Pastelaria imortalizada por Jorge Amado é uma das lojas que Viana quer preservar

Projecto “Lojas Memória” vai começar com um levantamento das lojas que se destaquem pela "riqueza patrimonial, as memórias associadas ou os próprios produtos que vendem".

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Da convivência com Manuel Natário, Amado acabaria por colher inspiração para uma das personagens do seu romance Tocaia Grande PAULO RICCA / PUBLICO

Uma pastelaria de Viana do Castelo com mais de 70 anos, que o escritor brasileiro Jorge Amado imortalizou em livros, através das bolas de berlim, vai ser preservada pela câmara local, no âmbito do projecto "Lojas Memória", apresentado esta sexta-feira.

"Toda a gente concorda que é preciso manter as bolas de berlim do Manelzinho Natário, mas há ourivesarias com mais de 100 anos e casas comerciais, muito antigas, que dizem muito aos afectos das pessoas", explicou à Lusa, o presidente da Câmara Municipal.

José Maria Costa, que falava a propósito da apresentação pública do projecto "Lojas Memória", adiantou que o objectivo é "preservar a identidade e memória da cidade e do concelho".

"Tal como os centros históricos são a alma das cidades, algumas lojas, antigas, são também a alma do próprio comércio e é preciso preservar, porque isso é que distingue as cidades e os concelhos", especificou.

O autarca socialista adiantou que o projecto vai começar com um levantamento de "todas as lojas com potencial", apontando como exemplos "a riqueza patrimonial, as memórias associadas ou os próprios produtos que vendem".

Feita essa identificação, o município "vai criar um conjunto de instrumentos financeiros e regulamentares que permitam a manutenção dessas casas e a sua valorização, do ponto e vista de marketing territorial".

"Necessitávamos de uma estratégia clara, de instrumentos financeiros e urbanísticos para apoiar não apenas os proprietários como os comerciantes", frisou o autarca, destacando o apoio à manutenção de edifícios ou ao arrendamento dos espaços.

A iniciativa municipal, apresentada publicamente na biblioteca da cidade, "pretende promover a classificação de estabelecimentos comerciais, atribuindo uma identificação distintiva e definindo um conjunto de incentivos e apoios que garantam a dinamização e sustentabilidade económica destas actividades e a protecção e promoção dos estabelecimentos".

O projecto, que conta com o apoio da Associação Empresarial de Viana do Castelo (AEVC) e da Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo (APHORT), destina-se "a estabelecimentos comerciais e unidades de cafetaria, restauração e similares que se destaquem pela sua singularidade, valor patrimonial ou sentimental e pela sua contribuição para a identidade da cidade e qualidade da paisagem urbana de Viana do Castelo".

A classificação vai ser orientada por factores distintivos - lojas que comercializam produtos de excelência, que mantenham a mesma actividade há 50 ou mais anos, que constituam espaços de referência artística ou arquitectónica, que adquiram especial relevância na história da cidade, enquanto lugar de acontecimento histórico, por ser a única resistente num determinado tipo de actividade ou por ser referência na linguagem comum dos residentes - e considera vários parâmetros e critérios de avaliação, associados designadamente ao estabelecimento/actividade e ao património.

O projecto prevê a constituição de um grupo de trabalho que "irá, entre outros, identificar todos os estabelecimentos com enquadramento no projecto e que deverão ser avaliados (todos com mais de 50 anos na área urbana da cidade), efectuar a recolha de dados e documentos pertinentes para a caracterização do comércio, cafetaria e restauração da cidade em geral e dos estabelecimentos seleccionados em particular, definir níveis de classificação e tipos de protecção, considerando o enquadramento legal, a disponibilidade orçamental do programa e os critérios de avaliação, entre outras".

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