Temer na porta dos fundos

Não há memória, no Brasil, de uma crise tão devastadora da credibilidade dos agentes políticos.

Michel Temer é acusado de impedir o avanço das investigações da operação Lava-Jato, sugerindo delegados alegadamente corruptos para a condução das mesmas. Suspeita-se, ainda, que o presidente tenha cometido os crimes de corrupção passiva e organização criminosa. Não há memória, no Brasil, de uma crise tão devastadora da credibilidade dos agentes políticos. Só o voto popular poderá alterar a situação e resgatar a dinâmica democrática mas, para isso, é urgente retirar poder ao Congresso e restitui-lo ao cidadão.

Num país onde são os pobres que pagam mais impostos, onde cresceu para 14 milhões o número de desempregados e as reformas do Estado são constantemente adiadas pelos oportunismos dos lobbies, o sistema eleitoral não serve os interesses dos brasileiros e muitos já veem na ocupação das ruas a solução para a reivindicação de uma reforma que tivera como precursor, no passado, Tancredo Neves.

O movimento pelas diretas teve já um papel determinante na redemocratização do Brasil, nomeadamente quando em 1985 foi restaurado o poder civil, quando em 1988 foi aprovada a nova Constituição Federal e quando em 1989 foram realizadas eleições diretas para eleger Collor de Mello. O problema é que o sistema presidencialista também está falido no Brasil e, mesmo que o TSE antecipe eleições gerais após a queda de Temer, a rutura democrática será um dado adquirido após a luta polarizada entre Lula e o conservador alternativo Bolsonaro, ambos também alegadamente envolvidos no caso Lava Jato.

Com exceção de um ligeiro crescimento da economia brasileira, as políticas vão-se mantendo inalteradas. Aliás, com Temer o Congresso tem votado praticamente as mesmas ações do Governo de Dilma, tendo sido inclusivamente agravadas medidas contra os apoios sociais e os trabalhadores.

O grito da revolta popular pode aqui ser determinante para, mais uma vez, se conseguir alterar o rumo dos acontecimentos — e espera-se que seja suficientemente estridente para que isso aconteça. Resta agora a Temer sair pela porta dos fundos.

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