Vieira da Silva e os "sentimentos cruzados" sobre rendimento básico

“O risco da construção de uma distopia para mim é aterrador. É uma sociedade dividida em dois grupos: uns que tem acesso ao bem-estar por trabalho e outros por uma transferência social”, alertou o ministro.

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Vieira da Silva falou sobre Rendimento Básico Incondicional LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social admitiu esta segunda-feira ter “sentimentos cruzados” sobre a criação de um Rendimento Básico Incondicional em Portugal, lembrando que a introdução da medida não está prevista por nenhum dos partidos que sustenta o Governo e, pelo contrário, até suscita críticas.

No encerramento de um ‘workshop’ sobre o Rendimento Básico Incondicional (RBI), que decorreu na Faculdade de Direito de Lisboa, Vieira da Silva começou por deixar uma nota prévia antes de iniciar o seu discurso: “Que eu saiba não há nenhum partido que apoie o Governo que fale do RBI como um compromisso para esta legislatura”.

“Eu tenho sentimentos cruzados [sobre a aplicação da medida], porque é uma ideia muito generosa, muito interessante do ponto de vista da equidade social, mas ainda muito longe de poder ser transformada numa realidade”, afirmou depois aos jornalistas.

O ministro admitiu que “há um problema de natureza social” que decorre de não haver trabalho para todos, mas levantou várias questões sobre a medida, como a escala, o que deve cobrir, com que condições de acesso ou com que modelo de gestão.

“Não me parece possível, ou muito fácil, pensarmos num RBI num único país, numa situação de integração no espaço europeu”, defendeu também o governante, mas considerou que este instrumento é “uma medida radical de distribuição de rendimentos”.

No entanto, Vieira da Silva considerou que um dos problemas associados à medida é “uma exigência de consenso social de enormíssima complexidade”, afirmando que mesmo entre a divisão política entre direita e esquerda não há consenso.

Além disso, o ministro questionou também se “abraçar esta ideia numa lógica de equidade não significa desistir da ambição do direito universal ao trabalho” e alertou para a possibilidade de o RBI “facilmente conduzir a uma sociedade ainda mais dual”.

“O risco da construção de uma distopia para mim é aterrador. É uma sociedade dividida em dois grupos: uns que tem acesso ao bem-estar por trabalho e outros por uma transferência social”, alertou o ministro.

Nesse sentido, Vieira da Silva defendeu uma alternativa combinada ao RBI: o rendimento básico traduzido no acesso universal a elementos fundamentais (saúde, educação e habitação) e o direito ao trabalho como direito fundamental.

Depois da sua intervenção, e questionado pelos jornalistas, o governante admitiu que, no início, em qualquer sociedade, a introdução do RBI “seria uma exigência muito forte, teria uma pressão muito forte sobre as contas públicas”.

“É um debate que tem de ser muito aprofundado, podemos beneficiar da experiência que alguns países estão a ter. (…) É um tema muito controverso, embora seja muito interessante”, disse.

O RBI existe noutros países, como por exemplo, na Finlândia.

 

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