Câmara criticada pelo abate de árvores em Monsanto por causa do campo de râguebi

Autarquia garante que a construção do campo de râguebi “não põe em causa a certificação de Monsanto” nem vai contra a concepção de desenvolvimento do parque florestal.

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Enric Vives-Rubio

Os números diferem consoante os lados da barricada: a Associação de Moradores do Bairro da Boavista acusou, na semana passada, a Câmara Municipal de Lisboa de ter abatido dezenas de árvores nas últimas semanas no Parque Florestal de Monsanto para ser construído um campo de râguebi privado do Grupo Desportivo do Direito, junto ao Bairro da Boavista. A autarquia fala no abate de 15 ou 16 árvores, avançou o vereador do pelouro dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes, na reunião pública do executivo, esta quarta-feira. A área em questão está cedida pela autarquia ao clube há quase 30 anos.

A oposição dos moradores foi conhecida no passado dia 18, na Assembleia Municipal, quando a presidente da associação, Gilda Caldeira, confessou que, quando ouviu as máquinas a trabalhar, acreditou que a vontade dos moradores em construir uma escola estivesse prestes a ser concretizada. “Pensava eu que o sr. vereador tinha mandado limpar Monsanto. E mandou, sim senhor. Mandou abaixo mais de 30 árvores mas para dar à elite de Lisboa”, disse.

José Sá Fernandes já tinha explicado ao PÚBLICO que não entende a surpresa dos residentes visto que “desde 1989 que toda aquela área está afecta ao clube do Direito e isso é público”. Em 2005, quando assumiu o pelouro da Estrutura Verde e Energia, o que estava previsto era a construção de um campo de golfe e perante o que já estava acordado, foi feita uma proposta de reversão em 2013 para, nas palavras no vereador, “reduzir a área afecta ao Grupo Desportivo [90 mil metros quadrados], acabar com o campo de golfe, permitir só o campo de râguebi, devolver 20 mil metros quadrados da área a Monsanto e fazer manutenção e ligação ao bairro", uma proposta que foi aprovada por unanimidade no mesmo ano.

O presidente da autarquia partilhou da surpresa: “Era algo que não esperava”, afirmou esta quarta-feira Fernando Medina. O autarca acrescentou que pretende concretizar o projecto “sem conflitos” com os moradores do Bairro da Boavista, acrescentando que, para estes projectos se desenvolverem, é “importante que tenham o apoio da comunidade”. O executivo iniciou contactos com a Junta de Freguesia e a associação de moradores, garantiu.

Evitar “um mal maior”

Também o Bloco de Esquerda mostrou a sua oposição ao abate de árvores no parque florestal, que a líder do partido, Catarina Martins, classificou como “um crime ambiental”. Perante a acusação, Sá Fernandes considerou que o campo de golfe previsto, de 90 mil metros quadrados, seria “isso sim, um crime ambiental”.

O vereador admite que também não está satisfeito com a solução, mas acredita que “perante o que já estava aprovado” foi evitado “um mal maior”. Sá Fernandes garante que a construção do campo de râguebi “não põe em causa a certificação [florestal] de Monsanto” e que o projecto foi acompanhado por peritos internacionais que o confirmaram. “A estrutura proposta não viola a concepção de desenvolvimento do parque”, corroborou Fernando Medina.

O Parque Florestal de Monsanto tem o selo da Certificação da Gestão Florestal atribuído pelo Forest Stewardship Council, uma organização internacional que tenta promover a gestão sustentável das explorações florestais. 

 

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