Divisões profundas também no G7

O proteccionismo e o acordo de Paris isolam o Presidente americano.

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LUSA/ROBERT GHEMENT

Na Cimeira da NATO, Emmanuel Macron insistiu com Trump para não abandonar o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas. Angela Merkel disse que lhe ia explicar como se abria um novo ramo de negócios, que não seria incompatível com o crescimento. Jean-Claude Juncker e Donald Tusk trouxeram o assunto para o encontro com Donald Trump, em Bruxelas. Mas ninguém tem ainda certezas sobre qual será a posição final do Presidente norte-americano sobre um acordo que abrange praticamente todos os países do mundo, mas que prometeu não cumprir. Chegou a considerá-lo como uma “conspiração” da China para minar a economia americana. Já evoluiu.

O Acordo de Paris será um dos pratos fortes da cimeira do G7 que começa nesta sexta-feira, na Sicília, Itália. Nesta quinta-feira, o Financial Times anunciava um esforço conjunto de Merkel e de Macron para tentar convencer o Presidente a aceitar o Acordo de Paris, lembrando que resultou de um esforço tremendo e que engloba praticamente todos os países do mundo, incluindo a China, que é hoje o maior poluidor mundial, um pouco à frente dos EUA. “Toda a gente vai tentar empurrar os Estados Unidos na mesma direcção”, diz o FT citando uma fonte diplomática francesa.

Há dois pontos fundamentais da agenda em que ainda não foi possível encontrar um acordo para a redacção do comunicado final: as alterações climáticas e o proteccionismo. Quanto ao segundo ponto, fundamental para os países europeus ou para o Japão, a defesa do livre comércio foi quase sempre consensual entre os países mais desenvolvidos do mundo. Provavelmente não estará, pelo menos em termos taxativos, no comunicado desta cimeira.

A delegação americana continua a não querer uma menção específica à liberdade de comércio. Vai ser outra batalha de todos contra Trump. O Presidente americano, como é sabido, já renunciou à Parceria Transpacífica de Comércio Livre, negociada por Obama com 11 países da região, abrindo espaço à China para ocupar o lugar de defensora do comércio livre. O TTIP, um amplo acordo de comércio e de investimento entre os EUA e a União Europeia para criar uma gigantesca área de comércio livre, foi congelado. A NAFTA, com o México e o Canadá, vai sofrer uma total renegociação. A OMC não interessa ao Presidente Trump.

Mas há mais, nesta mudança de 180 graus da política económica americana. Trump quer penalizar as empresas americanas que invistam no estrangeiro, admite o aumento de tarifas alfandegárias para certos países, com a China à cabeça, quer acabar com os gigantescos excedentes externos da Alemanha e do Japão. O tema foi debatido no encontro com Donald Tusk e Jean-Claude Juncker. O presidente da Comissão anunciou a criação de um grupo de trabalho para aproximar posições. Há alguma confiança em Bruxelas de que o TTIP ainda pode ser ressuscitado. Mas nenhuma certeza.

Há igualmente uma dimensão política na reunião das democracias mais ricas do mundo. O primeiro-ministro japonês quer debater a Coreia do Norte com os seus parceiros e a Síria estará igualmente na agenda. Mas aí, provavelmente, as divisões não serão tantas. O G7 já foi o G8, por iniciativa de Clinton, que convidou a Rússia a fazer parte, quando se acreditava que o seu caminho era para o Ocidente. A crise ucraniana levou à sua suspensão definitiva.

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