Eleições locais sorriem a May entre novo desaire do Labour e colapso do UKIP

No ensaio para as legislativas de Junho, conservadores conseguiram o melhor resultado desde 1974 para o partido no poder. Trabalhistas perderam Glasgow.

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Os trabalhistas de Jeremy Corbyn arriscam-se a ter em Junho um dos piores resultados em décadas Will Oliver/EPA

Se as eleições locais no Reino Unido eram um ensaio para as legislativas de 8 de Junho, a primeira-ministra britânica, Theresa May, tem todas as razões para sorrir: não só os conservadores aumentaram o número de autarquias e conselheiros nas dezenas de entidades que foram a votos na quinta-feira, infligindo pesadas derrotas aos trabalhistas em alguns dos seus bastiões, como o partido antieuropeu UKIP quase desapareceu do mapa autárquico britânico.

Com a contagem ainda a decorrer, John Curtice, especialista em sondagens e comportamento eleitoral, explicou na BBC que os resultados apontavam para uma transferência de votos a favor do Partido Conservador na ordem dos sete pontos percentuais – um resultado que, a ser transposto a nível nacional, pode culminar num duríssimo desaire para o Labour nas legislativas, dando a May uma maioria no Parlamento superior a cem deputados.

Estes resultados “são muito encorajadores”, admitiu à mesma estação o ministro da Defesa, Michael Fallon, insistindo, no entanto, que as eleições locais não oferecem uma “previsão precisa” do que irá acontecer dentro de cinco semanas. Também o trabalhista John McDonnell, porta-voz para as Finanças e “número dois” de Corbyn, admitiu que os resultados não foram os esperados, mas disse que os trabalhistas “não foram esmagados como algumas pessoas estavam à espera”, o que mostra que o foco do partido nas questões económicas e sociais – ao invés do "Brexit", tema único de campanha da primeira-ministra – está a agradar aos eleitores.

Dificilmente, no entanto, o Labour encontra razões para optimismo. O partido perdeu mais de 200 lugares nas 88 entidades locais que foram a votos (a totalidade das autarquias na Escócia e País de Gales, além de 34 em Inglaterra), deixando de ter maioria em quatro delas, incluindo em Glasgow, cidade que controlava há quase 40 anos e que era um dos seus últimos bastiões na Escócia. A única boa notícia era a eleição do ex-deputado Andy Burnham, para mayor da nova autoridade metropolitana de Manchester, mas em compensação o partido foi inesperadamente derrotado em Tees Valley, área no nordeste de Inglaterra tradicionalmente trabalhista.

Já os conservadores, conseguiram o melhor resultado em eleições locais para um partido no Governo desde 1974, elegendo mais 400 conselheiros do que em 2013, incluindo na Escócia e no País de Gales, há anos vistos como terrenos hostis para os tories.

Um desfecho que resulta também em grande parte do colapso do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), em crise praticamente desde o referendo que em Junho do ano passado ditou a saída do país da União Europeia. Desde que chegou a Downing Street, May assumiu como sua a tarefa de concretizar o “Brexit” (e fazê-lo de forma mais radical do que muitos admitiriam), acabando por canibalizar a agenda do UKIP, que com a saída de Nigel Farage, perdeu aquele que o único rosto conhecido do grande público. Paul Nuttall, o actual líder, afirmou que o UKIP foi “vítima do seu próprio sucesso”, depois do bom resultado de 2013, mas dentro e fora do partido vários admitem que a formação tem os dias contados.

Segundo Matthew Goodwin, analista da Chatham House e especialista nos movimentos da direita radical, as pesquisas recentes indicam que apenas 49% dos eleitores que votaram no UKIP em 2015 admitem voltar a fazê-lo a 8 de Junho – quase um terço pensam votar nos conservadores. Este colapso é também uma má notícia para o Labour, já que esta transferência de votos aumenta a probabilidade de os tories conquistarem dentro de cinco semanas os círculos trabalhistas que votaram a favor do “Brexit” no referendo do ano passado.

 

 

 

 

 

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