Um partido descontente com Le Pen... escolhe outra Le Pen?

Críticas internas à líder da Frente Nacional têm centro na sobrinha, Marion, muito próxima do avô Jean-Marie.

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Marine anunciou uma profunda reforma da Frente Nacional IAN LANGSDON/EPA

Num partido em que a palavra do chefe vale ouro, e a chefe se chama Le Pen, a derrota de Marine por bastante menos que os 40% que a Frente Nacional tinha colocado como fasquia a atingir nestas eleições presidenciais, deu origem a críticas nunca vistas. Contra ela e contra os membros mais próximos da sua direcção, como Florian Philippot. A sobrinha, Marion Maréchal-Le Pen, é o centro desta revolta - mas isso não quer dizer que tenha pés para andar.

O desencanto começou a ouvir-se em voz alta após a má prestação de Marine Le Pen no debate com Emmanuel Macron. “Andamos a matar-nos há cinco anos para ela dar cabo de tudo numa noite”, disse um militante a Dominique Albertini, jornalista do Libération especialista em extrema-direita.

Confirmado nas urnas o mau resultado desse debate, Marine Le Pen tentou chutar a bola para a frente, anunciando “uma profunda reforma” do partido, que pode incluir a mudança de nome da Frente Nacional. O seu pai, Jean-Marie Le Pen, um dos fundadores da formação de extrema-direita, veio dizer que acha mal - mas ela já o expulsou do partido.

Para o velho Le Pen, o que tramou a eleição da sua filha foi a estratégia de “viragem à esquerda” que ela empreendeu, incentivada pelos conselhos de Florian Philippot, seu vice-presidente, mas detestado pela corrente mais radical representada por Marion Maréchal-Le Pen, a neta de Jean-Marie. Avô e neta são muito próximos ideologicamente, note-se.

“A proposta de saída do euro, um dos assuntos que inquieta os franceses”, foi uma das ideias controversas, sublinhou Marion Maréchal-Le Pen. A sua tia só “tardiamente” tentou “adaptar” a sua posição para dar maior segurança aos eleitores, disse a deputada da FN. Para a neta de Jean-Marie e seus apoiantes, este é um exemplo dos temas “à esquerda” que contaminaram o programa de Marine Le Pen. “Foram esquecidos alguns temas, como a família, a identidade, a segurança”, disse ao Le Monde um apoiante de Marion, criticando “a czarina e o seu Rasputine”, Philippot.

Mas quem manda no partido, por ora, é Marine Le Pen, e o próximo congresso da FN, em calendário normal, só está previsto para 2018. É pouco provável a hipótese de um golpe de Estado - a não ser que os resultados das legislativas de Junho sejam completamente desastrosos.

Marine Le Pen, apesar de ter perdido, ficando abaixo das expectativas, conseguiu a maior votação de sempre para a Frente Nacional - aproximou-se dos 11 milhões de eleitores. O desafio será manter a mobilização dos militantes.

Na verdade, tem de encontrar alguma maneira de manter estes eleitores interessados na Frente Nacional durante bastante mais tempo, se mantiver as suas ambições presidenciais. Se tudo correr bem a Macron, pode ser reeleito daqui a cinco anos, com 44 anos. Marine Le Pen não pode fugir de ter dez anos a mais que o novo Presidente francês. Mais jovem, e sempre pronta a rivalizar com a tia, é Marion Maréchal-Le Pen hoje tem só 27 anos. É só fazer as contas e imaginar o futuro político desta jovem Le Pen… Marine que se cuide.

 
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