Oposição prepara escalada dos protestos contra Maduro

Travar a realização da assembleia constituinte proposta pelo Presidente é o objectivo imediato.

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Oposição diz que a repressão não impedirá os manifestantes de sair à rua LUSA/MAURICIO DUENAS

A oposição ao regime do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, continua a sentir-se em várias frentes, com a mobilização nacional e internacional a ter como objectivo imediato a suspensão do processo proposto pelo chefe de Estado para alterar a Constituição, através da convocatória de uma assembleia constituinte antes da realização de novas eleições.

Depois de mais uma jornada de protestos marcada pelos confrontos com as autoridades, os dirigentes da Mesa da Unidade Democrática (MUD), a coligação que domina a Assembleia Nacional, apelou a um “reforço dos movimentos de oposição” para impedir a posse de uma assembleia constituinte “fraudulenta”, que de acordo com o vice-presidente do parlamento, Freddy Guevara, representaria “o fim da democracia no país”.

Em declarações à agência France Press, o rival eleitoral de Nicolás Maduro nas últimas presidenciais, Henrique Capriles, confirmou que a oposição está a discutir propostas para uma escalada contra o Governo, que poderá passar por paragens no trabalho ou piquetes de greve nas ruas.

Capriles, que foi agredido e assaltado por membros da Guarda Bolivariana durante uma marcha até ao centro de Caracas na segunda-feira, garantiu que apesar do forte dispositivo policial, com canhões de água, gás lacrimogéneo e balas de borracha, os protestos vão continuar na capital do país: para esta terça-feira estava marcada uma concentração em frente ao ministério do Interior e Justiça, “contra a repressão e impunidade”.

Além dos protestos em Caracas, a oposição venezuelana também convocou a diáspora nos Estados Unidos a manifestar-se em frente da sede do banco Goldman Sachs, que segundo revelou o jornal The Wall Street Journal acaba de investir em obrigações da petrolífera estatal PDVSA, que, apesar do seu valor de mercado de 2,8 mil milhões de dólares, foram vendidas com um desconto substancial (31 cêntimos por dólar), num total de 865 milhões de dólares.

Segundo denunciou o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges, ao investir em papel emitido pelo Governo venezuelano, o banco norte-americano forneceu a Caracas uma “bóia de salvação” financeira que, em vez de ser utilizada para aliviar a escassez, vai permitir alimentar a máquina de repressão de Nicolás Maduro. Um porta-voz do Goldman Sachs esclareceu que as obrigações, emitidas em 2014, foram adquiridas no mercado secundário através de um intermediário e não directamente ao Governo de Caracas. E justificou o investimento, dizendo que “apesar de a situação actual na Venezuela ser complexa”, o banco acredita que “a crise no país acabará por melhorar com o passar do tempo”.

A preocupação com a reforma da Constituição já chegou ao seio da Organização de Estados Americanos, o fórum diplomático regional que tem vindo a denunciar uma suposta deriva autoritária do Presidente Nicolás Maduro, e do qual a Venezuela pretende desvincular-se. Os Estados-membros vão debater, na reunião do conselho permanente desta quarta-feira, dois projectos de resolução, subscritos pelos representantes do Canadá, Estados Unidos, México, Panamá, Peru e pelo arquipélago de Antígua e Barbuda, que apelam ao “cancelamento da convocatória de uma Assembleia Nacional Constituinte nos termos em que está concebida”, bem como à suspensão do julgamento de civis em tribunais militares e ao “retorno imediato da normalidade das relações políticas” – incluindo a libertação de presos políticos e a adopção de um calendário eleitoral.

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