Está em marcha a construção do corredor verde entre Oeiras, Sintra e Amadora

Eixo pedonal e ciclável de 15 quilómetros vai ligar os três concelhos. Parte das empreitadas vão avançar até ao final do ano e dão pretexto aos autarcas para tirarem da gaveta obras complementares de reabilitação de espaços verdes.

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Percursos actualmente abandonados vão ser reabilitados para potenciar o “contacto com a natureza MARGARIDA BASTO

A renaturalização das margens do rio Jamor é um projecto a quatro mãos. As autarquias de Oeiras, Sintra e a Amadora e a Parques de Sintra-Monte da Lua estão na fase final dos projectos para a construção do eixo ecológico que vai ligar os três concelhos. O projecto intermunicipal, que os promotores chamaram Eixo Verde e Azul, foi apresentando em Julho de 2016. Dez meses depois, os projectos estão em cima da mesa.

A criação do eixo ecológico pressupõe a requalificação de 50 hectares e criação de 100 hectares de “novos” espaços verdes ao longo da ribeira de Carenque e do rio Jamor, desde a nascente na Serra de Carregueira, atravessando Belas e Queluz, até à foz na Cruz Quebrada. A reabilitação da área circundante ao Palácio Nacional de Queluz, assente na mesma lógica de criação de percursos pedonais e cicláveis, é outra das metas.

Nos três concelhos, a intervenção pretende aproximar as populações do interior ao litoral, tornando os caminhos mais acessíveis e “encurtando as distâncias entre as pessoas, o Jamor e o Tejo”, explicou o autarca de Oeiras, Paulo Vistas. O incremento da mobilidade suave (a pé ou de bicicleta) norteia a intervenção. Para isso, vão ser criados quase 15 quilómetros de percurso pedonal e ciclável, 7,3 quilómetros dos quais no concelho de Sintra.

No total, vão ser investidos 11,3 milhões de euros. O maior montante (8 milhões) pela Câmara de Sintra, explicou ao PÚBLICO a autarquia. Em Oeiras, onde vão ser intervencionados 7,4 quilómetros, a autarquia vai alocar 3,1 milhões de euros ao projecto – dos quais 670 mil euros provêem de fundos comunitários. 

O corredor verde de Queluz

Às portas do Palácio Nacional de Queluz o estacionamento não tem regras e o pavimento é irregular. A estrada atravessa o terreiro uns metros mais à frente. “Esta é uma desorganização que vai desaparecer”, explicou ao PÚBLICO João Sousa Rego, responsável pelo projecto na Parques de Sintra, numa visita ao local. O estacionamento vai ser organizado junto à pousada e grande parte do terreiro entre o palácio e o Regimento de Artilharia vai ser pedonal.

“A intenção do projecto é dar [ao palácio] uma nova função do ponto de vista urbanístico, permitindo que o terreiro seja uma zona de passeio e usufruto da população”, justificou o responsável. A intenção é reposicionar o palácio, em tempos importante centro político, como “centro cultural de referência”. Numa intervenção que vai custar 3,9 milhões de euros.

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Projecto de reabilitação do terreiro do Palácio Nacional de Queluz Sara Matos

A dois passos deste terreiro, um muro improvisado de betão separa o IC19 de uma estrada sem saída, junto a um dos portões laterais do palácio. “É um espaço que sobrou das obras do IC19 e ficou por resolver”, nas margens da ribeira de Carenque. É nesta azinhaga que vai assentar a “ponte verde” pedonal e ciclável sobre a via rápida, ligando à outra margem – à Matinha de Queluz e quintas envolventes.

Nas margens da ribeira e envolvente da ponte, vai nascer um espaço verde a ligar os jardins do Palácio de Queluz ao terreiro e à Quinta Nova, a Este, e ao Parque Urbano Felício Loureiro, a Oeste, um investimento de 4,4 milhões de euros.

A ideia é tornar o percurso, actualmente abandonado e favorito para o depósito de lixo, numa “zona de privilegiada de contacto com a natureza e de usufruto de quem mora e visita Queluz”, reforçou João Sousa Rego. As obras vão incluir uma zona de protecção do ruído provocado pelo trânsito de uma das vias mais movimentadas do país.

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Projecto da "ponte verde" sobre a IC19 Jorge Cancela/Biodesign

Nas traseiras do palácio, “há um terreno que populações e visitantes desconhecem” em vias de se tornar num novo parque urbano. O Outeiro das Forcadas, actualmente um descampado paredes meias com os muros do palácio, vai ser transformado num jardim público, criando “uma nova centralidade” em Queluz, prevê o responsável da Parques de Sintra.

A explicação de João Sousa Rego descreve os dois projectos vencedores do concurso de ideias lançados pela Parques de Sintra e a autarquia: o projecto da “ponte verde” do arquitecto Jorge Cancela, da Biodesign, e a intervenção no terreiro do palácio da arquitecta Sara Matos, obras que devem arrancar dentro de um ano.

Obras saem da gaveta

Em Oeiras, as obras do eixo devem estar concluídas no primeiro semestre de 2018, prevê o autarca. Tudo depende do concurso público a decorrer. Paulo Vistas, que já enfrentou uma providência cautelar para travar a construção do empreendimento Porto Cruz na margem do rio Jamor, acredita que esta obra “vai andar rapidamente, pois reúne total consenso entre as diversas forças políticas e associações do concelho”.

Já na Amadora, onde a intervenção é mais pequena, a autarquia espera a autorização do Chefe de Estado Maior das Forças Armadas para demolir um muro na fronteira com Sintra, propriedade do Exército, e aí construir um parque de estacionamento, reforçar o arborização e criar um corredor verde de ligação aos percursos do concelho vizinho. Obra estará completa “ainda este ano”, garantiu a autarca Carla Tavares.

Em linha com os objectivos de sustentabilidade ambiental e promoção da mobilidade suave, os municípios põem em marcha projectos complementares que já tinham na gaveta. Em Oeiras, o projecto do Eixo Verde e Azul “cai dentro do plano municipal estratégico que assenta na mesma lógica”, apontou o autarca. Vistas refere-se ao plano a 15 anos para a requalificação dos cinco percursos de água do concelho: rio Jamor e as ribeiras de Algés, Barcarena, Porto Salvo e Laje.

Em Sintra, a criação do Parque Municipal Florestal da Serra da Carregueira lidera as prioridades do município. Com 195 hectares ao longo do troço superior da Ribeira de Belas, o parque tem um custo de construção de cerca de 10,3 milhões de euros, a ser feita em cinco etapas. A primeira das quais, com 24,7 hectares junto ao aglomerado de Belas, arranca até ao final do ano. Avança a primeira tranche de 1,8 milhões.

A autarquia vai ainda alocar 1,2 milhões de euros para obras de controlo de cheias na ribeira de Carenque. Está em causa a criação de uma bacia de retenção na Quinta Nova e uma estrutura de retenção de material sólido junto ao Parque Urbano Felício Loureiro. Obras, a cargo da Parques de Sintra, que devem avançar “nos próximos meses”. “Em boa altura se vão conter as cheias cíclicas na Bacia Hidrográfica do Rio Jamor”, nota João Sousa Rego.

 

Notícia corrigida a 02/06/2017: Foz do Rio Jamor na Cruz Quebrada, não em Caxias, como anteriormente indicado.

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