Parque de estacionamento junto ao centro de Guimarães gera discórdia

O parque de estacionamento vai ser construído num quarteirão junto ao centro histórico da cidade e vai ter lugar para 440 automóveis.

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Quem se opõe à construção questiona a necessidade de mais um parque pago no município Manuel Roberto (arquivo)

A Câmara Municipal de Guimarães aprovou, na passada quinta-feira, dia 25, a proposta de adjudicação da construção de um parque de estacionamento adjacente às ruas de Caldeiroa, Camões e Liberdade. Trata-se de um parque de três pisos e com capacidade de estacionamento para 440 automóveis. Segundo a autarquia, os custos situam-se abaixo dos seis milhões de euros.

Ainda antes, na segunda-feira, foi organizada uma sessão informativa sobre este projecto, no Salão Nobre da Sociedade Martins Sarmento, depois de várias pessoas terem solicitado uma reunião para esclarecimentos. O projecto foi apresentado e a sala dividiu-se nas opiniões.

Segundo a Câmara Municipal de Guimarães o objectivo passa por reabilitar uma área do centro histórico que “se encontra em processo de degradação construtiva e ambiental” e tem uma “forte importância ao nível da imagem urbana”. 

Domingos Bragança, presidente da autarquia, fala na necessidade de “colmatar e substituir o estacionamento automóvel de superfície, hoje efectivamente ocupado e substancialmente concorrido” bem como a importância de revitalizar o comércio. O autarca acrescenta que o projecto surge como resposta ao aumento do fluxo de pessoas que Guimarães tem registado.

Já quem se opõe à construção questiona a necessidade de mais um parque pago no município, quando já existem vários locais de estacionamento junto ao centro histórico, muitos deles com uma baixa taxa de ocupação.

António Amaro das Neves, historiador, considera que existem problemas como “a carência de transportes públicos” que devem ser resolvidos com prioridade. “A partir de certa hora da noite, a maior parte das pessoas que vive no concelho não consegue chegar à cidade. Há falta de transportes públicos e se há dinheiro para mobilidade, para quê investir em estacionamento e porque não investir em montar a cidade com transportes públicos decentes?”, questiona.

As eleições autárquicas estão à porta e, segundo o historiador, influenciam a discussão do projecto, acrescentando que “teria sido muito inteligente e de muito bom senso, já que falta tão pouco tempo para as eleições, deixar passar esse tempo e voltar-se a falar nisto quando a questão política estivesse resolvida”.

Construir num quarteirão

Amaro das Neves acrescenta que, logo no início da sessão informativa, foi dito “que estava tudo resolvido e que não há nada a fazer nem a mudar”. A situação piorou quando, no dia em que a proposta de adjudicação foi aprovada, alguns populares manifestaram o seu desagrado à porta da sede da autarquia.

Já Maria Manuel Oliveira, arquitecta e directora da Escola de Arquitectura da Universidade do Minho, diz que o projecto que está em cima da mesa é “uma construção muito violenta”, pois interferir em centros históricos e no interior de quarteirões é um processo muito delicado.

A arquitecta foi responsável pela requalificação do Largo do Toural e da Alameda de São Dâmaso, que previa a construção de um parque de estacionamento entre a Caldeiroa e Camões. O projecto chegou a ser mencionado na reunião, mas Maria Manuel alerta para o facto de se tratar de uma construção diferente. “O projecto do Toural foi sempre pensado como um parque de proximidade, que servia sobretudo os moradores, porque as casas daquela zona são casas antigas e não têm condições para terem garagens. Mas não era um parque edificado, era uma coisa de superfície, para ter à volta de 120 carros, no máximo, e era um parque permeável, portanto não era uma construção”, defende.

Entretanto, a Câmara Municipal de Guimarães assegurou que a intervenção não vai interferir com a área classificada como património cultural da humanidade, “como comprova a sua aprovação pelas entidades gestoras do espaço, quer interna - divisão do centro histórico - quer externa - Direcção Regional de Cultura do Norte”.

O projecto da construção do parque de estacionamento adjacente às ruas da Caldeiroa, Liberdade e Camões é da responsabilidade da empresa PITÁGORAS. Para a autarquia, o processo tem em vista a libertação do uso de estacionamento de superfície “apenas para estacionamento rotativo de baixa duração, para a pedonalização do espaço urbano ou para um usufruto público mais qualificado”.

Em resposta às críticas sobre a falta de estudos que justifiquem a construção do parque, a Câmara revela que o processo resulta de uma análise “do estacionamento e dinâmica da cidade e da sua actividade e de estudos que foram realizados anteriormente, quer no denominado programa PAGUS, quer no âmbito da revisão do PDM, quer em projectos de intervenção urbana específicos”. 

Texto editado por Tiago Luz Pedro

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