Relação entre Portugal e Inglaterra pode ser mais antiga do que se pensava

Novo livro do historiador Vítor Pinto fala no começo de uma ligação entre Portugal e Inglaterra em 1147, quando os cruzados ingleses ajudaram D. Afonso Henriques na conquista de Santarém e Lisboa.

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Estátua de D. Afonso Henriques em Guimarães Nelson Garrido

O historiador Vítor Pinto defende que a cooperação entre Portugal e Inglaterra remonta ao século XII, 239 anos antes do Tratado de Windsor, que oficializa "a aliança diplomática mais antiga do mundo ainda em vigor".

Vítor Pinto faz estas afirmações na obra "Uma Viagem aos Bastidores do Casamento de D. Filipa de Lencastre e D. João I", que é apresentada no sábado às 18h, na Livraria Bertrand do Alameda Shopping, no Porto, pelo doutorado em História Medieval Luís Miguel Duarte, da Universidade do Porto.

O casamento entre o rei D. João I e Filipa de Lencastre, neta do rei Eduardo III de Inglaterra, celebrou-se no Porto a 2 de Fevereiro de 1387, há 630 anos.

D. João, filho extraconjungal de D. Pedro I e de Teresa Lourenço, tinha sido recentemente entronizado e derrotara as tropas castelhanas no campo de Aljubarrota, em 1385, garantindo a independência de Portugal.

O apoio inglês à causa de D. João, Mestre de Avis, na luta pela independência de Portugal, foi "crucial", mas a coroa inglesa tinha já prestado apoio ao rei D. Fernando de Portugal nas denominadas Guerras Fernandinas, entre 1369 e 1380, entre Portugal e o vizinho reino de Castela, realça o historiador.

Ligação em 1147

Portugal e Inglaterra celebraram em Maio de 1386 o Tratado de Windsor, renovando a aliança firmada entre os dois reinos em 1373.

Todavia, o investigador aponta o começo de uma ligação entre Portugal e Inglaterra em 1147, quando os cruzados ingleses ajudaram D. Afonso Henriques na conquista de Santarém e Lisboa.

Vítor Pinto afirma que o casamento é a face visível ao povo e ao mundo de então da aliança entre Portugal e Inglaterra, mas os dois países cooperavam desde 1147 quando criaram "uma espécie de ligação especial" e que "ao longo dos séculos seguintes se tornaria em algo mais sério do que uma simples ligação".

O historiador realça que esta união entre D. João I e D. Filipa de Lencastre "daria ao reino uma geração de príncipes ilustres, imortalizados como Ínclita Geração", entre eles D. Henrique, que nasceu também no Porto, sete anos após o enlace nupcial, e que liderou o projecto das navegações ultramarinas.

Filipa de Lencastre foi rainha de Portugal entre 1387 e 1415, quando morreu vítima de peste, tendo sido aclamada no dia 14 de Fevereiro de 1387, no Porto.

"As gentes desceram à rua para aclamar a nova rainha de Portugal. O rei em panos de ouro, montando um magnífico cavalo branco. Acompanhava a sua esposa. Estava oficialmente decretado: a festa começara", descreve o historiador.

Nesta obra, o autor propõe-se colmatar o que considera "algumas falhas na historiografia portuguesa" no tocante a esta temática diplomática, tendo voltado "a reler e a interpretar as fontes disponíveis, nomeadamente as crónicas", realçando que estas narrativas históricas "eram elaboradas por gente que normalmente escrevia bem", referindo que esta "beleza narrativa" é encantatória e engana o historiador.

Vítor Pinto chama ainda atenção para o facto de que as crónicas eram habitualmente encomendas e cabe aos historiadores da actualidade "encarar as crónicas como fonte histórica com as devidas cautelas".

A obra, que é apresentada no sábado no Porto, divide-se em 12 capítulos e inclui uma cronologia detalhada dos "laços de amizade e assistência mútua entre Portugal e a Inglaterra" entre 1147 e 1387, as genealogias das casas reais de Portugal e de Leão e Castela, e ainda da casa ducal de Lencastre.

Para o historiador, este ensaio serve para "homenagear e divulgar este importantíssimo marco na história de Portugal e também na de Inglaterra" que foi o casamento de D. João I com D. Filipa de Lencastre, e "seria deveras injusto não recordar esta efeméride".

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