Factura com importações energéticas cai para o valor mais baixo em 12 anos

O saldo importador de energia atingiu no ano passado o valor mais baixo desde 2004 e ficou em 3222 milhões de euros.

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Portugal voltou a comprar mais petróleo e a pagar menos por ele no ano passado Miguel Manso

A factura portuguesa com a importação de produtos energéticos está a cair há quatro anos consecutivos e em 2016 atingiu o valor mais baixo desde 2004, de 3222 milhões de euros, segundo os dados da Direcção-geral de Energia e Geologia (DGEG).

O valor registado em 2016 representa uma melhoria em termos nominais de 12,9% face aos 3699 milhões de 2015, assinala a DGEG, no relatório com data de 28 de Abril. Apesar de se ter verificado uma “redução generalizada das quantidades importadas” da maioria dos produtos energéticos em 2016, a evolução da factura deveu-se essencialmente, e mais uma vez, à redução dos preços do petróleo (cuja importação, em volume, até aumentou).

O saldo importador (o valor das importações excluindo as exportações) beneficiou de “uma conjuntura internacional bastante favorável em termos de baixas cotações do crude e seus derivados”, refere o relatório da entidade tutelada pelo Ministério da Economia. No ano passado, a cotação média do Brent (a referência para as importações portuguesas) atingiu, pela primeira vez desde 2004, um valor abaixo dos 50 dólares por barril (43,55 em dólares e 39,38 em euros) o que traduz uma redução de 16% face a 2015, assinala a DGEG.

Esta baixa das cotações contribuiu para que o valor global das importações portuguesas de produtos energéticos se tenha reduzido em 20% (para cerca de 6500 milhões de euros). O reverso da medalha é que o valor das exportações também caiu cerca de 25% em termos médios (para 3288 milhões de euros).

O peso do saldo importador no Produto Interno Bruto (PIB) reduziu-se em 0,2 pontos, para 1,8%. A DGEG (que passou a ser liderada por Mário Guedes no mês passado) realça que desde 2002 (ano em que o peso do saldo importador no PIB foi de 2,1%) não se atingiam “valores tão baixos como em 2016 e 2015”. Quanto ao peso dos produtos energéticos no total das importações da balança de mercadorias, diminuiu de 13,5%, para 10,7%.

Ásia supera África como fornecedor de crude

Olhando para as importações de petróleo e refinados, nas primeiras verificou-se uma subida de 2,6% e nas segundas, uma redução de 8,8%, com custos que caíram 17% e 20%, respectivamente (no conjunto importaram-se 17.676 milhões de toneladas destes produtos, por 5123 milhões de euros). Já as exportações de refinados (que representam quase 90% do valor total exportado) diminuíram cerca de 8% em volume e perderam quase um terço do valor, atingindo 2834 milhões de euros.

O relatório da DGEG assinala que em 2016, “e pela primeira vez ao longo dos últimos três anos”, a Ásia substituiu África enquanto principal fornecedor de petróleo bruto a Portugal. Foi do continente asiático (de países como o Azerbaijão, o Cazaquistão, a Arábia Saudita e o Iraque) que veio mais de metade (55,5%) dos 14,2 milhões de toneladas de crude comprado no ano passado. Assim, as importações asiáticas cresceram 41,4% face a 2015, enquanto as africanas caíram 24,9% (representando mais de um terço do total).

Embora Angola continue a ser o principal fornecedor português (3,5 milhões de toneladas importadas), o volume importado à Rússia quadruplicou face a 2015 (para 2,7 milhões de toneladas) e as importações do Iraque e do México quase triplicaram e duplicaram, respectivamente, para 713 mil e 406 mil toneladas. O Azerbaijão, a Arábia Saudita, o Cazaquistão e a Argélia foram países que enviaram para Portugal mais de um milhão de toneladas de crude no ano passado.

Mais electricidade e biocombustíveis exportados

No caso específico da electricidade, os dados da DGEG revelam que a quantidade de energia eléctrica que Portugal produziu e exportou mais que triplicou no ano passado, atingindo os 7057 gigawatts hora (GWh). Num ano marcado por forte produção eléctrica de fontes renováveis (essencialmente hídrica e eólica) e pela paragem de centrais nucleares em França, as receitas com estas vendas mais que duplicaram, para 260 milhões de euros. Em sentido inverso, o país importou menos 56,5% de electricidade e pagou uma factura de 88 milhões de euros (menos 62,5%).

No caso do gás natural, Portugal comprou mais 3,7% deste combustível fóssil, com um custo de 976 milhões de euros (menos 22%), mas reexportou ligeiramente menos do que no ano passado (uma descida de 0,5%), com receitas de 55 milhões de euros (menos 32%).

À semelhança da electricidade, no ano passado também cresceram as exportações de biocombustíveis (mais 50% em volume), que renderam 44 milhões de euros (mais 44%). Quanto à quantidade importada, reduziu-se a metade e custou 35 milhões.

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