Há uma vaga de estrangeiros a aterrar no Porto para fazer negócio

Estão a fixar-se na cidade nortenha já três vezes premiada como melhor destino europeu. Mas não para vestir a pele de turista. Eles estão a criar negócios

Paulo Ricca
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Uma recente vaga de estrangeiros chegou ao Porto não para fazer turismo, mas para fixar residência, criar o próprio negócio e usufruir da segurança, das tradições e do crescimento económico numa cidade premiada três vezes como melhor destino europeu.

O Porto foi eleito melhor destino europeu em 2012, 2014 e 2017 e a "avalancha" de turistas é um facto, atingindo quase 6,9 milhões de dormidas. Mas, nos últimos meses, a cidade tem registado uma nova tendência com a chegada de estrangeiros que não querem fazer turismo, mas antes pretendem realizar o sonho de viver numa cidade segura, que une tradição e contemporaneidade e que também está na moda por proporcionar crescimento económico a quem for empreendedor, explicou à Lusa Maria Kulagina, uma russa que abriu um estabelecimento comercial há cinco meses na típica Rua das Taipas, onde serve pequenos-almoços saudáveis e aluga bicicletas.

"Quando pensámos numa cidade para estabelecer o nosso negócio, pensámos em primeiro lugar no Porto. O Porto está a crescer, isso vê-se. Ganharam o título para melhor destino europeu, também têm muitas companhias aéreas que asseguram bilhetes baratos de outras cidades europeias", enumera Maria Kulagina, 26 anos, uma antiga relações públicas que aterrou no Porto em Dezembro passado com o seu marido Alexey Mikhaylov, 34 anos, ex-director financeiro, para abrir o Hungry Biker.

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Adriano Miranda

Depois de palmilharem Portugal de lés-a-lés, a escolha recaiu no Porto, por causa da "atmosfera", pelo "espírito aberto das pessoas" e "autenticidade" e, porque as pessoas têm os "olhos postos no futuro, mas não se esquecem das suas tradições", explica o casal russo. Maria e Alexey deixaram Yekaterinburg, cidade entre a Ásia e Europa, a dois mil quilómetros de Moscovo, e destacam que encontraram no Porto pessoas amigas de ajudar, que "não se escondem atrás de muros".

O casal brasileiro Felipe Sales, 39 anos, informático, a mulher, Daniela Sales, 40 anos, e o filho de cinco anos também imigraram para o Porto há cerca de um ano, deixando para trás o Rio de Janeiro, a violência e a crise económica sentida no seu país natal. Abriram dois negócios. Uma marca brasileira de joias e uma marca de acessórios para telemóveis. "Viemos em busca de uma vida mais tranquila, com mais segurança e uma vida melhor para o nosso filho", resume Daniela Sales, destacando que o Porto tem um bom clima, uma gastronomia interessante e "muito boa" mobilidade urbana.

"Para a gente a adaptação foi muito fácil", conta Felipe Sales, considerando ainda que aquela imagem que se fala dos portugueses serem "maldispostos" e "mal-humorados" e que "tratavam mal os estrangeiros" não foi vivenciada, pelo menos para já. "Agora só de férias volto ao Brasil, porque a situação está complicada em termos económicos, políticos e de segurança", assume o casal brasileiro.

A alemã Svenja Specht, designer de moda, arrendou uma casa no Porto há dois anos com o seu companheiro, Yoske Nishiumi, natural de Tóquio (Japão), e mudou a sede da sua empresa Reality Studio, em Berlim, para um primeiro andar de um edifício da Baixa portuense.

Entretanto o japonês Yoske Nishiumi decidiu também abrir o seu próprio negócio e apostou numa loja conceptual com produtos japoneses, alemães e portugueses no centro da cidade, nas Galerias Lumiére, onde 70% dos clientes são portugueses. Amigos da cena musical que faziam intercâmbios entre Porto e Berlim e amigos do estúdio Colönia - arte e design - foram alguns dos responsáveis por apresentarem a cidade do Porto ao casal Svenja e Yoske, que a visitou pela primeira vez em 2011. O facto de Portugal ser famoso pela tradição dos sapatos e pelas fábricas de têxteis foi o principal motivo para o casal germano japonês decidir imigrar para o Porto em busca de empreender nos negócios. A par da indústria têxtil e do calçado, a tranquilidade, a meteorologia, os vinhos, o peixe, e a autenticidade nas pessoas e o seu carinho ajudaram na escolha, contou Svenja Specht.

"Achámos o Porto uma cidade muito acolhedora, muito aberta às novidades. O Porto é perfeito. A comida é extraordinária. Tudo é tão fresco, da época e por isso muito natural e saboroso", considerou Yoske, que confessou também estar deliciado com as aulas de português que tem tido duas vezes por semana com um professor que se desloca a sua casa. A arquitecta Yeliz Cenesiz, 41 anos, e o marido Alper Cenesiz, 44 anos, naturais de Istambul, na Turquia, também escolheram o Porto para viver e criar o filho que hoje tem nove anos, elegendo a vida tranquila, o bom clima e a segurança como as grandes qualidades da cidade. Depois de visitarem Portugal numas férias quando estava grávida, o casal ficou com o Porto debaixo de olho como uma opção para viver no futuro e quando houve uma vaga na Faculdade de Economia da Universidade do Porto para Alper Cenesiz, o casal optou por imigrar para o Porto.

Yeliz, que actualmente tem um negócio de roupa feita em Portugal e Espanha, conta que o que mais gosta no Porto é a "vida tranquila" e a "segurança", porque em Istambul há "muitas coisas más", "roubos com violência" e é "muito cosmopolita com mais de 15 milhões de pessoas", "difícil para estacionar", sendo "tudo muito complicado e cansativo".

Para o casal turco, que mora na Avenida da Boavista, a cidade do Porto tem o "bom dos mundos" e, por isso, pensam nunca mais sair da cidade, onde até já compraram apartamento. Todos os casais, que unidos pelo amor, vieram viver e trabalhar para o Porto gostariam de ficar a viver durante longos anos naquela cidade do Norte de Portugal.

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