Os genes têm reservado lugar na história dos Mundiais sub-20

O torneio que começa no sábado, na Coreia do Sul, conta com dois jogadores de linhagem futebolística, perpetuando uma “tradição” que nos últimos anos tem contribuído para manter vivos alguns apelidos.

Jonathan Klinsmann começou como avançado e estabeleceu-se na baliza
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Jonathan Klinsmann começou como avançado e estabeleceu-se na baliza
Marcus Thuram jogou no Barcelona ainda durante a infância
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Marcus Thuram jogou no Barcelona ainda durante a infância

Ekramy, Ayew, Valencia, Sarr, Maiga, Simeone e Kopke, sete apelidos com duas vidas no futebol. A dos pais, suficientemente cintilante para deixar marca na história, e a dos filhos, a tentar manter o nome da família longe do baú dos arquivos. Este “espólio” genético que tem percorrido os Campeonatos do Mundo de sub-20 contará, a partir de amanhã, com mais dois testemunhos. Jonathan Klinsmann e Marcus Thuram estão na Coreia do Sul para ajudarem os EUA e a França a deixar uma marca no torneio. De preferência com uma assinatura pessoal.

Olhando para o ponto de chegada (a convocatória para este Mundial, leia-se), dificilmente se apostaria que Jonathan tem dado prioridade aos estudos. Foi a pensar na carreira académica que escolheu a Universidade da Califórnia, em Berkeley, seguindo dessa forma um conselho do pai. Nessa altura, Jurgen era ainda treinador da selecção principal dos EUA, cargo que não lhe valeu metade do prestígio que adquirira no relvados entre 1981 e 1998. Reconhecido como um dos grandes avançados da história da Alemanha, encontrou do outro lado do Atlântico, já depois de penduradas as chuteiras, um novo desafio. E a família foi a reboque.

É fácil perceber que não têm sido apenas dicas sobre a formação escolar que Jonathan tem recolhido do pai. A sua aptidão desportiva também tem beneficiado da experiência de Jurgen, ainda que o novo membro da linhagem Klinsmann ocupe uma posição antagónica. Nascido em Abril de 1997, cedo começou a praticar futebol, mas aos 11 anos trocou o ataque pela baliza: “Comecei a defender durante os intervalos das aulas e mais tarde pedi ao treinador para experimentar a baliza”, explicou oportunamente.

Foi uma boa decisão. Com 1,92m, Jonathan parecia ter o perfil para a posição e a vontade necessária para ir limando defeitos através do trabalho. E aquilo que não obtinha nos treinos na universidade — a formação no futebol nos EUA continua a ter mais créditos nas academias privadas — procurava compensar com sessões específicas fora de horas.

Do seleccionador de sub-20, Tab Ramos, obteve a confiança e um lugar na convocatória para o Mundial, depois de já ter sido eleito para defender a baliza norte-americana no campeonato da CONCACAF. Ao todo, o guarda-redes que tem Manuel Neuer como referência soma 15 jogos pelas selecções jovens, 12 dos quais no escalão actual. Sobre o legado familiar que tem a gerir, é claro: “Muitas vezes sinto o nome a pesar-me imenso nos ombros”, admite, revelando também que tenta sacudir a pressão recordando que foram apenas as suas capacidades que o trouxeram até aqui.

Não é “fardo”, é “motivação”

Quando perguntaram a Marcus Thuram o que significa representar a selecção, a resposta foi esclarecedora: “Significa muito. Antes de mais, porque o meu pai jogou com esta camisola. Depois, porque todos os jovens sonham em poder envergar este equipamento. Espero que a aventura continue”, respondeu em 2014, pouco depois da estreia pelos sub-17 de França.

De então até hoje, a perspectiva não mudou a esse respeito. O avançado de 19 anos e 1,89m, nascido em Parma quando Lilian Thuram cumpria a primeira aventura em Itália, convive sem dramas com a herança paterna, feita de mais de 140 internacionalizações (142, para sermos exactos) e coroada com um título mundial, para além de uma mão-cheia de troféus nacionais.

Consciente de que terá de trilhar, ele próprio, um caminho de que venha a orgulhar-se, Marcus reforçou nesta temporada o peso na equipa do Sochaux, cumprindo 21 jogos na II Liga francesa (na temporada anterior tinha somado 15). Nas selecções jovens, o trajecto tem sido igualmente sólido e a ausência de Kylian Mbappé da convocatória anunciada pelo seleccionador Ludovic Batelli abre-lhe as portas do “onze” de uma forma mais evidente.

Ele, que teve no Barcelona o primeiro clube, então com oito anos apenas (e confessa que não tem recordações nítidas dessa passagem pelos catalães), vai tentar agarrar a oportunidade para, quem sabe, dar o salto até à Ligue 1. De resto, a experiência acumulada no Europeu de sub-19 do ano passado, que a França conquistou depois de ter eliminado Portugal nas meias-finais, poderá ser útil para desempenhar um papel mais preponderante no ataque gaulês — que enfrentará a defesa das Honduras no encontro de estreia no torneio.

“Para mim, o nome que carrego não acarreta dificuldade ou facilidade. Quem olha de fora pode pensar que se trata de um fardo, mas não é de todo. Não muda nada”, declarou ao jornal Dernières Nouvelles d’Alsace um avançado que tem no brasileiro Neymar e no sueco Ibrahimovic as maiores referências. “Para mim, é até uma motivação, para mostrar que estou aqui graças ao meu trabalho e também, porque não, para o ultrapassar o meu pai”.

O futuro dirá até onde irá chegar Marcus, mas uma coisa é certa: graças a ele, a linhagem Thuram está de volta ao palco de um Mundial. O mesmo acontecendo com o apelido Klinsmann e, antes dele, com outros nomes com reputação no futebol: o alemão Kopke (Andreas, pai, e Pascal, filho), o argentino Simeone (Diego e Giovanni) e o colombiano Valencia (Adolfo e Jose Adolfo).     

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