Entre 2010 e 2016 foram encontradas 79 novas "drogas" em Portugal

Só em 2017 já foram encontradas pela primeira vez em Portugal mais quatro novas substâncias psicoactivas pelo Laboratório de Polícia Científica. Mutabilidade dos produtos torna a tarefa de identificação num jogo do "gato e do rato".

Foto
As "smartshops" vendiam muitas das novas substâncias psicoactivas Nuno Ferreira Santos

Entre 2006 e 2016 foram encontradas, pela primeira vez em Portugal, 79 novas substâncias psicoactivas (NSP) pelo Laboratório de Polícia Científica (LPC) da Polícia Judiciária, que analisa todo o material suspeito de conter droga. E este número irá aumentar este ano pois entretanto já foram identificadas mais quatro.

Os dados foram divulgados nesta quinta-feira num workshop sobre o tema, organizado em Lisboa no âmbito do protocolo de cooperação entre o LPC, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a Faculdade de Farmácia do Porto e o Instituto Nacional Medicina Legal.  

As NSP são substâncias "que se consideram ter potencialidades psicoactivas", mas que não fazem parte das listagens dos estupefacientes proibidos pelas Nações Unidas, explicou ao PÚBLICO Carlos Farinha, director do LPC da Polícia Judiciária. “São aquelas que provavelmente poderão vir a ser consideradas estupefacientes”, adiantou, e são também mais difíceis de detectar.

Em Março, a tabela da lei de combate à droga incorporou sete NSP que assim passaram a ser consideradas como drogas. Ainda não foram identificados nenhuns laboratórios de produção destas substâncias a nível nacional, embora se saiba que a sua produção é “relativamente básica”, segundo o director do LPC. 

Mais do que um aumento do consumo de NSP em Portugal, o laboratório tem notado “maior produção, maior diversidade, maior disponibilidade do mercado que chega a Portugal”, analisa ao PÚBLICO Maria João Caldeira, chefe de sector do LPC. “Porquê concretamente? Pode ter a ver com a escassez das drogas clássicas, mais curiosidade, recurso de compra segura em casa através da Internet…”, exemplifica.

A maioria vem da China

A mutabilidade dos produtos torna a tarefa de identificação "num jogo do gato e do rato", descreveu. A grande preocupação são as catinonas, canabinóides e opióides sintéticos, originárias da China, o maior produtor de NSP para a Europa, onde aparecem duas novas NSP por semana, disse. Félix Monteiro, da Faculdade de Farmácia do Porto, lembrou que os canabinoides sintéticos, agora também usados em cigarros electrónicos, por exemplo, têm efeitos muito mais perigosos para a saúde do que os naturais.

O LPC recebe mensalmente mais de 800 pedidos de análise no domínio das drogas e da toxicologia, e o tipo de droga que mais aparece é a cannabis, seguida da heroína, da cocaína e das drogas sintéticas onde se incluem as NSP. Dos 10 mil casos que analisaram em 2016, as NSP representaram 0,7%, dado que corresponde a cerca de 70 casos, uma média superior a cinco por mês, disse Maria João Caldeira.  

“Pela sua mutabilidade, pelo seu inesperado, acabam por ser problemas complexos”, completa Carlos Farinha. Apesar do encerramento das lojas conhecidas como smartshops “o fenómeno não desapareceu” e continua a surgir mimetizando os efeitos e o aspecto das drogas clássicas, dizem os analistas. “A Internet continua a ser um meio de venda destas substâncias, mascaradas de incensos ou de produtos químicos para pesquisa e investigação”, explicou Maria João Caldeira. 

Sugerir correcção
Comentar