Macron venceu o debate do século em França por KO

Jornais franceses e outros europeus e também norte-americanos dão vitória ao candidato centrista no debate contra a nacionalista Marine Le Pen. Todos salientam que foram duas horas e meia "brutais", com insultos e ataques pessoais.

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A maioria dos jornais considera que Macron esteve melhor nas questões sobre economia Eric Feferberg/Reuters

O primeiro e último debate entre os candidatos à Presidência de França tem presença garantida nas primeiras páginas e no topo dos sites da maioria dos jornais de referência europeus e norte-americanos. Para quase todos eles quem esteve melhor foi Emmanuel Macron, e nenhum deu a vitória a Le Pen, mas o que mais salta à vista é a brutalidade da troca de palavras entre os dois.

"Macron e Le Pen expõem as suas diferenças num debate brutal", salienta o francês Le Monde na análise ao debate na sua edição online. E prossegue no mesmo tom: "Os dois finalistas da eleição presidencial enfrentaram-se, quarta-feira, durante duas horas e meia com trocas de insultos e acusações ad hominem."

Na apreciação ao debate ponto por ponto, o Monde destaca "o festival de erros e de intoxicação de Marine Le Pen", dando como exemplo o momento em que a candidata da extrema-direita disse que Macron era ministro da Economia de François Hollande quando a venda da empresa de telecomunicações francesa SFR foi negociada com a Altice/Numericable, em Março de 2014 – nessa Primavera, o ministro da Economia era Arnaud Montebourg; Emmanuel Macron só entrou em Agosto do mesmo ano.

Na primeira página da edição em papel do Le Monde está uma fotografia de Marine Le Pen de dedo indicador em riste, a apontar para Macron, que está fora da imagem, e também para o leitor. "Nas vésperas da eleição presidencial, o debate televisivo entre os dois candidatos foi de uma brutalidade inédita", escreve o jornal. E entrega a Marine Le Pen um outro papel que não a de candidata à Presidência: "A candidata da Frente Nacional pôs-se mais no lugar de chefe de uma oposição radical do que no de que candidata à Presidência da República."

O Libération – mais à esquerda – afirma na sua edição online que Marine Le Pen "soterrou o debate numa avalancha de intoxicação". O Libé chama-lhe "um debate impossível", porque em frente de Macron estava Le Pen – o jornal lista uma série de "insinuações sem provas" por parte da candidata da extrema-direita, "que confirma um pouco mais o naufrágio de Le Pen".

Na primeira página da edição em papel, uma imagem dos dois candidatos durante o debate, com sorrisos nervosos, e o resumo: "Marine Le Pen multiplicou os ataques e as provocações, evitando debater as questões de fundo com Emmanuel Macron, que jogou a cartada da razão."

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O Le Figaro alinha com os outros jurados que dão a vitória a Macron por KO e escreve que o candidato "amparou o choque e impôs-se a Le Pen": "Num debate entre as duas voltas de uma brutalidade inédita, e durante o qual faltou muitas vezes a moderação, o líder do En Marche! dominou a sua adversária nas questões sobre economia."

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"Macron conquista a audiência"

De França para o Reino Unido, o britânico The Guardian não chama o debate à primeira página da edição em papel, mas tem esta manhã o assunto em destaque no seu site. E o resumo da análise é o mesmo – um debate em que os dois candidatos "trocaram insultos". O jornal britânico destaca ainda uma sondagem rápida feita após o debate que deu a vitória ao candidato centrista.

O site da BBC é ainda mais taxativo, e a sua análise vai para além do que se passou no estúdio de televisão, com base na mesma sondagem aos telespectadores: "Macron conquista a audiência do debate francês." Para a BBC, Emmanuel Macron "foi melhor num debate com Marine Le Pen dominado por querelas".

Os principais jornais espanhóis têm nas suas primeiras páginas desta quinta-feira referências ao debate das presidenciais francesas, mas o La Razón e o La Vanguardia apresentam duas enormes fotografias dos dois candidatos, ao contrário do El País e do El Mundo, que fizeram apenas pequenas chamadas.

"Num debate cara a cara agreste, Macron cola a Le Pen a acusação de estar a brincar com 'a amargura das pessoas'", escreve o La Razón. O La Vanguardia é mais cauteloso e afirma que "os dois sobreviveram": "Le Pen e Macron saíram ontem sem demasiados arranhões do debate para as presidenciais francesas."

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O El País é mais reservado na chamada de primeira página – uma pequena fotografia de Le Pen e Macron, lado a lado, antes de o debate ter começado, e um sublinhado para as questões europeias: "O europeísta Emmanuel Macron e a nacional-populista Marine Le Pen, defensora da saída do euro, enfrentaram-se ontem à noite perante milhões de telespectadores."

O El Mundo não tem sequer uma fotografia, mas também destaca que o debate entre Macron e Le Pen foi "cheio de insultos". "O líder centrista põe em evidência a debilidade do programa da candidatura ultradireitista ao Eliseu", aponta o El Mundo, referindo-se a Marine Le Pen.

Macron "quebra o padrão"

Do outro lado do Atlântico, o Wall Street Journal põe na primeira página uma grande fotografia, com um casal a assistir em casa ao debate pela televisão, ela recostada no sofá, ele inclinado para a frente e com ar preocupado. Mas a legenda é meramente informativa: "Um casal de Lyon, França, assiste ao debate em directo entre os candidatos presidenciais Emmanuel Macron, defensor da União Europeia, e Marine Le Pen, uma nacionalista que quer desmantelá-la. Os eleitores vão votar no domingo."

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Também o The New York Times mostra aos seus leitores na primeira página alguma informação sobre o importante debate – há uma reportagem em França, mas também uma chamada para o "debate entre rivais": "A batalha entre Marine Le Pen e Emmanuel Macron ofereceu aos eleitores diferentes visões para a França."

Já o Washington Post deixa de fora da sua primeira página o debate e prefere presentear os seus leitores com mais um texto sobre a diferença de idades entre Emmanuel Macron e a sua mulher, Brigitte Trogneux: "O francês Macron quebra o padrão com uma mulher muito mais velha."

Em Portugal, para além do PÚBLICO – que resume tudo no texto escrito pela enviada Clara Barata ("Macron ganhou contra Le Pen num debate que foi um combate") –, só o Diário de Notícias chamou à primeira página o debate presidencial em França: uma fotografia em grande destaque, com os candidatos já sentados, e o título "Debate em França: tudo o que separa Le Pen e Macron".

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