A Cassini entrou em contagem decrescente para o adeus a Saturno

Após 13 anos a explorar o sistema de Saturno, a missão Cassini começou uma série de manobras entre o planeta e os seus anéis para o mergulho final na sua atmosfera, em Setembro.

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Ilustração da sonda Cassini NASA/JPL/Instituto de Tecnologia da Califórnia

A sonda espacial Cassini começou a entrar esta quarta-feira numa região nunca antes explorada que separa Saturno dos seus anéis. Só na quinta-feira é que se deverá saber o resultado desta primeira operação de aproximação ao planeta e ter os primeiros dados e imagens, quando a sonda da NASA voltar a estabelecer contacto com a Terra.

O contacto foi interrompido, uma vez que a antena da sonda foi usada para proteger os instrumentos científicos de possíveis danos causados pelas partículas dos anéis, explica um comunicado da agência espacial norte-americana NASA. Se sobreviver à primeira aproximação na zona que separa o planeta gigante gasoso dos seus anéis, a sonda irá repetir esta operação mais 21 vezes, antes do mergulho final na atmosfera de Saturno a 15 de Setembro. Após quase 13 anos em órbita do sistema de Saturno, a missão da Cassini está prestes a entrar assim no seu último capítulo. Também a sonda Galileu tinha feito algo do género, ao mergulhar na atmosfera densa de Júpiter em Setembro de 2003, pondo então fim à sua missão de oito anos em órbita desse planeta.

“Finalmente, chegámos à fase final e mais audaciosa desta missão pioneira, levando a sonda espacial novamente para um território inexplorado”, diz Nicolas Altobelli, cientista do projecto Cassini na Agência Espacial Europeia (ESA), citado em comunicado da instituição. A fase final permitirá também recolher dados que não tinham sido recolhidos nas fases anteriores, como o material dos anéis ou o ambiente de plasma de Saturno. “Ao atravessar o plano anelar, o analisador de poeiras cósmicas de Cassini irá recolher, de forma directa, amostras da composição das partículas das poeiras de diferentes partes do sistema de anéis”, refere ainda o comunicado.

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As órbitas do grande final da Cassini NASA/JPL- Instituto de Tecnologia da Califórnia e Erick Sturm

Durante esta missão, a Cassini cobriu cerca de metade da órbita de Saturno, um planeta leva 29 anos a orbitar o Sol. “A missão tem contribuído muito para a compreensão do ambiente de Saturno, incluindo o gigante sistema de anéis e luas do planeta”, lê-se no comunicado.

De Titã a Encelado

Lançada em 1997, a Cassini esteve a orbitar Saturno desde 2004. Levou às suas costas até ao sistema de Saturno a sonda Huygens, da ESA, que pousou na lua Titã em 2005, numa missão histórica. Deve o seu nome ao astrónomo italiano Giovanni Cassini (1625-1712), que descobriu quatro luas de Saturno e observou a divisão de anéis do planeta. Como o combustível da Cassini está a esgotar-se, a NASA vai avançar para esta derradeira operação.

Os dados recolhidos pela Huygens durante a sua travessia pelas brumas de Titã e as observações da Cassini durante voos aproximados a esta lua permitiram saber mais sobre os seus processos atmosféricos e as suas estações, assim como a morfologia da superfície e estrutura interior.

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NASA/JPL- Instituto de Tecnologia da Califórnia

“Envolta por uma atmosfera densa dominada por azoto e parcialmente coberto por lagos e rios, Titã tem uma meteorologia e um ciclo hidrológico que possui algumas semelhanças interessantes com a Terra. No entanto, há diferenças importantes: a componente-chave não é a água, como no nosso planeta, mas o metano e a temperatura é muito mais baixa – cerca de 180 graus Celsius negativos à superfície”, frisa ainda o comunicado.

Outra descoberta da missão foi a detecção de uma pluma de vapor de água e materiais orgânicos, que são lançados para o espaço por outra lua gelada de Saturno – Encelado, através de fracturas existentes no pólo sul. Isto indica que pode haver um oceano subterrâneo de água líquida. Dados mais recentes mostraram também que há gás de hidrogénio nesta pluma. Suspeita-se assim que a rocha pode estar a reagir com água quente do oceano subterrâneo de Encelado.

As moléculas de hidrogénio encontradas em Encelado, tal como as de dióxido de carbono, são consideradas ingredientes fundamentais para um processo conhecido como metanogénese, uma reacção que suporta a vida de microorganismos em ambientes submarinos profundos e escuros na Terra, refere a agência Lusa.

Quando entrar na atmosfera de Saturno, a Cassini continuará a transmitir dados obtidos por muitos dos seus instrumentos, nomeadamente sobre a composição da atmosfera, até à perda do sinal.

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