Os empregos estão acabados e o design agradece?

O conceito de empresa, de corporação, de emprego está a desvanecer-se. Diria eu que está a desaparecer. Diria ainda mais: está arruinado.

A definição de design passa obrigatoriamente por futurologia. Esta futurologia é nada mais nada menos que a capacidade de prever, projectar, antever um futuro fabricado.

E esta capacidade de mostrar o inexistente é no mínimo admirável.

Estes profissionais, onde me incluo, estes “makers”, “doers”, “criativos exasperados” que mostram o inexistente, tornam-se eles próprios proprietários de uma profissão que não existe. Vai existindo, subsistindo. Adapta-se, transforma-se e apropria-se. Flexibiliza-se e reinventa-se constantemente ao sabor dos anos que vão passando.

Estes profissionais já não fabricam só o mundo material. O seu mundo vai-se alterando na medida em que o seu propósito muda também.

E o propósito do mundo da indústria e dos serviços, o propósito do mundo empresarial está a mudar. Ou melhor, já mudou e está a mudar ao ritmo da escrita destas linhas.

O conceito de empresa, de corporação, de emprego está a desvanecer-se. Diria eu que está a desaparecer. Diria ainda mais: está arruinado!

Estamos num tempo em que já ninguém procura um emprego, muito menos nós designers. Já ninguém quer ou tem um emprego para a vida. Já ninguém quer a mesma cadeira e a mesma secretária para um bom par de anos. Estamos num tempo em que nós não queremos fazer sempre a mesma coisa, desempenhar sempre a mesma tarefa. Não queremos as ser as mesmas pessoas. Não queremos as mesmas realidades. E ainda bem que elas mudam!

Os designers começaram por ser criadores, alguns passaram a formadores e depois “speakers”, consultores e agora são estrategas. Passaram de criadores a analistas e de analistas a empreendedores.

Ao empreender estão fortemente ligados a esta ideia de criação de novas realidades, criação de novas experiências de emprego, criação de novos cenários.

Organizações como a Uber ou a Uniplaces dizem-nos que o cenário do mundo empresarial está a mudar. Está a mudar não, já mudou.

As opções laborais de um designer já não se reduzem aos ateliers e às agências. São independentes. São livres. Trabalham por projecto e em ambiente peer-to-peer. E esta realidade já se estende também a outras, senão mesmo, a muitas profissões.

O mundo do trabalho, o mundo empresarial está ainda a aprender como incluir os nómadas nas suas realidades. E o designer sobressai claramente nesta realidade.

Esta realidade opera em espaços novos, em espaços vivos. São espaços adaptados, mas com novos perfis. Novos perfis que se insurgem de perfis antigos. Os espaços novos podem ser o que quisermos e onde quisermos. Se é onde quisermos, não é claramente no tradicional espaço empresarial e corporativo.

As empresas estão a morrer? Não.

Mas estão claramente a reinventar-se.

E o design? Está a mudar?

Sim. Como sempre e desde sempre.

Atrevo-me a dizer que nós designers, somos uma espécie de empreendedores românticos que promovemos constantemente a nossa reinvenção semântica no seio da decadência do corporativismo.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários