Aqui há gato

Lixaram-nos as expectativas. Agora só se aturam vencedores.

Começam a enjoar as boas notícias. Nós não fomos concebidos para lidar com tanta alegria. Eis uns títulos do PÚBLICO: "Portugal ganha medalha de prata nas Olimpíadas da Ciência da UE"; "Portugal entre os países que mais protegem lésbicas, gays e bissexuais"; "Economia portuguesa acelera-se ao ritmo mais forte da década"; "CDS reconhece que dados sobre crescimento são positivos"; "´Não se deve embandeirar em arco', diz o Presidente feliz com o PIB" e embandeirando em arco) e "Paulo David recebe o prémio Sustainable Architecture 2017". A crónica de Rui Tavares, a segunda sobre Salvador Sobral só neste mês de Maio (eu próprio já vou em três), intitula-se "Habituem-se".

Seremos capazes? Mesmo os benfiquistas melómanos do PS são, antes de serem humanos, meros portugueses. Sim, aguentam uma boa nova - desde que seja generosamente espaçada. Pelo meio exigem-se cinco ou seis desgraças para ganhar balanço antes de ter de enfrentar uma nova surpresa boa.

Se as alegrias vierem todas umas em cima das outras partem-nos o cabaço. Esse ríctus que se julga ser um sorriso não será antes a última tentativa desesperada de obter um decilitro de oxigénio?

Lixaram-nos as expectativas. Agora só se aturam vencedores. Que fazer do nosso amor pelos números redondos? Que não havia 2 sem três já nós, ufanos com segundos e terceiros lugares, sabíamos. Agora o número 1? É tão alto e direito e esticadinho. Terá havido algum engano nas atribuições? Estará certo o código postal?

Ó gato, sai já daí de baixo!

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