Começa bem

A partir daqui, por Maio fora, as cerejas hão-de melhorar com cada dia que passa.

O mês de Abril já se come. De Resende chegaram as primeiras cerejas para nos enlouquecer. É boa esta felicidade que trazem, que é a felicidade dos princípios. A partir daqui, por Maio fora, as cerejas hão-de melhorar com cada dia que passa.

Na caixa que comprei estava o nome do produtor: Rogério Pedro da Silva, de São Martinho de Mouros. Telefonei-lhe na esperança de poder falar com ele, para agradecer e perguntar pela saúde das cerejas. Ele disse que o ano passado tinha sido "muito mau, horrível". Mas este ano tem estado "muito bem". O mês de Abril ajudou: o "fruto está perfeito, com a doçura certa". Sentia-se a alegria daquele engenhoso fruticultor. Sabe bem comer-se a fruta que ele cuidou e depois ter-se a sorte de poder dar-lhe os parabéns e ouvi-lo a aceitá-los, com toda a justiça.

O ano passado ensinou-nos a não contar com as cerejas, que as cerejas são frágeis e facilmente desanimam. Por outro lado, a desilusão também leva ao pessimismo e, nos momentos mais escuros, frios e molhados do Inverno, até acreditámos que nunca mais haveria cerejas como antigamente. Pois sabem que mais? Essa lembrança aziaga só torna as cerejas de agora mais deliciosas.

Este ano quero conhecer, se ainda existirem, as famosas cerejas de São Julião sobre as quais escreveu Alexandra Prado Coelho. Quero matar as saudades de décadas das cerejas Bical, brancas e rosas. Será este Verão que finalmente provo uma das famosamente raras ginjas de mesa?

Por isto tudo e mais: obrigado, Rogério Pedro da Silva.

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