Edvard Munch, para lá do grito

Uma nova exposição sobre o pintor norueguês está patente no museu com o seu nome, em Oslo. O inesperado comissário é o escritor Karl Ove Knausgård, autor da saga A Minha Luta.

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O Sol (1910-13) Museu Munch

Abre com O Sol (1910-13), prossegue com cenas luminosas e campestres, e depois aventura-se pelo bosque, “em telas de onde as pessoas vão desaparecendo, até desembocar no caos e na tormenta interior”. A descrição é da jornalista Andrea Aguilar, do El Mundo, a fazer a apresentação da exposição que no passado fim-de-semana foi inaugurada no Museu Munch, em Oslo. Tem por título Towards the Forest. Knausgård on Munch (Em direcção ao bosque. Knausgård sobre Munch), e não é uma exposição como outras que ao longo do tempo têm vindo a explorar a face mais visível da obra do autor de O Grito.

A presente mostra – que vai manter-se até 8 de Outubro na capital da Noruega – tem como comissário não um curador ou outra figura do mundo das artes, mas um escritor, Karl Ove Knausgård (n. Oslo, 1968), tornado famoso com a sua saga A Minha Luta (uma série de seis livros, cujos quatro primeiros já conheceram edição portuguesa, pela Relógio D’Água), que quis mostrar a obra, e o trabalho, de Edvard Munch (1863-1944) por detrás das suas pinturas mais mediáticas.

“Como Munch, Knausgård procurou penetrar na essência da arte, e é precisamente a sua essência não verbal – e o seu carácter emocionalmente vulnerável – aquilo que ele explorou nesta sua primeira experiência como comissário”, disse o director do Museu Munch, Stein Olav Henrichsen, na apresentação de Towards the Forest. Knausgård on Munch aos jornalistas, revelando que o convite ao escritor foi feito após uma conferência que este realizou sobre o pintor, em 2015.

Para preparar a exposição, Knausgård – que actualmente vive na Suécia – embrenhou-se demoradamente sobre as criações do pintor, tendo seleccionado, por entre um milhar delas, mais de uma centena de pinturas e 30 obras gráficas. “Interessaram-me aspectos da sua arte quando ele tinha 16, 20, 40, 80 anos”, disse o escritor-curador numa entrevista em que explicou o que privilegiou na sua pesquisa. “Ainda que a arte seja muito visual, quando entro numa exposição a primeira coisa que faço de forma instintiva é ler o título da obra e o ano. Eu não queria que a obra ficasse fechada, mas se tornasse aberta”, acrescentou.

No roteiro da exposição de Knausgård, que se desenvolve em quatro salas do Museu Munch – enquanto se espera a conclusão do novo edifício, um projecto do arquitecto espanhol Juan Herreros, que deverá ficar pronto em 2020 –, ressalta o facto de terem ficado de fora as obras mais conhecidas do pintor, com excepção do citado O Sol.

Nesta selecção em que muitas obras são exibidas pela primeira vez, a luminosidade vai depois escurecendo e os quadros vão revelando sucessivas atmosferas e estados de alma que mostram bem a luta particular de Munch com o pincel. “O bosque não é o lugar onde começar, há demasiadas coisas numa pessoa jovem e inexperiente que deseja triunfar e que precisa de conhecer o mundo, demasiadas coisas que se agitam, que brilham e queimam”, escreve Knausgård no catálogo.

Além desta publicação, a imersão do autor de A Minha Luta no mundo de Munch deu também origem a um novo livro, So much longing in such small surface (que poderá ser traduzido por Tanto querer em tão pouco espaço), que acaba de ser editado na Noruega e proximamente sairá também nos Estados Unidos.

“Entrevistei muitos artistas, cineastas e escritores sobre a sua visão de Munch. A questão é saber quem ele é hoje. Eu não queria que fosse tudo sobre mim, e o mesmo acontece com a exposição”, explica Knausgård.

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