Amélia Muge e Filipe Raposo abanam a árvore da cultura e colhem os frutos

Com o Passo das Árvores é um espectáculo único, onde música e poesia se unem num ambiente quase teatral. Esta quinta-feira, na Culturgest, às 21h30.

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Amélia Muge e Filipe Raposo: voz e piano numa noite irrepetível RUI GAUDÊNCIO

Na senda da despedida de Miguel Lobo Antunes como programador da Culturgest, mais um espectáculo deveras promissor: a cantora e compositora Amélia Muge e o pianista e também compositor Filipe Raposo unem esforços e artes em Com o Passo das Árvores, concerto por eles concebido para o Grande Auditório da Culturgest (esta quinta-feira, às 21h30), onde música, poesia e imagens se interligam num ambiente quase teatral.

Amélia, no libreto do espectáculo, fala nos “pés das árvores” e esse é um mote que nos leva às raízes da própria cultura, como ela explica ao PÚBLICO: “A combinação da ideia do estar, para mim muito forte, porque as vezes que estive na Culturgest foi sempre uma experiência muito forte, com a ideia do respirar e de ramificar, no fundo é a de um tempo que frutifica. Eu tentei usar a metáfora da árvore para mostrar que o estar parado, na raiz e nos troncos que diversificam, não impede de circular, comunicar.” E isso dá corpo ao concerto. “O guião do espectáculo, ao mesmo tempo que interliga de uma maneira muito engraçada canções e textos, como se de facto eles fizessem parte de um mesmo tronco (o Herberto Helder, a Natália Correia, a Amália, estão todos juntos a partir da ideia da Lua, por exemplo), vai fazendo aparecer essas simbologias ligadas à árvore.”

O trabalho dela com Filipe Raposo prolonga aqui uma ligação de mais de uma década: “Há uma marca muito pessoal nos arranjos, que evidencia as nossas duas presenças, e há também espaço para cada um de nós. O Filipe vai tocar uma peça dele a solo e eu vou ter alguns momentos a solo com guitarra, o que já não faço há muito tempo, e a braguesa.” E lerão, ambos, excertos de poemas escolhidos: Herberto Helder, Fernando Pessoa, William Blake, Ramos Rosa ou Grabato Dias. “A premissa do espectáculo parte da poesia”, diz-nos Filipe Raposo. “Há, da nossa parte, uma intimidade muito grande com este repertório, com que já trabalhamos há onze anos, e que de repente está sintetizado na voz, no piano e na poesia. Ao mesmo tempo pode constatar-se a transparência máxima de cada um dos temas.”

Haverá dois inéditos: De escuro o céu vestimos, parceria de Amélia com Filipe, escrita propositadamente para este espectáculo; e Uma ilha com o nome de utopia: “Escolhi esse tema” diz Amélia, “para mostrar o trabalho que estamos a ter com o Archipelagos [já em preparação e que irá suceder a Periplus, parceria com Michales Loukovikas em 2012]. Mas o arranjo é pensado para este concerto, não é aquele que irá para o disco.”

Ainda seguindo a metáfora da árvore, dos seus “pés” e raízes, diz Amélia Muge: “A maneira como os textos aparecem também tem muito a ver com a concepção cénica. Vão aparecer vários objectos, vários livros, que reforçam esta ideia do contacto e da articulação. Como se fossem frutos da árvore da cultura. A ideia foi criar um ritmo de espectáculo talvez mais próximo do teatro. E as pessoas vão sair mais frondosas.”

Com o Passo das Árvores conta com Amélia Muge (voz, braguesa, percussão e imagem) e Filipe Raposo (piano preparado, acordeão),mas também com projecção de imagens, captação sonora e interacção instrumental de António José Martins. Os ambientes luminosos e cenários são de Manuel Mendonça e a produção é Culturgest/UGURU.

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