Primeiros meses de 2017 trazem aumento da conflitualidade

Entre Janeiro e Março, o Ministério do Trabalho recebeu 123 pré-avisos de greve, um aumento de 23% face a 2016. Na função pública, há greves marcadas em alguns sectores e uma greve nacional da CGTP agendada para 26 de Maio.

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No 1.º de Maio a CGTP deixou avisos ao Governo NELSON GARRIDO

A julgar pelos pré-avisos de greve que chegaram ao Ministério do Trabalho, o primeiro trimestre de 2017 trouxe sinais de um aumento da conflitualidade nas empresas públicas e privadas. Nos três primeiros meses do ano, os sindicatos entregaram 123 pré-avisos de greve, mais 23% do que no mesmo período de 2016. E até ao Verão, há greves marcadas no sector da restauração, nos transportes e na função pública, além de uma manifestação nacional anunciada pela CGTP para o 3 de Junho.

Apesar do aumento dos pré-avisos no arranque de 2017, os números estão longe dos quase 450 registados em 2013 ou dos 350 que deram entrada no início de 2015.

Nesta contabilização, não entram as greves da função pública, como a paralisação dos trabalhadores não docentes de 3 de Fevereiro (que juntou sindicatos da UGT e da CGTP e levou ao encerramento de dezenas de escolas) ou a greve dos médicos que decorre na quarta e na quinta-feira.

Tanto a UGT como a CGTP valorizam a reposição de direitos aos funcionários públicos e aos trabalhadores das empresas públicas, mas  começam a surgir sinais de que ainda há muito caminho a percorrer tanto no sector público como no privado. Exemplo disso é o desafio que Arménio Carlos, líder da CGTP, deixou nas celebrações do 1.º de Maio: "É preciso ir mais longe, intensificar a luta em cada local de trabalho".

“Não deixando de valorizar o que tem sido feito, começa a crescer um movimento de algum mal-estar e um sentimento de frustração quanto à forma como o Governo está a tratar certas questões”, nota João Torres, dirigente da CGTP.

Essa insatisfação é particularmente visível nos trabalhadores da função pública. “A manutenção do congelamento das progressões está a criar um mal-estar significativo”, refere.

Com o Orçamento do Estado (OE) para 2018 em preparação, a Frente Comum (que junta os sindicatos da função pública da CGTP)  já convocou uma greve para 26 de Maio. O objectivo é reivindicar aumentos salariais, pagamento do trabalho extra e o alargamento das 35 horas aos trabalhadores com contrato individual que trabalham para o Estado. Os professores do ensino especial também têm uma greve agendada para Junho.

PÚBLICO -
Aumentar

No sector privado e em algumas empresas públicas os sinais também são de alguma impaciência. “Há trabalhadores que não vêem os seus salários aumentar há oito, nove ou dez anos e ninguém pode pactuar com uma situação dessas”, refere o dirigente , acrescentando que há bloqueios na negociação colectiva que levaram, por exemplo, à greve recente na Transtejo e na Soflusa.

João Torres dá conta de greves em curso na Petrogal, em Sines, em empresas de transportes ou no sector metalúrgico. “Quase todos os dias nos cai aqui [na sede da CGTP] notícia desta ou daquela empresa”, exemplifica.

Para Sérgio Monte, dirigente da UGT responsável pelas matérias da negociação colectiva, “é natural que as greves apareçam mais no início do ano”. “É uma forma de pressionar as negociações, principalmente numa altura em que a negociação colectiva não tem feito o seu caminho”, explica, acrescentando que algumas acabam por não se concretizar.

O dirigente alerta que é sobretudo na função pública que a pressão neste momento mais se coloca. A luta mais premente é, agora, a dos técnicos de diagnóstico e terapêutica, que há vários anos lutam para verem a sua carreira reconhecida e decidem nos próximos dias se avançam para uma greve por tempo indeterminado.

Já uma greve generalizada na função pública, aprovada no último congresso da UGT, está à espera dos desenvolvimentos do acordo de negociação colectiva assinado com o Governo no final da semana passada.

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