Eles arriscam a vida por uma missão: fotografar

Fotógrafos e cinegrafistas no anúncio da retomada da parte leste de Mosul pelo exército iraquiano
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Fotógrafos e cinegrafistas no anúncio da retomada da parte leste de Mosul pelo exército iraquiano

Cristina Veit foi, durante 12 anos, directora de arte e editora de fotografia da revista National Geographic Brasil. "A fotografia de guerra nunca me atraiu como tema", confessou ao P3; sempre preferiu a vida selvagem, a ciência, a arqueologia, a conservação. No final de 2016, no entanto, surgiu-lhe a oportunidade de acompanhar dois fotógrafos freelancer brasileiros a Mosul, no Iraque. A missão desses fotógrafos era documentar a guerra contra o Estado Islâmico que decorre na cidade desde Agosto de 2014. "São dezenas, se não centenas de fotógrafos do mundo todo que têm documentado a guerra", explica. "A diversidade de profissionais que conheci durante essas semanas iniciais — sobretudo as diferenças de enfoque que cada um apresentava do mesmo conflito — interessou-me. Cobrindo o conflito você encontra fotojornalistas freelancer, fotógrafos contratados por agências e grandes empresas de média, fotógrafos veteranos, jovens fotógrafos tendo sua primeira experiência numa zona de conflito, e até mesmo fotógrafos de arte pesquisando projetos conceituais." Cristina Veit acabou por passar dois meses e meio em Mosul. "Foi assim que surgiu o projeto 'Retratos de Fotógrafos - a Batalha por Mosul'", que apresenta agora ao P3. "Mostrar o que os impulsiona, quais são as histórias que eles estão tentando contar, os riscos que estão tomando e como cada um deles dá sua própria voz a uma narrativa contada por tantos" é o objectivo da editora de fotografia e agora também fotógrafa. As diferenças de abordagem e percepção de cada um dos fotógrafos que conheceu surpreenderam-na. "No dia 24 de Dezembro de 2016 eu desembarquei em Erbil, no Curdistão. Passei a véspera de natal com uma familia de deslocados internos cristãos em uma reportagem para um canal de TV brasileiro. No dia seguinte fomos documentar a primeira missa de Natal na cidade recém liberada de Qaraqosh, depois de dois anos sob domínio do Estado Islâmico. Fomos os primeiros a chegar, mas de repente fotógrafos de varias nacionalidades foram aparecendo. Todos fazendo a mesma foto dentro da igreja, generais assistindo a missa, soldados acendendo velas, a destruição da igreja, pixada, livros jogados, forro caindo… Até então parecia que todos estavam fazendo a mesma cobertura da guerra. Até que conheci o fotografo alemão Robin Hinsch. Robin não era um fotojornalista, e sim um artista. Como todos os outros que havia conhecido até então, queria registrar a destruição do ISIS em cidades como Qayyarah, Qaraqosh, Bartallgag e também queria ir para a linha da frente na parte leste de Mosul. Mas Robin tinha um objectivo muito específico em Mosul - ele buscava registar carros bomba que não tinham sido detonados para um projeto fotográfico. Fiquei muito interessada na criatividade do seu enfoque da guerra e no facto de fotografar conflito com um perspectiva artística e não jornalística." A experiência no terreno é positiva e Cristina tem o plano de visitar novas zonas de conflito e ampliar o projecto. "Considero esse projeto uma extensão dos meus anos na National, trabalhando com fotógrafos que atuavam cada um em áreas muito específicas e cada um com uma maneira muito pessoal de abordar e registrar o tema escolhido. Não fui para o Iraque com a intenção de fazer este ensaio, especificamente, mas ele foi acontecendo quase naturalmente, à medida em que esses fotógrafos se iam cruzando no meu caminho. Da mesma maneira que eu me surpreendi conhecendo essas pessoas e o trabalho delas, quem vê o projeto também se surpreende em conhecer um pouco sobre a cobertura de conflitos."

O fotógrafo Lorenzo Tugnoli seguia para a linha de frente quando um morteiro caiu próximo ao veículo
Ángel Manuel Sastre, Yan Boechat e Pablo Cobos na linha de frente em Ganus, a 40 km de Mosul
O fotógrafo Robin Hinsch produz ensaio para o jornal alemão Süddeutsche Zeitung no campo Ankawa 2
Robin Hinsch, fotógrafo alemão de fine art, em Bartallah
Os gêmeos Hassn e Hossen Rahem, repórteres da NRT News na linha de frente no aeroporto de Mosul
O italiano Lorenzo Meloni retrata civis feridos por ataques aéreos durante a ofensiva contra Isis
A fotógrafa e documentarista checa Jana Andert em um veículo blindado da Polícia Federal iraquiana
A documentarista checa Jana Andert captura imagens na linha de frente do aeroporto de Mosul
Eugenio Grosso se posiciona para fotografar uma casa em um condomínio de classe alta em Erbil
Johnny Kamal faz serviços como tradutor – e outros que aparecerem – para fotógrafos e jornalistas
O fotógrafo João Castellano retrata os donos de lojas do campo de deslocados cristãos Ankawa 2
Pablo Cobos se protege da fumaça dos poços de petróleo incendiados em Qayyarah
O jornalista Igor Kossov e o fotógrafo Osie Greenway trabalham na casa que dividem em Erbil
Charles Thiefaine, fotógrafo, e Wilson Fache, jornalista, partem para uma reportagem em Mosul
Charles Thiefaine em reportagem sobre a prática do futebol em Mosul para a revista francesa So Foot
A fixer Lina Issa acerta detalhes da ida de jornalistas para reportagens em Mosul
Majd Holbi, fixer sírio, conduz jornalistas a Bartallah para uma conferência de imprensa
Os fotógrafos Quentin Bruno (Bélgica) e Osie Greenway (EUA) no bazar peshmerga em Erbil
Os jornalistas Adnan Khan e Yan Boechat fecham a conta no Teacher’s, bar popular entre jornalistas
A cultura dos selfies é forte no Iraque. Militares e civis costumam pedir uma foto com estrangeiros
“Selfie, senhorita?” Esta foi uma das muitas fotos que me pediram durante os dois meses no Iraque