Eurovisão é “uma oportunidade de investimento e não uma despesa”, diz investigador

Jorge Magorrinha, autor de vários estudos sobre o concurso europeu, acredita que há condições em Lisboa para receber o evento em 2018.

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Investigador "a responsabilidade da RTP não se esgota na organização do festival em Maio de 2018" LUSA/SERGEY DOLZHENKO

O investigador Jorge Mangorrinha defende que realizar o Festival da Eurovisão 2018 em Portugal tem repercussões que estão muito para além do evento e que gerará retornos superiores ao investimento.

Organizar a edição 2018 do Festival da Eurovisão "é uma oportunidade de investimento e não uma despesa", disse à Lusa. O autor de vários estudos sobre a Eurovisão acredita que Portugal deve aproveitar "a oportunidade estratégica" de realizar o evento cujas repercussões "estão muito para além do concurso propriamente dito".

Para o investigador da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, "importa ver este fenómeno eurovisivo tal como se apresenta a concorrência que existe na economia do turismo à escala mundial", já que o certame é potenciado por "uma rede em constante evolução, de povos e lugares que transcendem as fronteiras históricas da Europa, com efeitos nas correntes turísticas".

"A presença de dezenas de milhares de visitantes durante duas semanas é um desafio, não só para a RTP, mas também para o Governo, as empresas e a capital portuguesa", considera Mangorrinha, que nos dois últimos anos desenvolveu um estudo sobre como Lisboa se deverá preparar para receber o festival.

O anteplano que coordenou no quadro académico, "exercitando já essa possibilidade organizativa em Portugal, passou por admitir as variáveis essenciais: infra-estruturas, transportes, plano de emergência e segurança, hotelaria, comércio, animação diurna e nocturna, capacidade de carga dos espaços e especificidade da procura turística, com impactos físicos, culturais e económicos", explicou.

O estudo não deixa dúvidas de que Lisboa "tem condições para receber o Festival da Eurovisão", já que "o MEO Arena em particular e o Parque das Nações em geral, designadamente a estrutura da FIL, capacitam a cidade para o espectáculo e para os eventos paralelos, para além das praças principais da Baixa, que podem ser polos alternativos de actuação e promoção da música, nos dias antecedentes à final".

O facto de Portugal ser um país "com atracções reconhecidas (clima, luz, história, cultura, tradições, gastronomia, hospitalidade e diversidade concentrada) e de a marca 'Lisboa' ser reconhecida e premiada em termos internacionais" concorrerá, no entender do investigador, para um aumento da procura turística, designadamente dos países escandinavos e do Leste, aqueles em que "mais se faz sentir o entusiasmo pelos festivais da Eurovisão".

Para o autor do estudo, "os 20 a 30 milhões de euros de despesa [com a realização] podem ser recuperados ou ultrapassados em retorno, a curto, a médio e a longo prazo", no pressuposto de que "organizar é antes do mais prever estrategicamente" - estudando em detalhe as parcerias a estabelecer e a criação de condições para a maximização da atractividade do evento, quer para os turistas quer para os residentes.

Na opinião do autor, isso passa por “obter amplo suporte público antes, durante e depois" de o festival gerar dividendos, "em termos de conhecimento, imagem, economia, cultura, reputação, estatuto e orgulho local".

O investigador defende ainda que "a responsabilidade da RTP não se esgota na organização do festival em Maio de 2018", devendo passar, também, por "promover a pedagogia nas suas grelhas de programação e alargar culturalmente os seus horizontes". Até porque o festival será simultaneamente um desafio para a promoção da música portuguesa à qual "muitos se quererão juntar agora, até profissionalmente, mesmo que tenham sido, antes, preconceituosos acerca do tema", concluiu.

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