Mono ou multicasco? O futuro da Volvo Ocean Race passa por ambos

Mark Turner, CEO da regata oceânica mais dura do mundo, anunciou uma série de iniciativas inovadoras e radicais para as futuras edições da prova, que passará a contar com dois modelos diferentes de veleiros.

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Ainhoa Sanchez/Volvo Ocean Race

A próxima edição da Volvo Ocean Race (VOR) terá início apenas a 22 de Outubro, em Alicante, e Lisboa será, meia dúzia de dias depois, o primeiro porto de abrigo dos Volvo Race 65 que, foi ontem confirmado, têm os seus dias contados. Mark Turner, CEO da regata oceânica mais dura do mundo, anunciou uma série de iniciativas inovadoras e radicais para as futuras edições da VOR, que incluem novos barcos. Entre as novidades está a esperada entrada da prova na nova era dos hydrofoils, mas a contenda sobre a manutenção de veleiros monocasco ou a passagem para multicascos foi encerrada com diplomacia: “Tivemos muitos debates sobre usar multicascos ou monocascos e, de facto, a solução para nós é optar pelas duas soluções”, revelou Turner.

Quando foram concebidos para a VOR 2014-15, dando início à obrigatoriedade de competir com barcos de igual design, a competitividade dos VO65 foi pensada para duas edições e, sem surpresa, as 46 mil milhas náuticas de competição que ligarão Alicante e Haia, entre Outubro de 2017 e Junho de 2018, serão as últimas para os veleiros de 20 metros desenvolvidos pela Farr Yacht Design. Na próxima década, naquele que é considerado o desafio de equipas mais duro do desporto mundial, serão usados veleiros monocasco de 60 pés (18,29 metros) que já estarão equipados com os inevitáveis foils que, nos últimos anos, têm revolucionado a vela. Porém, numa óbvia aposta na espectacularidade do evento, nas regatas costeiras, as tripulações terão ao seu dispor catamarans de 32 a 50 pés (10 a 15 metros), muito leves e mais rápidos.

“Tivemos muitos debates sobre usar multicascos ou monocascos e, de facto, a solução para nós é optar pelas duas soluções. Teremos dois barcos: in-port [regatas costeiras], em frente às cidades, correremos com os multicascos; em offshore, manteremos os monocascos. A Volvo Ocean Race sempre foi um desafiado extremo e com essas mudanças – talvez as mais radicais desde que a regata começou em 1973 – vamos levar a competição a outro patamar. Será mais dificil do que nunca ganhar a regata. Tem sido uma obsessão para várias gerações de velejadores chegar à vitória, mas para levantar o troféu, os candidatos têm agora uma maior exigência, dedicação, habilidade e sacrifício”, afirmou Mark Turner. A redução do tamanho dos veleiros – os actuais têm 65 pés (20 metros)  – obrigará ainda à redução das tripulações: Os VO65 permitiam até a um máximo de 11 velejadores; os novos barcos, que serão projectados pelo arquitecto naval francês Guillaume Verdier e construídos pelo estaleiro Persico, em Itália, não terão mais do que sete tripulantes.

Com 44 anos de história, que começou com o nome de Whitebread Round the World Race e partida do Reino Unido em 1973, a 13.ª edição da VOR que, terá início a 22 de Outubro em Alicante, ditará, também, o início do fim de tradicional ciclo de três anos. Num processo que está “ainda em curso”, a organização pretende que a prova mantenha uma actividade constante, sendo por isso muito provável o arranque da 14.ª edição seja antecipado de 2020 para 2019, iniciando depois um ciclo de dois anos entre cada VOR.

Quanto a trajectos futuros, anunciam-se igualmente mudanças significativas para as etapas na próxima década, com o objectivo de “reforçar o apelo comercial” procurando, no entanto, preservar “a integridade desportiva” da competição. A cidade espanhola de Alicante, continuará a ser a cidade-sede da VOR por mais duas edições, mas ao contrário do que tem acontecido nas últimas edições, a conclusão da prova pode ser fora da Europa. Em cima da mesa está ainda a possibilidade de realizar uma etapa circum-navegando a Antártida, com partida e chegada à Nova Zelândia.

As novidades de Mark Turner não se restringiram, no entanto, à parte desportiva. Procurando liderar pelo exemplo, a VOR terá nas questões ambientais uma das suas principais preocupações. “Sustentabilidade está no ADN da VOR e precisamos de fazer algo em relação a isso. Temos responsabilidades em relação à pagada ecológica e teremos que caminhar em direcção à eliminação do consumo de combustíveis fósseis em futuros barcos. Levará tempo, mas é um objectivo. Em colaboração com uma iniciativa das Nações Unidas - a campanha ‘Turn the Tide on Plastic’ -, queremos lutar contra a poluição de plásticos nos oceanos. Isso passa por tentar convencer os responsáveis pelas nossas race villages a não venderem água em garrafas de plástico, ou darem sacos de plástico. Podemos não eliminar por completo o consumo de plástico, mas tentaremos ajudar a mudar o comportamento das pessoas”, concluiu Turner. 

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