Google paga menos a mulheres do que aos homens? É demasiado caro sabê-lo, diz a empresa

Autoridades norte-americanas pediram provas em tribunal, mas a multinacional recusa recolher dados e fala em "abuso de poder".

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Não é a primeira vez que o Departamento do Trabalho dos EUA leva uma tecnológica a tribunal LUSA/FILIP SINGER

No início do ano, o Google foi acusado nos EUA de pagar menos às mulheres do que aos homens que trabalham na empresa. Depois de as acusações terem sido negadas em tribunal, as autoridades norte-americanas pediram à multinacional que apresentasse de documentos mais detalhados sobre os salários dos seus funcionários. O Google, que partilhou alguma dessa informação em tribunal, recusa recolher dados mais finos — diz que fazê-lo fica demasiado dispendioso.

Uma das advogadas da multinacional, Lisa Barnett Sween, disse ao Guardian que é “obviamente moroso e dispendioso” compilar a informação solicitada.

Durante uma audiência em tribunal no início do mês, os representantes do Google avançaram que essa recolha e esse tratamento de dados implicariam 500 horas de trabalho e um investimento de 100 mil dólares. Contudo, Barnett Sween alega que a empresa já dedicou 2300 horas e desembolsou quase 500 mil dólares para responder, ainda que parcialmente, às exigências das autoridades norte-americanas, que considera inconstitucionais. “Os nossos tribunais devem verificar este abuso de poder”, conclui a advogada de defesa.

Em resposta, a procuradora Ian Eliasoph diz, por sua vez, que “esta afirmação [de Sween] requer pôr a cabeça na areia no que diz respeito a 30 anos de lei sobre a discriminação salarial”. E acrescenta que “o Google seria capaz de absorver os custos tão facilmente como uma esponja de cozinha poderia absorver uma única gota de água”.

O caso chegou à barra de um tribunal de São Francisco em Abril, poucos meses depois de as acusações virem a público, o que aconteceu em Janeiro. “Encontrámos disparidades nas remunerações das mulheres em praticamente toda a empresa”, disse Janette Wipper, uma directora regional do Departamento do Trabalho dos EUA, em tribunal.

Em declarações ao Guardian, na altura em que o caso chegou a tribunal, a empresa negou as acusações e sublinhou que não encontrou disparidades salariais nas análises que, todos os anos, são feitas à remuneração dos funcionários.

As autoridades norte-americanas exigiram à empresa que fornecesse o histórico de salários e informações gerais sobre os funcionários que lá trabalham — como o nome e o contacto. No entanto, a multinacional recusou-se a ceder essa informação. Segundo o Departamento do Trabalho, esta postura do Google rompe com as suas obrigações legais para com o Estado — a quem a empresa tem a obrigação de fazer chegar qualquer informação solicitada acerca da sua conformidade salarial.

Aquela que é uma das maiores e mais poderosas empresas do mundo publicou recentemente, no Twitter, um documento com sugestões para combater as disparidades salariais, afirmando que é essa a prática da do Google.

Esta não é a primeira vez que uma tecnológica é levada a tribunal por incumprimento de boas práticas laborais. Em Setembro de 2016, a Palantir, uma empresa de análise de dados de Palo Alto, foi acusada de ter discriminado candidatos asiáticos no processo de recrutamento. Já em Janeiro, a empresa Oracle era acusada de pagar mais a homens brancos. Agora, é o Google. Caso a empresa continue a recusar fornecer a informação exigida, o Departamento do Trabalho dos EUA ameaça pedir a nulidade de todos os contratos federais celebrados com a empresa e bloquear futuros negócios com o Estado.

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