Para que queremos o Ambiente?

A sociedade terá de ser cada vez mais responsável e apta a defender os interesses de um meio natural que é de todos e para todos.

Hoje é o Dia Mundial do Ambiente. Desde há muito se fala de ambiente, mas qual o seu significado para a grande maioria das pessoas? Ambiente, do latim ambiens (que anda em volta de), é entendido como o conjunto de coisas que nos cercam. Para os biólogos, é tudo o que rodeia e afecta a resposta dos organismos vivos, sejam factores físicos — luz, água, temperatura, solo — sejam outros organismos que coabitam no mesmo espaço e que com eles interajam.

A sociedade interpreta o ambiente de forma egocêntrica, como tudo o que afecta o homem, seja no aspecto físico, luz, calor, frio, seja no conforto, bem-estar e meio social. Isto torna o ambiente como uma externalidade, que pode ser rapidamente perceptível e afectiva, se tiver uma consequência directa na vida do cidadão. Ou ser antes um tema impessoal, com uma noção de risco longínqua, que não afecta o imediato da vida de cada um e é ignorado.

De entre os problemas ligados ao ambiente, há uns com “estatuto” e interesse global, como o caso das alterações climáticas e a poluição atmosférica e marinha. A terra, a ocupação e uso do solo, a biodiversidade, não geram preocupação política, embora o seu estatuto possa vir a ser reconhecido depois do lançamento, em 2018, do relatório final produzido pelo Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services. Esta plataforma realça a importância de proteger a biodiversidade, como já tinha sido referido na revisão da Convenção para a Diversidade Biológica em 2011. Desde 2012, a política europeia chama a atenção para a necessidade de se tomarem medidas que impeçam a contínua perda de biodiversidade, especialmente quando está provado que a sua protecção pode contribuir significativamente para a mitigação e adaptação às alterações climáticas.

Um estudo recente publicado na Science, em Outubro de 2016, mostra que se não existirem políticas urgentes e consistentes, a alteração climática vai alterar significativamente e de forma irreversível a paisagem Mediterrânica. Portugal poderia minimizar a aridez do território, que já se faz sentir, com incentivos à reflorestação intensiva com espécies autóctones e de crescimento lento. É tempo de se olhar a “floresta” portuguesa não só como floresta de produção. Mas para isso são necessárias estratégias baseadas no conhecimento dos ecossistemas, da biologia e ecologia das espécies.

Para usar a biodiversidade como estratégia de mitigação das alterações climáticas há que compreender que não são só números ou nomes de espécies que se plantam ou introduzem. Um ecossistema terá de possuir diversidade de características que se complementem, que interagem, assegurando serviços que regulam e estabilizam o ciclo hidrológico, a despoluição da atmosfera e o armazenamento de carbono para compensar as emissões de gases com efeito de estufa. Essas características são dadas pelos microrganismos do solo, pelas plantas e pelos animais que coabitam de forma estável e equilibrada. Se um elo da cadeia falta é uma oportunidade para surgir uma praga, para morrer um animal, para o depauperamento da vegetação. É esta visão holística que deverá estar subjacente a qualquer medida ou estratégia política de reflorestação e que tarda em ser assumida.

Os dados que a Sociedade Portuguesa de Ecologia tem vindo (e vai continuar) a recolher dos sítios LTER (Long Term Ecological Research, www.lterportugal.net) espalhados pelo território nacional e albergando diferentes habitats e microclimas têm permitido o conhecimento científico sobre os ecossistemas, tirando partido da relação com a sociedade envolvente. Nesses locais tem-se estudado, ao longo do tempo, a resposta dos organismos, solo, plantas e animais. A interdisciplinaridade e a modernidade metodológica da abordagem permitem a aquisição de conhecimentos sobre a estrutura dos ecossistemas, a função das espécies, a componente física e humana, incluindo os sistemas sociais e económicos em que se integram. Os dados adquiridos ao longo do tempo vão permitir o desenvolvimento de medidas de gestão, baseadas no modo de interacção entre a natureza, meio físico e biológico, e a sociedade humana. Ou seja, medidas baseadas nos serviços e produtos que os ecossistemas podem trazer ao Homem, gerando sustentabilidade e diversificação económica. São estes conhecimentos que deviam servir de base às futuras políticas de reflorestação, para melhoria significativa da paisagem Mediterrânica, que tanto atrai o turismo.

Isto significa educar os jovens, no modo como olham, tratam e respeitam o ambiente, mas também a sociedade e os decisores e responsáveis políticos, para saberem usar ferramentas e interpretar dados que os investigadores produzem. O lançamento, pelo Ministério do Ambiente, da Estratégia Nacional de Educação Ambiental para o período 2017-2020 merece, pois, ser destacado. Este documento procura enquadrar as políticas ambientais e o compromisso político que o Governo assumiu com a Agenda 2030 das Nações Unidas. As actividades vão privilegiar jovens estudantes mas também a formação a empresários, autarcas, técnicos da administração central e municipal. Esta formação é fundamental ser implementada tendo presente a descentralização dos serviços pelos municípios.

Para que queremos o ambiente? Para nosso conforto e sobrevivência futura. Para isso, a sociedade terá de ser cada vez mais responsável e apta a defender os interesses de um meio natural que é de todos e para todos; e o Estado deverá assegurar as condições que permitam a melhoria da qualidade de vida, individual e colectiva, garantindo os pressupostos básicos de um desenvolvimento sustentado. No fundo, são os princípios básicos da Lei de Bases do Ambiente, lançada há 30 anos.

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