Informação revelada por EUA e França pode estar a prejudicar investigação britânica

A identidade do autor do atentado foi avançada pelos serviços norte-americanos, citando informação britânica. Esta quarta-feira foi um ministro francês quem revelou pormenores sobre o autor do atentado.

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Amber Rudd é a ministra do Interior britânica Reuters/TOBY MELVILLE

O nome do autor do atentado terrorista que esta segunda-feira matou 22 pessoas em Manchester começou a circular a meio da tarde de terça-feira, numa informação avançada pela Associated Press. Apesar de a agência noticiosa citar como fonte as autoridades britânicas, a informação terá sido revelada pelos serviços norte-americanos. A decisão não foi bem recebida no Reino Unido. A ministra do Interior britânica, Amber Rudd, considerou a "intervenção" de Washington "irritante". Horas depois, emergiram novos detalhes sobre o autor do atentado, citando informação dos serviços britânicos. Novamente, não eram as autoridades do Reino Unido que os partilhavam, mas o ministro do Interior francês.

Os pormenores sobre identidade do autor surgiram depois de a polícia de Manchester ter alertado para que não se especulasse sobre a identidade do responsável e antes de avançar com a sua primeira detenção. Até àquele momento, a polícia britânica havia apenas publicado um comunicado em que informava que o autor tinha morrido durante o ataque, sem o identificar, para que os serviços britânicos pudessem trabalhar na investigação.

A rápida partilha do nome do autor, avançada pelos EUA às agências de notícias e aos media, forçou a polícia britânica a confirmar os detalhes da sua identidade.

A revelação por parte dos Estados Unidos do autor de um ataque terrorista em solo britânico e contra a vontade das autoridades do Reino Unido poderá ter prejudicado a investigação, aponta o Business Insider.

Ainda na terça-feira, o porta-voz da primeira-ministra britânica foi questionado sobre a informação partilhada pelos Estados Unidos — e recusou-se a comentar “fugas de informação”, adiando a confirmação oficial para uma declaração da polícia de Manchester, que ocorreu horas mais tarde.

A decisão dos EUA foi criticada pela ministra do Interior do Reino Unido, durante uma entrevista à rádio britânica BBC Radio 4. Amber Rudd considerou a postura norte-americana “irritante” e sublinhou que os EUA compreendiam a importância de controlar a integridade da investigação britânica. A ministra vincou “que a polícia britânica pretende controlar o fluxo de informação para proteger a integridade operacional e o factor surpresa” e que uma situação semelhante “não poderia voltar a acontecer”.

Já durante a manhã desta quarta-feira houve uma nova partilha de informação britânica feita por alguém exterior ao Governo e autoridades do Reino Unido. O ministro francês do Interior, Gérard Collomb, informou as autoridades francesas que o bombista suicida "provavelmente" viajou para a Síria e tem ligações ao Daesh. "Sabemos apenas o que as autoridades britânicas nos disseram — alguém de nacionalidade britânica, origem libanesa, que depois de uma viagem para a Líbia, e provavelmente depois para a Síria, se torna radical e decide conduzir este ataque", citava a Associated Press. A fonte? Collomb respondeu que estas eram informações de que os serviços britânicos dispunham.

Questionada sobre as informações avançadas pelo homólogo francês, Amber Rudd repetiu que não iria comentar a investigação, cita o Guardian, abrindo espaço para a interpretação de que, novamente, a informação havia sido partilhada sem a autorização britânica.

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