Câmara fotográfica pode ajudar no tratamento da doença de Alzheimer

Segundo pesquisas anteriores, "a visualização de imagens estimula as zonas do cérebro responsáveis pelas memórias autobiográficas". A SenseCam pode ajudar a "atrasar a manifestação clínica" da doença de Alzheimer

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Jakob Owens/Unsplash

Um estudo desenvolvido por investigadores das universidades de Coimbra e de Leeds, no Reino Unido, demonstra que uma câmara fotográfica pode ajudar a "atrasar a manifestação clínica" da doença de Alzheimer. Uma equipa de especialistas concluiu que uma SenseCam ("câmara fotográfica automática portátil que capta imagens do dia-a-dia") pode ajudar a "atrasar a manifestação clínica" da Alzheimer e recomenda o uso deste método como "complemento ao tratamento farmacológico" da doença que é "a forma mais comum de demência", anunciou a Universidades de Coimbra (UC).

O estudo Estimulação da memória na doença de Alzheimer em fase inicial/O papel da SenseCam no funcionamento cognitivo e no bem-estar foi realizado entre 2011 e 2016. Partindo de pesquisas anteriores e evidenciando que "a visualização de imagens estimula as zonas do cérebro responsáveis pelas memórias autobiográficas", os investigadores estudaram a eficácia da utilização da SenseCam como ferramenta de estimulação cognitiva na fase inicial da doença de Alzheimer, refere a UC.

Num primeiro momento do projecto, foi feito um estudo-piloto com um grupo de 29 jovens e idosos saudáveis (15 jovens e 14 idosos) para "explorar os efeitos da SenseCam em testes de cognição global e analisar em que medida este instrumento poderia ser útil para os pacientes" com Alzheimer, acrescenta a UC. Depois de identificadas as potencialidade do método no funcionamento cognitivo global, os investigadores avançaram para "o estudo principal, com 51 idosos, na sua maioria mulheres, diagnosticados com doença de Alzheimer em fase inicial", seguidos nos serviços de Psiquiatria e Neurologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e também na Associação Alzheimer Portugal.

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As conclusões deste estudo resultaram na tese de doutoramento de Ana Rita Silva DR

Os indivíduos, com idades compreendidas entre os 60 e 80 anos, foram, então, divididos em três grupos e sujeitos a estratégias de estimulação cognitiva diferentes durante seis semanas. Um dos grupos foi intervencionado com o uso da SenseCam, que capta imagens quotidianas vivenciadas pelos pacientes, outro com um treino convencional activo (exercícios como memorização de listas de compras e de associação caras/nomes, por exemplo) e o terceiro grupo registou o seu dia-a-dia num diário.

Os investigadores observaram, então, que a intervenção baseada na SenseCam "foi mais eficaz no desempenho cognitivo comparativamente com o programa de treino cognitivo activo e com o diário escrito", revela Ana Rita Silva, investigadora principal do estudo, citada pela UC. Os resultados da experiência vão ser publicados na revista internacional Current Alzheimer Research. A investigação demonstrou também que este método de ajuda passiva — que "não implica esforço ou motivação por parte do paciente", bastando apenas colocar a câmara ao pescoço— "aumenta o bem-estar geral do paciente e diminui a sintomatologia depressiva que afecta cerca de 40% de doentes com Alzheimer na fase inicial", afirma Ana Rita Silva.

"Ao fim de seis semanas de intervenção, o grupo que utilizou a SenseCam foi o que apresentou maior redução da sintomatologia depressiva", sublinha a investigadora da UC. As conclusões do estudo, do qual resultou a tese de doutoramento de Ana Rita Silva, "reforçam a importância do desenvolvimento de intervenções não farmacológicas para pacientes" com Alzheimer em fase inicial. "Embora a primeira linha de actuação nesta doença, após o diagnóstico, seja o tratamento farmacológico, há um consenso crescente relativamente à urgência de complementar esta actuação com a implementação de intervenções não farmacológicas, de modo a reduzir o impacto da doença", salienta a investigadora.

O projecto, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), é liderado por investigadores da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação (FPCEUC) e do Departamento de Engenharia Informática da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCTUC,) da Universidade de Coimbra.

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