Carris perdeu 43,3 milhões de viagens em seis anos

Este ano, a Carris quer aumentar em 2,1% o número de passageiros e inverter o declínio com contratação de motoristas e renovação da frota. Em Julho, há quatro novas carreiras de bairro em circulação.

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Sandra Ribeiro

A Carris perdeu 43,3 milhões de viagens nos últimos seis anos, ou quase 25% do total, num ciclo que a actual gestão quer agora inverter. Só em 2012, o maior ano de perda, assistiu-se ao “desaparecimento” de 28 milhões de passageiros face ao ano anterior (valor medido de acordo com o número de bilhetes validados).

Nesse período, em que Portugal mergulhou numa profunda recessão após a entrada da troika de credores, e o desemprego disparou, a Carris subiu os preços dos bilhetes em 20% (medida que voltou a aplicar no ano seguinte). A subida de preço é, aliás, uma das justificações dadas pela empresa, agora na esfera da autarquia de Lisboa, para a forte queda do número de passageiros. A este dado acrescem outros, como a redução da oferta (menos autocarros) e “menor qualidade de serviço”.

O mote é, agora, “inverter o declínio” e “promover a recuperação”, como destacaram o presidente da empresa, Tiago Farias, e o presidente da câmara, Fernando Medina, na apresentação do plano de actividades para 2017-2019, esta quarta-feira. De acordo com estes responsáveis, “a recuperação já começou”.

Nos primeiros três meses deste ano, assegura a Carris, houve uma subida de 0,7% de passageiros face a igual período do ano passado e foram contratados 30 novos motoristas. “Estes dados comprovam a interrupção de um ciclo brutal de declínio”, defendeu Fernando Medina.

Para este ano, a meta é chegar aos 144 milhões de passageiros, ou seja, crescer 2,1%. A estratégia para atingir esse objectivo apoia-se na redução, já aplicada, dos preços dos passes para idosos (com 65 anos ou mais) e gratuitidade para crianças até aos 12 anos. A manutenção do crescimento do número de passageiros será feita à custa de uma melhoria generalizada no serviço, frisou Tiago Farias. Para isso, a empresa prevê contratar 200 novos motoristas e adquirir 250 novos autocarros (a gás natural ou 100% eléctricos), até 2019.

PÚBLICO -
Aumentar

O primeiro concurso para o reforço da frota é lançado este mês para a compra de 170 veículos - 125 autocarros standard e 45 articulados. A três anos, a Carris prevê investir 61 milhões na renovação da frota. Este valor faz parte de um total de 80 milhões que a empresa vai destinar ao triénio 2017-2019.

Foi ainda anunciado que quatro das 21 carreiras de bairro começam a circular em Julho: em Marvila, Olivais, Parque das Nações e Santa Clara.

Com vista a reduzir o número de carros dentro da cidade, Carris vai criar, em parceria com a EMEL - empresa municipal de mobilidade e estacionamento -, “tarifas especiais” nas bicicletas públicas partilhadas e analisa a possibilidade do estacionamento nos parques periféricos ter “um valor simbólico” ou ser gratuito para utentes - uma das reivindicações dos vereadores do PCP na câmara municipal. A medida é aplicada “em breve” no novo parque de estacionamento na Ameixoeira.

A empresa está ainda a estudar a possibilidade de ligar Santa Apolónia à Gare do Oriente, depois da expansão já anunciada do eléctrico 15 da Praça do Comércio a Santa Apolónia. E tem em cima da mesa a implementação de um eléctrico rápido nas ligações da Alta de Lisboa a Entrecampos.

Previsão de lucro este ano

Este ano, a empresa prevê um saldo positivo, com gastos operacionais de 103,6 milhões e rendimentos de 115,5 milhões. Uma forma de manter as contas equilibradas, agora que a Carris está limpa das dívidas acumuladas no passado (e que ficaram na administração central).

De acordo com Tiago Farias, a Carris deverá fechar as contas de 2017 com um lucro de dois milhões de euros. Embora o relatório & contas (R&C) de 2016 ainda não tenha sido divulgado, o presidente da empresa, numa resposta aos jornalistas, referiu que a Carris teve um prejuízo de 16,8 milhões de euros nesse período. No entanto, as contas não podem ser comparadas com a estimativa de lucro para este ano, já que a Carris ficou livre de um enorme passivo.

É, aliás, à administração central que caberá, conforme explicou Fernando Medina, entregar ao Banco Santander Totta o valor que está por pagar relacionado com os contratos swap. Depois de o Estado e o banco terem chegado a acordo, as quatro empresas de transportes públicos envolvidas nestes acordos de financiamento (Metro de Lisboa, Carris, STCP e Metro do Porto) têm de pagar as mensalidades que ficaram por entregar, e que rondam, no global, os 530 milhões. No caso da Carris -- sem que se saiba o valor exacto em causa -- a dívida será paga nos próximos meses.  

Em breve, na Carris

  • Início das carreiras de bairro de Marvila, Olivais, Parque das Nações e Santa Clara, em Julho
  • Lançamento da aplicação móvel experimental, em Julho
  • Extensão do eléctrico 15 (Praça da Figueira - Algés) até Santa Apolónia, para dar resposta à afluência ao futuro terminal de cruzeiros
  • Criação de novos corredores de bus que cruzem os principais interfaces multimodais
  • Adopção de “tarifas especiais” no sistema público de bicicletas partilhadas para utentes
  • Wi-fi em todos os autocarros e eléctricos
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