mas sempre lírica, consegue o raro triunfo literário de ser política e, no entanto, supremamente humana, num único, contínuo e complexo movimento”.

Além de poeta, o escritor polaco é autor de uma importante obra ensaística e publicou ainda livros de ficção e de memórias, aspectos também destacados na acta do júri, lida em Oviedo por Darío Villanueva, que sublinhou especialmente a relevância das reflexões de Zagajewski sobre a criação literária.

Numa breve declaração de agradecimento, o poeta polaco, um dos principais nomes da chamada “geração de 68”, dita da “nova onda”, declarou-se honrado por receber este prémio vindo “do reino de Cervantes” e concluiu: “Um poeta trabalha na solidão, mas de repente chegam notícias inesperadas”.

Nascido em 1945 na então cidade polaca de Lvov, depois integrada na União Soviética e hoje situada Ucrânia, Zagajewski passou a infância em Gliwice, uma cidade da Silésia alemã anexada pela Polónia no final da Segunda Guerra. Deslocado com a familia quando era criança, tornou-se depois um opositor do regime comunista polaco, tendo deixado o país no início dos anos 80, exilando-se primeiro em Berlim e depois em Paris. Viveu ainda nos Estados Unidos, ensinando na Universidade de Houston. Regressado à Polónia em 2002, tem hoje o seu quartel-general em Cracóvia, mas dá  aulas na Universidade de Chicago e é um dos responsáveis pela revista literária Zeszyty literackie, publicada em França.

Tendo-se revelado nos anos 70, ainda na Polónia, com livros que têm sido caracterizados como poesia de intervenção, a sua obra, sem deixar de ser política, rapidamente ganhou outras dimensões. Numa recensão a Canvas, edição americana de Plotno (1990), o poeta e crítico Robert Pinsky, tradutor de Czeslaw Milosz, diz que a poesia de Zagajewski aborda “a presença do passado na vida quotidiana: a história não como crónica dos mortos, ou um alma a ser iluminada por uma qualquer doutrina, mas uma força imensa, por vezes subtil, inerente ao que vemos e sentimos no nosso dia a dia”.

Enquanto espera seguir as pisadas de Czeslaw Milosz e Wislawa Szymborska, já que é um crónico candidato ao Nobel da Literatura desde 2007, Zagajewski tornou-se para já o primeiro autor de língua polaca a receber o Prémio Princesa das Astúrias de Literatura, que conta já com 37 edições.

Cada um destes prémios inclui uma escultura de Joan Miró e uma dotação monetária de 50 mil euros, que serão entregues em Outubro, numa cerimónia em Oviedo presidida pelo rei de Espanha, Felipe VI.

Entre os anteriores galardoados com o prémio de Literatura contam-se escritores como Juan Rulfo (1983), Mario Vargas Llosa (1986), Carlos Fuentes (1994), Günter Grass (1999), Doris Lessing (2001), Susan Sontag (2003), Claudio Magris (2004), Amin Maalouf (2010), Leonard Cohen (2011, Philip Roth (2012), John Banville (2014), Leonardo Padura (2015) ou o já referido Richard Ford (2016).

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