Millennials: uma geração de oportunidades?

A União Europeia enfrenta a perspetiva de uma geração perdida que, ao sentir ser deixada para trás, não apoiará adequada e fortemente o projeto europeu de solidariedade.

Tudo aponta para o contrário. Os millennials são uma geração perdida entre a falta de emprego e baixos salários. A isto acrescenta-se uma crise educacional, caracterizada por uma desadequação entre este sistema e o mercado de trabalho.

Em Portugal, o desemprego jovem só começou a cair mais recentemente. Atingiu o seu pico em 2013 (com uma taxa de 38,1%), mas no primeiro trimestre de 2017 já era ‘apenas’ 25,1%. Apesar da redução, esta é ainda uma taxa elevada – comparada com a taxa de desemprego (10,1%) –, o que representa um problema fulcral para os millennials. Para além da falta de emprego, somam-se ainda as condições precárias, e trabalhos temporários e instáveis.

Os millennials (ou geração Y) são a coorte demográfica que tem registado um maior nível de desemprego na Europa. E como vimos, Portugal não é exceção. Esta geração compreende, num sentido lato, todos os que nasceram entre o início dos anos 80 e o fim dos anos 90. São nativos digitais, globais, conectados, presentes nas redes sociais e adeptos das compras online.

Os primeiros millennials já são agora trintões. Estão na idade de querer casa, carro, emprego estável. Mas poucos são os que têm condições para tal. Aos 30 anos, em Portugal, ainda se é considerado jovem, e grande parte destes ‘jovens’ não tem condições para sequer sair de casa. De acordo com dados do Eurostat, 60% dos jovens entre os 25 e os 29 ainda vive com os pais.

Apesar de se integrarem numa sociedade cada vez mais globalizada e com mais oportunidades (teoricamente), são a geração que mais tem sentido as consequências da grande recessão (≈ entre 2008 e 2012). Não estão perto de se reformar, nem têm um emprego ‘para a vida’ como a geração dos seus pais.

Mesmo os que têm mestrado, um bom curso numa boa faculdade, boas notas e alguma experiência, afirmam que a sua expetativa salarial não ultrapassa os 1.000 euros. E estão dispostos a aceitar 700/800 euros a recibos verdes. Segundo a consultora imobiliária CBRE, arrendar uma casa em Lisboa já custa, em média, 830 euros, o que torna impossível para muitos esta ‘aventura’ – em que a alternativa é verem-se empurrados para um investimento a longo prazo com a compra de uma casa, dada a falta de disponibilidade e os preços que se praticam atualmente no arrendamento.

Os millennials dão primazia à experiência em detrimento da posse, têm uma maior consciência das consequências do endividamento (e menos acesso ao mesmo), por terem crescido num clima de instabilidade financeira e colapso de grandes bancos. São mais racionais que os pais no consumo, são ecologistas, comparam preços, e preferem partilhar em vez de possuir: carsharing, netflix, uber, airbnb...

São a geração com maior nível de qualificação, mas também a que enfrenta mais baixos salários e precariedade laboral. São um segmento vulnerável: quando existe corte no número de trabalhadores ou não há criação de novos empregos, são os jovens que saem prejudicados, dado competirem com outros trabalhadores mais experientes.

É, não obstante, mais rigoroso analisar a taxa de desemprego dos jovens NEET (“Neither in Employment, nor Education or Training”) – a geração “nem-nem” –, a qual se fixa atualmente em 11,8%. Apesar de ter diminuído 2,1 pontos percentuais face ao primeiro trimestre de 2016, ainda não alcançou os níveis pré-crise económica. Este é um segmento de jovens particularmente vulnerável, que está estagnado na transição entre a vida escolar e profissional.

É evidente que, no caso de Portugal, o desemprego jovem é em grande parte consequência do cenário económico e que, após anos de estagnação, a grande contribuição para combater o desemprego está interligada com o retomar do processo de crescimento. No entanto, é também preciso perceber que a crise de desemprego jovem pressupõe uma crise educacional subliminar.

Os sistemas educacionais não providenciam as habilitações adequadas para o mercado de trabalho vigente. Aptidões transferíveis como a comunicação e trabalho em equipa não estão a ser, de todo ou devidamente, ensinadas. Enquanto os jovens estão ansiosos por trabalhar, os empregadores não conseguem encontrar nestes as habilitações que os seus negócios requerem. Isto sugere uma incompatibilidade entre o que os empregadores estão à procura, e o que os trabalhadores têm para oferecer.

É necessário maior ligação e compromisso entre a educação e o emprego, para reconectar os NEET com o mercado de trabalho e providenciar-lhes novas perspetivas de carreira. Em Portugal, a percentagem de jovens que completa o ensino superior é ainda inferior à média das economias avançadas, e apenas 47% destes acredita que os seus estudos pós-secundário melhoraram as suas oportunidades de emprego.

Para além das ações tomadas a nível nacional, a União Europeia, como um todo, tem igualmente a capacidade e obrigação de levar a cabo mais medidas e com maior eficácia, que visem o acesso a um mercado de trabalho mais alargado. A taxa de desemprego dos jovens da UE não é risonha (18,6% em 2016), o que provoca consequências económicas e sociais severas para a economia do euro.

A UE enfrenta a perspetiva de uma geração perdida que, ao sentir ser deixada para trás, não apoiará adequada e fortemente o projeto europeu de solidariedade. Partidos populistas continuarão a pregar um discurso anti-UE e terão terreno fértil para tal, não só nos velhos ‘perdedores’ da globalização, como nos millennials que não estão sequer a ter oportunidade de ‘ir a jogo’.

 

O Institute of Public Policy (IPP) é um think tank académico, independente e apartidário. As opiniões aqui expressas vinculam somente os autores e não refletem necessariamente as posições do IPP, da Universidade de Lisboa, ou de qualquer outra instituição

A autora escreve segundo as normas do novo Acordo Ortográfico

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