Quando o candidato Trump ficava furioso com a revelação de segredos

Durante a campanha, Donald Trump liderou cânticos a pedir a prisão de Hillary Clinton porque a candidata do Partido Democrata tinha tratado informações sensíveis de forma "extremamente descuidada".

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Cartaz mostrado durante a convenção do Partido Republicano, no ano passado Mario Anzuoni/Reuters

Um dos temas em destaque na campanha presidencial norte-americana no ano passado foi a segurança da informação recolhida pelos serviços secretos. A candidata Hillary Clinton foi várias vezes acusada por Donald Trump de ter comprometido a segurança do país por ter usado um servidor pessoal para trocar e-mails na qualidade de secretária de Estado – o FBI investigou e decidiu não recomendar uma acusação formal, apesar de ter afirmado que Clinton foi "extremamente descuidada".

No final dessa investigação não ficou provado que Clinton ou qualquer um dos seus funcionários no Departamento de Estado tenham posto em risco a segurança nacional, e muitos dos e-mails em causa estavam já desclassificados quando foram enviados ou recebidos.

Ainda assim, o escândalo marcou a campanha – a forma como o FBI geriu a comunicação dessa investigação levou o Partido Democrata a acusá-lo de ter influenciado o resultado da votação a favor de Donald Trump. E os comícios e a convenção nacional do Partido Republicano (que consagrou Trump como candidato oficial do partido) foram palco de vários cânticos de "Lock her up!" ("Prendam-na!"), numa referência aos e-mails e à forma como Clinton geriu o ataque na Líbia em 2012, que matou um embaixador norte-americano e outras três pessoas.

Num dos discursos mais marcantes da convenção do Partido Republicano, o governador de Nova Jérsia, Chris Christie, simulou um processo de acusação contra Hillary Clinton e perguntou várias vezes à audiência se ela deveria ser considerada culpada ou inocente.

Num dos vários tweets sobre o assunto, Donald Trump disse que Hillary Clinton não tinha condições para ser Presidente dos Estados Unidos por ter sido "extremamente descuidada na forma como trataram informação sensível" – uma acusação que o Partido Democrata e alguns representantes do Partido Republicano lhe devolvem esta terça-feira.

O jornal norte-americano Washington Post noticiou na noite de segunda-feira que o Presidente dos Estados Unidos revelou ao ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia e ao embaixador russo em Washington informações sobre o Daesh.

As informações em si não eram secretas, e até já foram discutidas publicamente, mas a forma como Donald Trump falou fez com que os responsáveis russos pudessem identificar a fonte dessas informações – os serviços secretos de um país aliado dos Estados Unidos.

A comunidade de serviços secretos norte-americana foi apanhada de surpresa pela forma como Donald Trump falou com Sergei Lavrov e Sergei Kisliak, na semana passada, e tentou controlar os danos.

O maior risco é que a Rússia identifique a fonte das informações sobre o Daesh na Síria e que tente eliminá-la ou espiá-la, já que os interesses de Moscovo são diferentes dos de Washington em relação a vários assuntos – convergem em relação ao combate contra o Daesh, mas no futuro podem divergir, nesse ou noutros assuntos. Para além disso, a divulgação da informação à Rússia pode prejudicar a recolha de informações secretas pelos Estados Unidos no terreno, já que outros aliados podem ficar receosos de transmitir segredos à Casa Branca.

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