Cinco sugestões de leitura: dos corsários da Internet ao “menino de ouro” do Porto

Cinco jornalistas do PÚBLICO dão sugestões de leitura, desde as eleições no Irão ao melhor editor de livros de fotografia do mundo. Para o fim, uma pergunta: é possível contar a história do planeta em 20 minutos?

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O mercado segurador informático vale cerca de quatro mil milhões de dólares e está a crescer 60% ao ano Kacper Pempel/Reuters

 

Piratas e corsários

The Economist

 

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Isabel Aveiro, subeditora de Economia

“Porque os computadores nunca serão seguros” – foi esta a capa da revista The Economist de 8 de Abril. Mais de um mês depois, ler o artigo “Computer security is broken from top to bottom”, sob o antetítulo “Why everything is hackable”, é uma boa ajuda para perceber como chegámos à sexta-feira de 12 de Maio, e ao recente ataque informático mundial. Em doses não excessivas de tecnologia, política, economia e alguma história da Internet à mistura, o artigo expõe a fragilidades de um negócio de software de crescimento rápido e inovador, em que o valor está associado a responsabilidade civil quase nula quanto a falhas de segurança, disfarçada em acordos de licenciamento praticamente ilegíveis para os utilizadores. Há hoje, contabiliza, um mercado segurador informático de cerca de quatro mil milhões de dólares, a crescer 60% ao ano. À escala global, a pirataria informática é um negócio. Beneficia primeiro quem a faz, mas também quem a contrata (mais corsários do que piratas, portanto). O texto recorda a omnipresente digitalização de toda a informação que geramos (desde dispositivos hospitalares a sistemas de navegação automóvel) e a fragilidade tecnológica em que os nossos dados vitais assentam. Na Internet das Coisas, “estamos a construir um robot de dimensões mundiais”. Not ok, computer. Ler

Cinco dias para entender o Irão

El País

 

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Margarida David Cardoso, jornalista do Local

Ángeles Espinosa diz que um jornalista em três ou quatro dias de reportagem escreve um livro. Em cinco, escreve um artigo. Se ficar mais tempo, “começa a descobrir a complexidade do lugar”. Não escreve nada. Mas cinco dias foram o tempo que lhe deram para desemaranhar as eleições iranianas desta sexta-feira, traduzir o que vê, relatar o que se confirma e dar respostas. Ao dia um, começou um diário: ao leitor dá a oportunidade de estar na primeira linha do trabalho de uma jornalista. Desde a chegada ao hotel (obrigatório) para jornalistas, à mudança de roupa para não provocar mal entendidos políticos. Entender o Irão em cinco dias é a proposta da enviada do El País a Teerão. Numa semana cheia de interrogações sobre o futuro da governação (com ou sem) Trump e reportagens que submergem na Turquia escondida de Erdogan, achei que a realidade em estado mais puro estava nesta jornalista que esgravata o pouco espaço que lhe dão para fazer jornalismo. Faz relatos curtos, feitos para serem consumidos na Internet, à velocidade a que nos habituamos, e ao espaço (livre) confinado que ela tem. Ler

O mago dos livros de fotografia

The New Yorker

 

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Sérgio B. Gomes, editor Multimédia

Há quem o veja como um monge. Há quem o ache irrascível e indelicado. E há quem diga que chegar à fala com ele é como beijar o anel do Papa. E quem revele que gosta que o adulem. Dizem que já provocou lágrimas de muita gente crescida, de tão exigente que é. Uma coisa é certa: o alemão Gerhard Steidl, 66 anos, é visto como o melhor editor de livros de fotografia do mundo. E é (muito) discreto. Até agora, não se conheciam grandes pormenores sobre o seu passado pessoal e sobre as fundações sobre as quais ergueu a respeitadíssima Steidl, um pequeno império no campo da edição especializada em livros de fotografia. Pela escrita de Rebecca Mead, a revista The New Yorker traça um longo perfil de alguém cuja única preocupação se reduz a isto: “entregar” um livro bem feito. A descrição que William Eggleston (um mestre da fotografia) fez dele é curta e grossa: “Ele é tão melhor do que toda a gente”. A dedicação de Gerhard Steidl à editora – sediada em Göttingen – é total e a sua atenção a todos os detalhes do processo de concepção de um livro é obsessiva. E isto até poderia parecer “normal”, não fosse o caso de a Steidl publicar cerca de 200 livros por ano. O texto da New Yorker está repleto de depoimentos de alguns dos mais proeminentes fotógrafos da actualidade, que não lhe poupam elogios na sua “missão” de fazer uma “ampla e enciclopédica pesquisa” do mundo da fotografia. É, no entanto, um mundo reservado a eleitos. E mesmo entre esses predestinados, há autores que esperam anos só para serem "convocados" a viajar até Göttingen e, na sequência disso, começarem o processo de concepção e acabamento de um livro. O fotógrafo canadiano Edward Burtynsky diz que o trabalho feito na Steidl “é como a alta-costura da impressão”. Gerhard Steidl só trabalha com os melhores materiais para tentar conseguir os melhores resultados possíveis. Dorme perto da “fábrica” porque, para ele, vida e trabalho são “uma simbiose”. Quando viu uma das quatro cópias da bíblia de Gutenberg impressas em papel de velino na biblioteca da Universidade de Göttingen, a sua cidade-natal, saiu de lá desapontado. Achou-a demasiado “artesanal”. Esperava algo mais “industrial”. Do texto da New Yorker fica a ideia de que este homem parece alimentar-se de papel e tinta. Comprou o primeiro equipamento de impressão quando tinha 16 anos com o dinheiro que ganhou a vender comprimidos para dieta. Ler

O balão do Menino de Ouro

O Porto, de Agostinho Rebelo da Costa aos nossos dias

 

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Luís Octávio Costa, subeditor do P3

Entre amigos a história do "Menino de Ouro" é tão familiar como telegráfica. "O meu trisavô desapareceu num balão de ar quente". Reticências. Ouvimos o João César dizê-lo vezes sem conta. "O meu trisavô desapareceu num balão de ar quente..." E assim ficou — misterioso como o destino de um balão de ar quente — até que o historiador Joel Cleto decidiu colar à lenda do Menino de Ouro imagens e factos, uma torre (implantada na Quinta da Chamorra, na Freguesia de Vilar do Paraíso, no concelho de Vila Nova de Gaia), um jardim mágico (Palácio de Cristal) e um oceano onde um dia dos finais de 1903 desapareceu para todo o sempre um balão de ar quente. Foi nos jardins do Palácio que então se começaram a apresentar os primeiros balonistas, que, para espanto dos portuenses, se faziam elevar aos céus (como o drone habilmente conduzido durante todo o episódio da série Caminhos da História, do Porto Canal). Entre eles estava César, filho de João, que, no final desta história trágica, mandou construir uma torre com um farol para olhar para o horizonte, que levara para sempre o seu filho. Esta semana, na quarta-feira, sentei-me no sofá ao lado do meu amigo João César e procurámos na Internet a incrível história do seu trisavô, o Menino de Ouro — porque o seu pai oferecia a quem o encontrasse o seu peso em ouro. Magia. A história está bem descrita no blogue "O Porto, de Agostinho Rebelo da Costa aos nossos dias". Ler

A história do mundo bizarramente contada em 20 minutos

YouTube

 

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Claudia Carvalho Silva, jornalista online

E agora para algo completamente diferente: não é um trabalho jornalístico mas antes um vídeo que, em apenas 20 minutos, brinca com a história de todo o mundo – da a criação do Universo à criação da Terra, à evolução das espécies e da humanidade. Com tudo o que isso implica: religiões, guerras, progresso. Apresentado em ímpetos sucessivos, a sequência de acontecimentos históricos e científicos aliada à comédia torna-se hipnotizante, potenciada pelo seu design bizarro, com texto clip-art e efeitos sonoros estridentes. Mesmo tratando-se de uma perspectiva superficial (fosse lá possível contar toda a história do mundo em 20 minutos), o vídeo é lúdico e, talvez por isso, já foi visto mais de 12 milhões de vezes no YouTube. E nem Portugal fica fora da narrativa. Ver

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