Mélenchon em paz

Toda a gente quer redistribuir os votos de quem votou Mélenchon. Até Le Pen tentou engatá-los. Mas cada um deles pertence a alguém que votou em Mélenchon. É insultuoso e irracional tratá-los como um rebanho.

Numa entrevista a Sonya Faure no Libération, Thomas Piketty demonstra a facilidade (e a coragem) dos economistas com os números. Estima ele que a extrema-direita, a direita liberal e a esquerda tem 30% cada uma.

Piketty queria (mas não conseguiu) umas primárias de esquerda para escolher um candidato que unisse a esquerda. Era uma boa ideia. Se tivesse pegado Macron não seria o candidato a enfrentar Le Pen.

Depois apoiou Hamon, do PS, que teve 6%. Se os eleitores de Hamon tivessem votado em Mélenchon (que teve 20%) teria passado este à segunda volta, ultrapassando Macron.

Piketty quer que os eleitores de Mélenchon votem em Macron em vez de abster-se. Diz, com razão (embora lapallissianamente) que um resultado 70-30 seria uma derrota determinante para a extrema-direita, comparada com uma vitória 55-45 que poderia contribuir para normalizar a ideia da extrema-direita chegar ao poder.

Toda a gente quer redistribuir os votos de quem votou Mélenchon. Até Le Pen tentou engatá-los. Mas cada um deles pertence a alguém que votou em Mélenchon. É insultuoso e irracional tratá-los como um rebanho. Eles já votaram contra Macron e contra Le Pen. Contra Le Pen já estão os votos a favor de Mélenchon contados. Eles já votaram em quem queriam.

Para mais, como mostra Piketty, os votos deles não são necessários para derrotar Le Pen. Basta que não votem nela. E não irão certamente votar nela. E alguns votarão, sim, em Macron. Porque querem. É essa a importância. E é essa a diferença. Pacífica.

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