Ana Gomes diz que novo chefe das secretas não cumpriu a sua missão em Timor

Eurodeputada afirma que a missão dos observadores "não se esgotava com a votação dos timorenses” e que “a questão essencial era o dia seguinte, a segurança dos timorenses”. E já manifestou a disponibilidade para prestar declarações ao Parlamento.

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Ana Gomes já se disponibilizou para ser ouvida no Parlamento DRO DANIEL ROCHA

Ana Gomes voltou nesta terça-feira à polémica sobre o comportamento do embaixador José Júlio Pereira Gomes em Timor, quando, em 1999, chefiou a missão de observação portuguesa ao referendo timorense. A eurodeputada, na altura embaixadora na Indonésia, acusa o recentemente nomeado para secretário-geral do Sistema de Informações da República (SIRP) pelo primeiro-ministro António Costa de não ter cumprido a sua missão.

“O que está em causa não é se uma ordem de evacuar a missão foi dada por Lisboa. Foi. A questão é como ela foi obtida. Que argumentos é que foram utilizados. A questão não é obviamente que a missão já se tinha esgotado, como ouço para aí dizer”, afirmou Ana Gomes à RTP.

A eurodeputada socialista acrescentou “que obviamente a missão não se esgotava com a votação dos timorenses”. “Sempre ficou claro para todos que a questão essencial era o dia seguinte. Era a segurança dos timorenses”, frisou.

A ordem "foi dada às 5h de 10 de Setembro de 1999, era um dia em que já estava em Jacarta uma missão do Conselho de Segurança da ONU que ia a caminho de Díli", que tinha sido pedida por Portugal, recordou Ana Gomes à agência Lusa.

Depois de um encontro com a embaixadora, em Jacarta, essa missão chegou a Díli no dia seguinte e não tinha qualquer representante português a recebê-la, apenas Ian Martin, chefe da UNAMET. "Não me venham com a conversa de que a missão estava esgotada, que se teria esgotado na votação [do referendo em que a independência ganhou por larga maioria]. A missão não era só para saber se os timorenses poderiam votar. A questão da segurança no dia seguinte esteve sempre em cima da mesa, era a questão-chave", descreveu.

Ana Gomes justificou a importância de estar um representante de Portugal, "como potência administrante, que ainda era na altura", na recepção à missão do Conselho de Segurança das Nações Unidas. "Para dar um sinal aos timorenses que não estavam sozinhos, que Portugal não estava a abandonar Timor-Leste e os timorenses outra vez", afirmou à Lusa.
Por último, a ex-diplomata e actual eurodeputada sugere que os deputados portugueses consultem a documentação de 1999 depositada no Ministério dos Negócios Estrangeiros "e que a Assembleia da República poderia pedir para analisar".

José Júlio Pereira Gomes, antes de assumir funções no SIRP, terá de passar por uma audição conjunta das comissões parlamentares de Assuntos Constitucionais e da Defesa Nacional que ainda não está marcada. O PÚBLICO apurou que Ana Gomes se disponibilizou para prestar declarações no âmbito dessas comissões, em carta enviada ao presidente da 1ª comissão, Pedro Bacelar de Vasconcelos. E sugere que se chame mais gente, como os civis que estavam, à época, na sede da missão das Nações Unidas, em Dili, e os elementos do Grupo de Operações Especiais da PSP que estiveram nessa missão.

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