Autarcas da região querem “renovação urgente” da Linha do Oeste

Supressões, avarias, atrasos e substituição de comboios por autocarros são o dia-a-dia da linha do Oeste.

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A linha não está electrificada e os comboios avariam muito SANDRA RIBEIRO

A Assembleia Intermunicipal da OesteCIM aprovou a 28 de Abril uma moção pela renovação urgente da linha do Oeste tendo em conta “os mais recentes e constantes constrangimentos verificados nesta linha, com frequentes supressões de comboios, substituídos, ou não, por carreiras de autocarros”.

A moção, que foi aprovada por todos os partidos dos 12 concelhos que compõem a comunidade intermunicipal do Oeste, critica “a ausência de medidas governamentais e da CP” para resolver o problema da falta de material diesel que está em fim de vida e avaria quase diariamente. Critica também o atraso na prometida modernização da linha – que contempla a sua electrificação só entre Meleças e Caldas da Rainha – que está contemplada no plano Ferrovia 2020, mas que nem sequer tem ainda um projecto elaborado.

Sem linha electrificada e com comboios a diesel sistematicamente avariados, a CP não tem soluções para evitar que os passageiros continuem a ficar em terra ou cheguem ao destino com atrasos superiores a uma hora.

No dia 27 de Abril a empresa – que faz publicidade na televisão ao seu serviço de longo curso - chegou mesmo a transportar passageiros em autocarro de Coimbra para Caldas da Rainha porque não tinha um comboio disponível.

“As supressões nos dias 27 e 28 de Abril e 3, 4, 5, 7 e 8 de Maio ficaram a dever-se a falta de material por avarias e imobilizações”, respondeu ao PÚBLICO fonte oficial da CP. Nesses dias alguns comboios atrasaram mais de uma hora e registaram-se mesmo atrasos de 2 horas e meia e de três horas devido a falta de material.

Para piorar a situação, o facto de a Infraestruturas de Portugal (ex-Refer) não manter estações guarnecidas (para poupar nos custos com pessoal), faz com que haja troços em via única de 40 e 50 quilómetros em que os comboios não podem cruzar, o que os faz atrasar ainda mais porque têm de esperar pelo que vem em sentido contrário.

Na passada sexta-feira a empresa voltou a suprimir um comboio (deixando os potenciais passageiros em terra sem saberem de nada porque nem sequer houve autocarro de substituição) e a fazer transbordo em mais dois entre Caldas da Rainha e Torres Vedras. Pelo meio, um comboio chegou ao destino com 2 horas e 54 minutos de atraso. Motivo destas perturbações: uma automotora avariou e outra anda a circular só com um motor (cada unidade tem dois motores).

Desde Janeiro a CP já pagou 3240 euros pela substituição de autocarros por comboios. No entanto, apesar de não realizar as circulações previstas, a empresa é obrigada a pagar à IP a taxa de uso (portagem ferroviária) pela utilização da infraestrutura. E, por causa disso, além de pagar os autocarros, a transportadora pagou, igualmente desde Janeiro passado, 5500 euros à IP pela (não) utilização das suas linhas. 

Problema alastra ao Alentejo e Algarve

A dramática falta de material diesel da CP está também a provocar grandes atrasos e supressões de comboios na linha Casa Branca – Beja e em todo o litoral algarvio. Neste último, os atrasos nas automotoras regionais, que são tão velhas como as da linha do Oeste, repercutem-se depois nos comboios Intercidades que fazem ligações para Lisboa.

O aluguer de automotoras espanholas, pelas quais a CP paga 5 milhões de euros por ano, tem mitigado a situação nas linhas do Douro e do Minho, mas também aí começa a haver problemas porque da frota de 21 unidades alugada, três estão imobilizadas: uma devido ao acidente na Galiza, outra porque embateu numa árvore no Minho e outra porque sofreu um incêndio no Douro.

Teoricamente a Renfe, congénere da CP, deveria suprir estas carências no âmbito do contrato de aluguer. Mas a transportadora portuguesa não pode fazer exigências porque o mesmo contrato especifica o número de quilómetros a que o material deverá estar sujeito antes de ir à manutenção (suportada pelos espanhóis). Um limite que a CP ultrapassa porque a falta de material é tanta que as automotoras são obrigadas a inúmeras viagens que ultrapassam a quilometragem prevista.  

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