Vinho português é “cada vez mais uma boa alternativa ao francês”

Vender os vinhos portugueses no Brasil passa por saber contar histórias. Mas, com a instabilidade cambial, é preciso também saber fazer contas. Vinhos de Portugal no Rio terminou em clima de optimismo e segue para São Paulo.

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No exterior, para além de uma loja onde se vendiam os vinhos apresentados no mercado, havia uma área de convivência, com um eléctrico 28 do Turismo de Portugal a mostrar Lisboa e Portugal mas também a dar informação complementar sobre os vinhos e as regiões vinícolas. Sibila Lind
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Os brasileiros que durante três dias encheram o mercado de produtores do Vinhos de Portugal no Rio – que terminou domingo a sua quarta edição no Rio de Janeiro e segue no próximo fim-de-semana para São Paulo – já são um público diferente do do passado. “Não chegam ao meu stand pedindo para provar ‘o melhor’. Pedir ‘o melhor’ é sempre mau sinal, significa que não se sabe nada”, diz Domingos Alves de Sousa, que tem estado presente no evento desde a primeira edição.

Agora, Alves de Sousa nota que já pedem um vinho específico, até porque muitos viajam para Portugal e um número considerável já passou pela sua Quinta da Gaivosa, no Douro. Luís Pato, que vem ao Brasil há quase 30 anos, diz exactamente o mesmo: “Nota-se uma grande evolução até desde que este evento começou há quatro anos. As pessoas chegavam aqui e pediam o mais caro. Agora já não fazem isto.”

Luís Pato não tem dúvidas de que uma parte muito significativa dessa evolução tem a ver precisamente com o trabalho feito com o Vinhos de Portugal no Brasil, uma iniciativa dos jornais PÚBLICO, de Portugal, e O Globo, do Brasil, em parceria com a ViniPortugal e que tem entre os patrocinadores no Rio o CasaShopping, centro comercial da Barra da Tijuca onde o evento se realiza.

Os 72 produtores que vieram este ano mostravam-se muito satisfeitos com o balanço dos três dias no Rio. De cada vez que as portas do mercado se abriam para mais uma sessão de duas horas, cerca de 300 pessoas enchiam a sala pegavam um copo e começavam a percorrer o espaço, parando em cada produtor, pedindo para provar os vinhos e fazendo perguntas. No exterior, para além de uma loja onde se vendiam os vinhos apresentados no mercado, havia uma área de convivência, com um eléctrico 28 do Turismo de Portugal a mostrar Lisboa e Portugal mas também a dar informação complementar sobre os vinhos e as regiões vinícolas.

Também as provas e as harmonizações, feitas com os críticos do PÚBLICO e de O Globo e com o Master of Wine brasileiro Dirceu Vianna Júnior estiveram sempre cheias, tal como as conversas informais Tomar um Copo, mais curtas e com a prova de dois vinhos, e despertaram muitas perguntas e um enorme interesse por aprofundar conhecimento sobre as diferentes regiões e a oferta de enoturismo em Portugal.

Há um segredo aqui, revela Luís Pato: saber contar histórias. “As pessoas querem ouvir histórias e tirar fotografias connosco. Vinho são histórias – não estou a falar do vinho comum, mas daquele que tem uma alma por trás”.

Marta Galamba, da Casa Agrícola Alexandre Relvas, no Alentejo, veio precisamente com histórias diferentes para contar. Traz consigo dois vinhos que estarão no mercado brasileiro no final deste mês e que, diz, despertaram grande atenção no evento do Rio. “São duas novidades que aproximaram loucamente as pessoas do nosso stand: o Art.Terra Curtimenta, que é um branco feito como um tinto, e o Art.Terra Amphora, que é feito na talha.”

O mais importante, sublinha Marta, é “descomplicar a mensagem”. Como o público brasileiro se mostra cada vez mais aberto e com interesses diversificados, o que interessa, no caso destes vinhos, é “falar um bocadinho do regresso ao passado, explicar que são tradições milenares, usadas num tempo em que as condições eram completamente diferentes, não havia sistema de controlo de frio, por exemplo”. E quem a ouve “adora fazer essa viagem ao passado”. Quando as pessoas “ouvem falar em mil, dois mil anos, ficam encantadas”.

Está contente porque conseguiu fazer passar a mensagem de que o Curtimenta “não é um rosé, mas sim um branco feito como um tinto”. Depois, acrescenta, são precisos alguns cuidados. “Como os aromas são completamente diferentes, temos que prepará-los para o que vão sentir.”

Também a brasileira Juliana Kelman, que é, com o marido, Rafael, produtora de vinhos no Dão, garante que “as pessoas estão sem dúvida mais conhecedoras e sentem-se à vontade para conversar sobre vinhos num evento dos vinhos de Portugal do que num evento de vinhos de outros países”. Sinal de que estão a ficar mais descontraídas a cada ano que passa.

“O público do Rio já conta com esse evento, faz parte do calendário de lazer dos cariocas”, afirma Juliana. “Reconheço pessoas que vêm desde a primeira edição em que participei, há dois anos. E vem também público novo, este ano o espaço era maior e lotou.” Acredita que muito tem a ver com a “língua e a intimidade histórica” entre portugueses e brasileiros.

Apesar da crise, e “mesmo com a dificuldade em consumir bons vinhos”, o interesse pelo tema não diminuiu, pelo contrário, continua a crescer e “as pessoas continuam a fazer cursos”, garante Juliana. Por isso, embora os seus vinhos estejam a chegar a novos mercados, na Holanda, Bélgica, Alemanha, mas também em breve a Nova Iorque, “o Brasil é um país em que tem que se estar presente independentemente da situação”. Se se “criar relação com os consumidores num momento mais difícil, num que for mais favorável as pessoas vão recorrer à sua marca”. Além disso, “o Brasil está começando a ter uma retomada do consumo de vinho”, pelo que há razões para algum optimismo.

“Existem sinais positivos, a retoma existiu no primeiro quadrimestre de 2017”, confirma Carlos Moura, da Lusovini, que está presente no Brasil com uma empresa própria, a Brasvini. Mas, acrescenta, “por causa da instabilidade política, muitos negócios que estavam para ser concretizados no segundo semestre foram suspensos porque há uma incerteza grande”. O mais importante aqui é a questão cambial. “As pessoas estão à espera que haja uma estabilidade em termos cambiais para que se possam fechar negócios. Se ela existir, a retoma pode voltar.”

O “principal inimigo” do vinho português no Brasil é, acredita Carlos Moura, um consumo per capita muito baixo: apenas dois litros por ano comparado com os 45 litros de Portugal e os 18 em Angola ou nos Estados Unidos. E para inverter isso é preciso acabar com a ideia “de que o vinho é uma coisa de elite e que para se tomar vinho tem que se usar um copo especial”. Tudo isso “cria uma inibição cultural” e eventos como o Vinhos de Portugal no Brasil são fundamentais precisamente para “descomplicar e democratizar o vinho, dizendo que o mais importante não é a casta, a vinificação, a barrica, mas sim se a pessoa se gosta ou não.”

Domingos Alves de Sousa reconhece que existe crise e que ela afecta quase todos os segmentos de consumidores, à excepção dos muito ricos. Mas isso acaba por ter algumas vantagens para Portugal. É que, competitivos em termos de preço, “os vinhos portugueses são cada vez mais uma boa alternativa aos franceses” e “há sinais de que Portugal poderá estar a começar a ultrapassar a Argentina” – o que significaria que os vinhos portugueses passariam para o segundo lugar nas vendas no Brasil, atrás apenas do Chile.

Também Luís Pato nota um aumento num segmento, o espumante, que representa muito pouco, mas que é significativo por surgir como uma alternativa ao champanhe francês. Pesando os prós e os contra, e preparando já as malas para seguir para São Paulo, onde o Vinhos de Portugal no Brasil se vai realizar pela primeira vez (entre os dias 9 e 11 no centro comercial JK Iguatemi), Domingos Alves de Sousa não esconde a satisfação: “Tivemos no Rio o melhor ano de todos”. 

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