Igreja Católica: sustentabilidade “green washing”?

Quase todas as grandes instituições religiosas afirmam e promovem a ideia de um crescimento infinito. É preciso mostrar o dano que nós, suposta criação perfeita de um Deus criador, impomos ao mundo

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Eduardo Munoz/Reuters

Sustentabilidade, tal como fascismo e racismo, são palavras que perdem o seu valor devido à banalidade com que são usadas. Irei usar a definição do Relatório de Bruntland, que define sustentabilidade como “desenvolvimento capaz de satisfazer as necessidades dos presentes, sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas necessidades”. Numa perspectiva ecocêntrica, e não antropocêntrica, sustentabilidade inclui todos os seres vivos e processos ecológicos relacionados.

Sustentabilidade faz parte do jargão do dia-a-dia, já que todos querem vender o seu produto ou actividade como “sustentável”, “verde, “amigo do ambiente”. Até já se ouve falar em “extracção sustentável” de petróleo. A isto chama-se green washing: limpar a imagem de um produto fazendo-o passar por eco-friendly.

O Papa Francisco lançou em 2015 a encíclica Laudato si’, resumindo a obra como um apelo a uma nova consciência ecológica e social. Tudo bem até aqui. A mensagem é importante, não é extremista. Trata-se simplesmente de apelar ao bom senso das pessoas (coff), das corporações (coff, coff) e dos governos (coff, coff, coff), de forma a termos um planeta capaz de sustentar a vida, e a perpetuação de todos processos inerentes à vida.

Mas porque afirmo que a encíclica constitui green washing? Porque se recusa a aceitar a causa número um de todos os problemas ambientais neste planeta: o crescimento exponencial da população humana. Agora podem perguntar: “Mas então és a favor de matar pessoas para reduzir a população humana?! És pior do que o Hitler!” ou “És um ecofascista/comuna que despreza a vida humana e só gostas de animais fofinhos!”. Muito pelo contrário! Eu sou a favor da caça, pois acredito que é mais ético comer animais de caça do que produzidos em massa, num cubículo, onde muitas vezes nem vêem luz solar nas suas curtas vidas. Se na Suíça me oferecessem um prato de carne de cão (sim, comem cão na Suíça), eu aceitaria de bom grado. Mas falemos da sobrepopulação humana.

Se juntarmos os dados sobre impactos ambientais, quer de diminuição de populações de animais, erosão e degradação de solos, agricultura intensiva, emissões de gases com efeitos de estufa, entre outros factores, e sobrepusermos o crescimento demográfico da humana, veremos um padrão muito curioso. Há, no mínimo, uma correlação. Para termos noção do quão grande foi a explosão demográfica humana basta pensarmos que há mais seres humanos desde o século XX até aos dias de hoje do que desde a primeira população humana até ao fim do século XIX. Só por isso já vislumbramos o impacto que tivemos ao longo do último século sobre este planeta. Qualquer outra espécie que tivesse um semelhante crescimento desenfreado seria imediatamente apelidada de praga.

Agora, quase todas as grandes instituições religiosas afirmam e promovem a ideia de um crescimento infinito (“Crescei e multiplicai-vos”) num mundo finito. Está na altura de ser lançado o desafio a instituições extremamente influentes para que finalmente vejam o dano que nós, suposta criação perfeita de um Deus criador, impomos ao mundo.

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