Florença acaba com piqueniques junto a monumentos

Câmara instala mangueiras para molhar sítios emblemáticos e evitar que os turistas ali permanecam sentados a comer.

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LUSA/MAURIZIO DEGL'INNOCENTI

O presidente da Câmara de Florença, Dario Nardella, é um autarca preocupado com o impacto do turismo sobre a cidade, designadamente o património. Eleito em 2014 pelo Partido Democrático (centro-esquerda), Nardella, de 41 anos, reconhece a importância dos turistas, mas reprova certos comportamentos e presenças e vai daí decidiu instalar mangueiras de água em alguns locais públicos de elevado interesse, para evitar os piqueniques junto de monumentos.

À correspondente em Roma do jornal britânico The Guardian, o autarca da cidade conhecida pelo vasto património cultural e por ser a capital do Renascimento, sublinha que “nem todos os visitantes têm respeito pelos locais”. “Não tenho nada contra os turistas (…), são um importante recurso [de rendimento] para a cidade”. Porém, “muitos deles sentam-se nos degraus das igrejas, onde acabam por comer, deixando lá o lixo”, constata o presidente da câmara.

A ideia, descreve Nardella, é molhar alguns dos locais mais emblemáticos da cidade, por volta da hora de almoço, tentando assim dissuadir os piqueniques. “A maioria dos nossos visitantes respeita e cuidam do espaço. Mas há cada vez mais turistas que não respeitam a nossa herança cultural, que se sentam nas escadarias das nossas igrejas, ali comem e deixam ficar para trás o lixo”, destaca.

A escadaria da Basílica de Santa Cruz – conhecida como “igreja de todos os florentinos” e templo das glórias italianas, por ali terem sido enterrados figuras relevantes como o mestre seiscentista Miguel Ângelo, Galileo Galilei, Nicolau Maquiavelo ou Rossini – e também a da Basílica de Santa Maria do Espírito Santo são os primeiros três locais onde o município tenciona instalar mangueiras para usar nesta estratégia de evitar os piqueniques.

O autarca justifica a medida com os turistas “de um dia”: aqueles que chegam em cruzeiros e que ficam “apenas algumas horas”. “Queremos que as pessoas deixem de acampar [nestes locais]” e, com o uso das mangueiras, “quem se sentar vai ficar molhado”, garante. É uma medida “mais elegante do que aplicar multas”, frisa Nardella, que acredita ser “possível ter turistas na cidade sem perder a alma e a identidade”.

Formado em Direito, Nardella dá aulas de direito dos bens culturais como professor universitário convidado e tem obra publicada sobre direito do património.   

Em 2016, Nardella obrigou que todos os restaurantes locais a utilizarem certos produtos típicos da região, numa tentativa de lutar contra a entrada das grandes cadeias de restauração e fast food no centro de Florença.

Em Novembro desse ano, a cadeia McDonald’s anunciou que iria processar a cidade de Florença e pedir uma indemnização de mais de 17,8 milhões de euros, porque a autarquia recusou um pedido da multinacional, que pretendia abrir um ponto de venda na Piazza del Duomo.

A Itália é um dos países mais visitados do mundo e recebe cerca de 48,5 milhões de turistas internacionais por ano (números do Banco Mundial, relativos a 2015). Florença, por seu lado, recebeu nesse mesmo ano quase cinco milhões de turistas, um crescimento de 10% face ao ano precedente, segundo dados do Euromonitor (pdf). Um resultado que coloca Florença no 36.º lugar da lista das cidades mais visitadas, logo atrás de Los Angeles (Califórnia, EUA), Veneza (Itália), Orlando (Florida, EUA) e Berlim (Alemanha).

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