Cinco sugestões de leitura: dos guerreiros da Internet às dúvidas sobre a Baleia Azul

Cinco jornalistas do PÚBLICO dão sugestões de leitura, desde um activista do mundo da moda às novas crónicas de Ricardo Araújo Pereira.

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Um dos protagonistas da reportagem do Guardian DR
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James Scully Washington Post

 

Os guerreiros da Internet

Guardian

 

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Hugo Torres, editor online

O selo “Parental Advisory” é um clássico nos discos desde os anos 1990. Ainda encontramos o alerta para “conteúdo explícito” com que os jovens são confrontados quando ouvem música. É obra americana, claro, para proteger os valores familiares do calão infecto, de insinuações directas e indirectas de cariz sexual ou de tiradas violentas. Com a bolinha no topo do ecrã de televisão e as classificações etárias no cinema, os pais quase se sentiam no controlo. Depois veio a Internet – e os comentários online. Não há etiqueta que proteja a juventude. Qualquer plataforma, qualquer publicação está sujeita a servir de palco à mais aguerrida hostilidade, aos apontamentos mais pornográficos. O botão de denúncia está ali ao lado, mais para nos dar conforto e sentimento de alguma civilidade do que para ter mão no “conteúdo explícito”. No trabalho que fez para nos mostrar quem são os artistas por detrás da virulência que empesta a Internet, o Guardian começa exactamente por aí: “Este vídeo contém linguagem imprópria”. É verdade: “Atropelem esses cabrões”; “Estamos à espera de um ataque massivo por parte dos paneleiros-liberais sobre estes pervertidos todos”; “Aquela puta irritou-me mesmo”. O jornal britânico esteve no Reino Unido, na Noruega, nos EUA, na Rússia e no Líbano para saber o que leva as pessoas a reagir online com um ímpeto nada comum nas relações offline. No processo, descobriu humaníssimas contradições: do racista que diz não o ser, e que defende Anders Breivik apesar de considerar “indefensável” o que o terrorista fez, aos xenófobos casados com imigrantes. “Eu sou um imigrante” — recorda o homem. “Não, tu és meu marido” — rectifica a mulher. Ver

Um activista no mundo da moda

Washington Post

 

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Bárbara Wong, editora do Life&Style

Foi director de casting e desde a década de 1990 que luta pelas mudanças no mundo da moda, como ter passerelles com maior diversidade étnica. Surpreendentemente, James Scully quer que as modelos sejam tratadas como seres humanos. Esta é, segundo o The Washington Post, uma “ideia radical”. Aos 52 anos, Scully parece um velho do Restelo, a exigir que as jovens tenham direitos e sejam tratadas com respeito.

Sim, parece uma ideia nova e radical porque há muito que a indústria da moda se habituou a tratar as modelos como coisas, como uns cabides onde se pendura a roupa que os clientes vão comprar. E é assim que as têm tratado.

Por isso, o que é novo é este pôr o dedo na ferida que Scully, que conhece o mundo de que fala, protagoniza. Foi assim há dois meses quando se soube que cerca de 150 candidatas a apresentar a colecção de Outono/Inverno da Balenciaga passaram horas numas escadas à espera de serem seleccionadas, sem comer e às escuras, enquanto os directores de casting foram almoçar. Scully denunciou-o no Instagram, assim como outros abusos como contratar menores, pagar em roupa em vez de em dinheiro, ou não distribuir água pelas jovens quando estas estão a trabalhar. Já para não falar da pressão que as modelos sentem e que se traduzem em distúrbios alimentares ou no seu recurso a drogas.

Scully alerta que as redes sociais dão a ideia de que ser modelo é uma profissão de sonho e até pode ser se as jovens forem tratadas com respeito em vez de serem “sugadas, traumatizadas e cuspidas” de regresso às suas vidas, com mazelas, é certo. Do seu lado tem as raparigas que defende e que lhe agradecem porque têm medo de falar e há alguém, com credibilidade, que fala por elas. Ler

Baleia Azul, uma história mal contada

Snopes/Buzzfeed

 

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Alexandre Martins, jornalista de mundo

O facto em Maio de 2017 é que existe um jogo, chamado Baleia Azul, criado com o objectivo de levar adolescentes a cometerem suicídio. É difícil confirmar ou desmentir que esse jogo existe, mas há indícios de que não existia no ano passado, quando o jornal russo Novaya Gazeta falou dele. Expliquemos: de acordo com alguns textos que foram ficando perdidos no oceano de notícias sobre o jogo, o artigo do Novaya Gazeta tinha problemas a que alguns especialistas se referem como “iliteracia online” – isto é, a dificuldade em perceber o que é verdade ou mentira nos grupos do Facebook ou de outras redes sociais, como a VKontakte da Rússia. O que parece certo é que uma adolescente russa se suicidou em Novembro de 2015 depois de ter partilhado várias mensagens sobre suicídio, e que há vários grupos na rede social russa sobre o tema do suicídio (como haverá no Facebook e em muitos outros sites). Em Maio do ano passado, a Novaya Gazeta publicou um artigo em que fazia referência à existência de “grupos da morte” no VKontakte que usavam um jogo chamado Baleia Azul ou "Acorda-me às 4h20" para levar adolescentes a cometerem suicídio. Esse artigo foi criticado por alegadamente conter erros grosseiros – nenhum membro desses grupos foi contactado e o psicólogo ouvido é filho do autor. Segundo alguns sites de fact checking e sobre o comportamento de adolescentes na Internet, a ideia de que existe um jogo chamado Baleia Azul com o objectivo de levar adolescentes a cometerem suicídio foi-se formando com o tempo, pela mão de jovens que queriam aproveitar os "likes" que as notícias podiam dar e tentar ganhar dinheiro com publicidade nesses grupos. Resumindo: apesar de provavelmente não ser verdade em Maio de 2016, o jogo Baleia Azul pode ter sido criado com o objectivo de transformar em dinheiro a atenção sobre o assunto ou, simplesmente, brincar com a situação – algo comum em fóruns e outros grupos na Web, onde se encontram brincadeiras de mau gosto sobre qualquer assunto.

O que tem o crescimento do populismo a ver com a economia?

EEAG

 

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Luís Villalobos, jornalista de economia

Primeiro veio o "Brexit", e depois Donald Trump, apenas para destacar os maiores e mais recentes impactos. Principalmente no segundo caso, pela sua relevância a nível mundial, e porque na verdade os britânicos sempre olharam desconfiados para a construção europeia, ainda não passou a sensação de que estamos a assistir a uma ficção. Mas não estamos. E vale a pena pensar, antes do resultado das eleições francesas (mas também depois, porque a conjuntura está de feição para as palavras de ordem com ideias simplistas) porque é que há uma vaga de populismos, e nacionalismos. Ouvir e pensar ajuda a esse exercício, tal como ler. E, neste último capítulo, vale a pena espreitar esta análise sobre a ascensão do populismo e as políticas económicas. “It’s not so simple” é uma das ideias-chave. Pois não. Ler

Ricardo Araújo Pereira vezes dois

Folha de São Paulo

 

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Isabel Coutinho, editora de cultura

Quem nunca se cansa de ler as crónicas de Ricardo Araújo Pereira na Visão e fica semanalmente com vontade de ler ainda mais, tem agora a oportunidade de o fazer. O humorista português escreve agora às sextas-feiras no jornal brasileiro Folha de S. Paulo. Depois de no ano passado ter participado na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), Ricardo está de partida para o Brasil onde vai promover este mês o livro A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram Num Bar (editado pela Tinta-da- China no Brasil).

 “Morrer é chato” é o título da crónica desta semana. Mas a minha preferida é a da semana anterior, “Aquele momento”, sobre o que se sente quando hoje se chega aos 43 anos. Mas Ricardo já escreveu cinco crónicas e podem ser lidas aqui

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