O Governo quer um Orçamento precoce porque...

António Costa sabe bem que margem quer dar ao Bloco e PCP para o próximo Orçamento. E os partidos sabem a vantagem de antecipar um acordo para 2018.

Se as negociações dos orçamentos do Estado entre partidos davam para fazer um livro, a que se conta sobre Vítor Gaspar teria que estar no primeiro capítulo. Estaríamos em plena época da troika e Gaspar apresentou aos ministros do PSD e CDS os plafonds que cada um teria para gerir. Consta que, como sempre, os ministros os contestaram e que Gaspar lhes deu até ao fim-de-semana para apresentarem alternativas. Mas que, na reunião seguinte, lhe explicou que o Orçamento tinha que ir como estava, porque o sistema informático demorava uns dias a colocar todos os dados - e já não havia tempo para introduzir alterações. No fundo, a mensagem era simples: o documento estava feito, não havia mais margem para conversa.

Parece que, este ano, António Costa, Catarina Martins e Pedro Filipe Soares querem fechar um acordo sobre o Orçamento de 2018 dois meses e meio antes do prazo que está fixado. Dizia o Expresso em Março, quando pela primeira vez se falou deste acordo, que o Governo quer "evitar uma tensão negocial em plena campanha autárquica". Ou, na versão do Bloco, para que cada partido possa ir para a campanha descansado. Esta é a versão A da história.

A versão B também é possível: se conseguirem um acordo a tempo sobre a integração de precários, o descongelamento de carreiras, os novos escalões do IRS e as pensões antecipadas sem penalizações, os três partidos terão uma campanha bem mais fácil pela frente, com um "tetra" para festejar (agora que o Benfica pôs o termo na moda). Se a isto juntarmos a exigência do Bloco para um reforço de investimento no SNS e na Educação e podemos até chamar-lhe um penta.

O único senão desta versão precoce do OE2018 é que não é realista fechar um orçamento em Julho, fazendo contas para um ano que começa em Janeiro. Como não foi em 2016, obrigando Mário Centeno a fazer uma actualização das estimativas em Outubro, na hora de entregar o documento (e mesmo assim, fazendo fé que corra bem).

Tudo isto só fará sentido se partirmos do pressuposto de Vítor Gaspar, na tal história que se conta na velha coligação. Fará sentido se o Governo, começando no ministro das Finanças e no primeiro-ministro, já souber o que tem para dar aos seus parceiros em cada uma das parcelas do documento - deixando uma boa almofada de lado, para garantir que não tem um problema cinco meses depois, quando a execução começar. Se for assim, fechar um Orçamento em Julho pode ser um bom negócio para António Costa. Quanto ao Bloco e PCP, resta-lhes esperar que Centeno não faça como Gaspar - ou garantir que o sistema informático das Finanças fica aberto até mais tarde.

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