A sombra de Portas ainda paira no CDS

O antigo líder do CDS despediu-se da vida política pública há um ano, mas fala regularmente com dirigentes e é ouvido no partido.

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A influência de Paulo Portas sobre o CDS mantém-se Enric Vives-Rubio

Faz na próxima sexta-feira um ano que Paulo Portas se despediu do Parlamento para se dedicar a projectos profissionais. Mas fez um corte total com o CDS? Não, longe disso. Várias fontes contactadas pelo PÚBLICO asseguram que o ex-líder fala regularmente com dirigentes e que está atento a tudo o que se passa no partido que liderou durante 16 anos.

“Ele está muito bem informado sobre o que se passa no CDS”, garante uma fonte centrista que não quis ser identificada. Paulo Portas é ouvido, é respeitado e o que diz é tido em consideração pelos centristas. Há dirigentes assumem que falam regularmente com o antigo líder, mas garantem que não é sobre política nacional. Outros confessam que a actualidade política e partidária é tema de conversa apesar das viagens muito frequentes de Paulo Portas ao estrangeiro por motivos profissionais.

No momento em que Portas se despedia do CDS, Assunção Cristas era questionada sobre qual seria o papel do seu antecessor e respondia que esperava que Portas pudesse “ajudar com o seu conselho”. Isso mesmo tem acontecido em ocasiões esporádicas, apurou o PÚBLICO. Já no momento em que preparava a sua saída do partido, Paulo Portas incentivou a sua sucessora a ser candidata à Câmara de Lisboa. Assunção não fez o anúncio no congresso da sua eleição, em Março de 2013, mas deu um sinal nesse sentido.

Depois de um afastamento nos primeiros meses após o abandono da vida partidária e parlamentar, o ex-líder reaproximou-se de dirigentes de forma mais intensa.

Nos últimos meses, depois de Paulo Portas ter abandonado o CDS, o partido tem assistido a um reaparecimento do antigo líder do CDS, Manuel Monteiro, a convite de uma nova tendência que está a ser criada no partido e que se identifica como um movimento das bases. É conhecida a ruptura entre os dois há muitos anos.

Depois de ter abandonado a presidência do CDS e de ter anunciado que iria ser consultor da Mota-Engil, Portas viu o trabalho do seu consulado ser colocado em dúvida por Assunção Cristas. Em entrevista ao PÚBLICO, em Março deste ano, a líder do CDS foi questionada sobre a diferença entre o CDS de Portas e o actual e disse que trabalhou intensamente os temas. E Portas? “Não sei se fazia assim tanto. Não tanto. Teve momentos”, afirmou, acrescentando que “pensando num ano de trabalho deve ser difícil encontrar anos tão produtivos quanto este”. A declaração caiu mal no partido e os centristas acreditam que o próprio também não terá gostado.

Paulo Portas tem evitado aparecer em iniciativas do CDS ou associadas ao partido. A única excepção – e para falar de política internacional – foi a participação na escola de quadros em Setembro do ano passado. Também esteve disponível para uma sessão de formação de jovens centristas, realizada na sede do partido, a convite do director do gabinete de estudos, Diogo Feio. Em Fevereiro deste ano, o antigo líder do CDS acompanhou Assunção Cristas ao congresso do Partido Popular espanhol.

O PÚBLICO contactou Paulo Portas que não quis prestar declarações. Conhecido por ser workaholic (viciado em trabalho), o antigo líder do CDS faz por ter uma vida profissional activa. É do conselho consultivo e estratégico da Mota Engil para a América Latina, é vice-presidente da câmara de comércio, dá um MBA sobre Geo Economics e International Relations (na Universidade Nova e no Golfo), faz parte da holding internacional da Pemex (petrolífera mexicana), criou a empresa de consultadoria Vinciamo, dá conferências (em Portugal foi orador sobre globalização na Universidade Católica) e fez comentários sobre política internacional na TVI, nomeadamente sobre eleições norte-americanas e francesas. O programa semanal que estava a ser preparado nesta estação, para o antigo vice-primeiro-ministro, ainda não arrancou.

“Não é uma despedida”

Em 2005, depois de oito anos de liderança do CDS e após uma derrota nas legislativas, Portas demitiu-se do cargo e saiu da vida política. Foi substituído na presidência do partido por José Ribeiro e Castro durante dois anos até que decidiu regressar em 2007. Levou o partido a votos nas legislativas de 2009 e depois em 2011 onde formou uma aliança de Governo com o PSD liderado por Passos Coelho. Foi ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros até à crise política do “irrevogável”, em Julho de 2013, e depois vice-primeiro-ministro até 2015. Quando a coligação PSD/CDS venceu as legislativas de 2015, Portas preparava-se para mais dois anos na vida política e pensava em sair num processo ponderado. Mas os dois partidos não conseguiram uma solução de Governo com apoio parlamentar, o que precipitou a sua saída do partido no final de 2015. Logo nessa altura, o antigo ministro da Economia e figura muito próxima de Paulo Portas, António Pires de Lima, comentava que o então líder do CDS é um “animal político” e que a sua saída “não é uma despedida da política”. Ao Expresso, Pires de Lima garantia que “Portas é uma pessoa jovem e que ainda tem muito a dar à vida pública do país”.

Na mira do ex-líder do CDS, que tem agora 53 anos, podem estar as eleições presidenciais de 2026, no caso de Marcelo Rebelo de Sousa se candidatar e cumprir um segundo mandato. Até lá, se for essa a vontade, Paulo Portas terá de gerir a sua vida pública.

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