Açores: Ponta Delgada é "pedra no sapato" do PS

Com 12 das 19 câmaras municipais açorianas, os socialistas reforçaram em 2013 a influência autárquica no arquipélago. A capital, Ponta Delgada, tem sido uma espécie de irredutível aldeia gaulesa que foge aos socialistas desde 1993.

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A capital dos Açores estará ao rubro a 1 de Outubro
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Ponta Delgada vai originar uma grande disputa autárquica Paulo Pimenta
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Ponta Delgada vai originar uma grande disputa autárquica RPS Rui Soares (colaborador)

Com as regionais de 2016, que deram a quinta maioria absoluta consecutiva ao PS, ainda bem presentes na vida política açoriana, os dois principais partidos apostam forte nas eleições de Outubro, mas com excepção de uma ou outra freguesia pouca coisa de substancial deverá mudar no mapa autárquico regional.

Num arquipélago extremamente bipolarizado, onde o PSD liderado por Mota Amaral governou durante as primeiras duas décadas de democracia, e o PS é governo desde 1996, dos 19 municípios que compõem os Açores apenas dois não estão nas mãos destes dois partidos, e assim deverão continuar.

As duas excepções moram na ilha de São Jorge. A Câmara de Velas é presidida por Luís Silveira, do CDS, e, ao lado, a autarquia da Calheta é governada por uma lista de independentes encabeçada por Décio Pereira. O autarca, que foi militante do PSD, partido pelo qual foi eleito presidente de uma junta de freguesia daquele concelho, avançou em 2013 como independente, conquistando a câmara. Para Outubro, conta já com o apoio socialista, que não irá apresentar candidato próprio.

O PS pretende assim reforçar ainda mais a influência no plano autárquico do arquipélago, que se acentuou em 2013 quando conquistou 12 municípios contra cinco do PSD. E se a Calheta fica, aparentemente, resolvida, os socialistas continuam a ter uma "pedra no sapato" chamada Ponta Delgada.

O município mais populoso da região autónoma é "laranja" desde 1993 e é actualmente liderada por José Manuel Bolieiro. O autarca social-democrata ainda não formalizou a candidatura – fontes próximas contaram ao PÚBLICO que deverá fazê-lo em breve –, mas terá pela frente um forte concorrente. Vítor Fraga, o actual secretário regional dos Transportes e Obras Públicas, que no anterior executivo tutelava o Turismo, foi o nome escolhido pelo PS para tentar recuperar Ponta Delgada.

Fraga é um dos rostos mais populares do executivo de Vasco Cordeiro e é olhado por alguns sectores da sociedade local como o obreiro da nova dinâmica de turismo que a região tem vivido nos últimos anos.

Para complicar as contas de uma eleição que em 2013 foi decidida por pouco mais de dois mil votos, Álvaro Dâmaso, antigo secretário regional de três governos de Mota Amaral, anunciou uma candidatura independente à autarquia. Dâmaso chegou a liderar os PSD-Açores, acabando por perder as regionais de 1996 para Carlos César, no ano que marcou a viragem à esquerda da região.

O líder do PSD local, Duarte Freitas, desvalorizou ao PÚBLICO esta candidatura, dizendo que a estratégia do partido passa pelo apoio a todos os actuais autarcas social-democratas, embora salvaguarde que quem decide são as concelhias.

A mesma política segue o PS de Vasco Cordeiro. Os socialistas vão apresentar em Outubro os 12 actuais presidentes de câmara. A excepção é na Praia da Vitória, na Terceira, onde Roberto Monteiro atinge o limite de mandatos. Para segurar a autarquia, os socialistas apostam em Tibério Dinis, actual vereador de Monteiro.

Ao lado, em Angra do Heroísmo, a segunda cidade do arquipélago, tem mandado também o PS, desde 1997. Álamo Meneses é o presidente e vai enfrentar nas urnas o social-democrata Marcos Couto. Empresário e conhecido treinador de basquetebol – levou a equipa açoriana do Boa Viagem à vitória numa Taça da Liga Feminina –, a popularidade de Couto deverá ser, porém, curta para o PSD recuperar a câmara municipal.

Já na Horta, no Faial, as contas podem ser outras. A cidade, a terceira mais importante da região autónoma, é tradicionalmente socialista. Desde 1989 que o PS governa a câmara e Carlos Ferreira é o homem que o PSD escolheu para contrariar essa hegemonia. Comissário da PSP e actual deputado no parlamento açoriano, foi o cabeça de lista social-democrata nas legislativas do ano passado conseguido para o partido a única vitória em todas as nove ilhas do arquipélago.

José Leonardo Silva, o socialista que lidera a autarquia desde 2013, depois de ter sido vereador no mandato anterior, tem enfrentado algumas críticas da oposição. PSD e CDS concorreram coligados nas últimas autárquicas, que o acusam de falta de investimento. Mas, há duas semanas, o anúncio de um projecto a rondar os dez milhões de euros, até 2020, na requalificação da frente-mar da cidade, mereceu a unanimidade de todos os vereadores, mesmo os social-democratas.

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