Vídeo mostra Erdogan a assistir a ataque contra manifestantes em Washington

Dias depois do confronto, surgem imagens que mostram a interacção entre Erdogan e os seus guarda-costas antes de ataque a multidão que se manifestava contra o Governo turco. Embaixada turca fala em “autodefesa”.

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Imagens do vídeo em que Erdogan aparenta indicar o início do ataque aos manifestantes, antes de se deslocar para a residência do embaixador turco DR

Na terça-feira, após o encontro do Presidente turco com Donald Trump, em Washington, houve um confronto violento entre manifestantes que se opunham ao Governo de Erdogan e um grupo de homens de fato e gravata. Agora, um novo vídeo mostra que os homens engravatados pertenciam ao dispositivo de segurança do líder turco e que este ficou a assistir aos confrontos a partir do carro em que se encontrava.

No vídeo – enquanto se ouvem os gritos de protesto –, Recep Tayyip Erdogan aparece sentado no banco de trás de um Mercedes preto e troca algumas palavras com um dos seus guarda-costas, ainda que não seja claro se a informação estava, ou não, relacionada com o ataque. Porém, é visível que o guarda-costas com que comunicou fala, por sua vez, com um outro assistente que começa a correr em direcção à rua onde está o grupo de manifestantes. A partir daí, o guarda-costas torna-se indistinguível por estar longe do alcance da câmara, mas o início do confronto e o desferimento de golpes, poucos segundos depois de correr em direcção aos manifestantes, é evidente.

Nas imagens gravadas, é perceptível o momento de choque em que os guardas do Presidente turco desferem murros e pontapés aos manifestantes, que gritavam “Baby killer Erdogan” – “Erdogan, assassino de bebés”. As agressões continuaram até à intervenção da polícia, também registada em vídeo. Nas imagens partilhadas nas redes sociais, vêem-se várias pessoas ensanguentadas e outras a serem detidas pela polícia. Pelo menos nove foram hospitalizadas na sequência dos confrontos e duas foram detidas.

Pouco tempo depois da investida, o Presidente turco sai da viatura e volta a falar com o segundo assistente – aquele que tinha corrido em direcção à multidão e que retorna assim que o Presidente sai do carro. Erdogan segue, então, em direcção à residência do embaixador turco nos EUA (Serdar Kiliç), em frente à qual o carro se encontrava estacionado. A Casa Branca não se pronunciou sobre o sucedido.

“Resposta violenta” a manifestação pacífica

Numa carta enviada pelos senadores norte-americanos Dianne Feinstein e John McCain ao Presidente turco nesta quinta-feira, é expressada a “preocupação em relação ao comportamento de alguns membros da segurança” de Erdogan, considerando “inaceitável” a “resposta violenta a manifestantes pacíficos”, que dizem ainda ser um reflexo do tratamento dado pelo Governo turco “à imprensa, às minorias étnicas e aos oponentes políticos”. Como o ataque ocorreu em solo norte-americano, os senadores pedem que os agentes responsáveis pelas agressões sejam identificados e responsabilizados pelas suas acções.

Horas antes de a carta ter sido divulgada, o senador John McCain exigiu, em declarações à estação televisiva MSNBC, a expulsão do embaixador da Turquia nos EUA, adiantando que "este género de situações não pode ficar sem resposta diplomática".

Numa nota publicada no site da Embaixada da Turquia nos EUA, é referido que os manifestantes se tinham reunido “sem permissão” e que estavam a “provocar agressivamente os cidadãos turco-americanos que estavam reunidos para receber pacificamente o Presidente”. “Os turco-americanos responderam em autodefesa e um deles ficou gravemente ferido”, acrescenta ainda a nota, sem estabelecer qualquer ligação entre estes cidadãos turco-americanos e o dispositivo de segurança de Erdogan.

O episódio aconteceu na terça-feira, depois de o Presidente turco ter sido recebido na Casa Branca por Donald Trump para falarem da cooperação na luta contra o terrorismo islâmico. Esta reunião aconteceu numa altura de tensão entre os dois países, depois da decisão norte-americana de armar milícias curdas na Síria – que são consideradas, pelos turcos, como organizações terroristas. O encontro foi considerado, por Trump, como “produtivo” e não houve qualquer referência ao regime autoritário de Erdogan, que tem sido criticado por várias instâncias europeias.

“Estamos a protestar contra a política [de Erdogan] na Turquia, na Síria e no Iraque”, contou, na altura, Flint Arthur, um dos manifestantes, que se queixou de ataques por parte de uma aparente contra-manifestação em defesa do Presidente turco. “Eles acham que podem actuar com o mesmo tipo de repressão de protestos e de liberdade de expressão que aplicam na Turquia”, disse à CNN. “Travaram-nos durante uns minutos, mas nós continuámos os nossos protestos contra o regime tirano de Erdogan”, vincou.

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