Sobre a crise timorense

Pela minha parte, empenhei-me pessoalmente em assegurar que a missão portuguesa seria evacuada o mais rapidamente possível.

A posição do embaixador José Júlio Pereira Gomes durante a crise de Timor foi posta em causa, nomeadamente quanto aos termos da sua intervenção na decisão de evacuar a missão dos observadores portugueses que acompanhou o referendo para a autodeterminação organizado pelas Nações Unidas.

Nessa altura, eu próprio era assessor da Casa Civil do Presidente Jorge Sampaio e, como responsável pela questão de Timor, pude acompanhar esse processo em Lisboa, em contacto permanente com o embaixador Fernando Neves, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, e com o embaixador José Freitas Ferraz, assessor diplomático do primeiro-ministro.

Nesse contexto, quando a missão dos observadores portugueses foi forçada a refugiar-se nas instalações das Nações Unidas em Díli, tinha a obrigação de avaliar as condições de segurança da nossa missão e, para tal, consultei não só o embaixador Pereira Gomes, mas também Ian Martin, o responsável pela missão das Nações Unidas, assim como Taur Matan Ruak, o comandante das Falintil: nenhum deles teve qualquer dúvida em confirmar que não existiam condições mínimas de segurança para os observadores portugueses em Díli.

Desde o primeiro contacto, Ian Martin insistiu em que deviam ser imediatamente evacuados, enquanto o embaixador Pereira Gomes, embora pressionado in loco, quis protelar a decisão de partir até ao último momento. Pela minha parte, empenhei-me pessoalmente em assegurar que a missão portuguesa seria evacuada o mais rapidamente possível e que essa decisão era, como foi, consensual entre os principais responsáveis portugueses, incluindo o Presidente da República.

Devo acrescentar que o embaixador Pereira Gomes teve um comportamento exemplar durante a crise timorense, o que não surpreendeu ninguém, muito menos a mim próprio, que pude acompanhar, a partir de Belém, o seu trabalho ao longo dos anos, não só como um dos diplomatas portugueses que mais se empenhou na defesa dos direitos humanos e do direito de autodeterminação dos timorenses, mas também no exercício das suas funções como secretário de Estado da Defesa.

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