Accionistas americanos contestam preço oferecido na OPA à Renováveis

Gestora de activos que representa clientes com 4% da EDP Renováveis enviou uma carta a António Mexia a reclamar uma subida do preço da operação, lançada a 6,80 euros por acção. E apresenta argumentos.

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António Mexia diz que a OPA "faz sentido" para os accionistas da EDP e da EDP Renováveis Daniel Rocha

O presidente da EDP, António Mexia, já disse por mais de uma vez que o preço de 6,80 euros que a eléctrica pretende oferecer aos accionistas minoritários da EDP Renováveis (EDP R) pelas suas acções é justo. Mas há quem não concorde e faça as suas próprias contas.

É o caso da gestora de activos norte-americana MFS Investments, que representa clientes com 35,5 milhões de acções da EDP Renováveis, ou 4% do capital e direitos de voto da empresa, e que numa carta enviada no final da semana passada à administração da EDP sublinhou que a contrapartida da Oferta Pública de Aquisição (OPA) que a eléctrica lançou pelos 22,5% que ainda não controla na sua unidade de energias renováveis, “não é justa para os accionistas minoritários” e tem condições para ser “materialmente mais elevada”. Por isso apela à equipa de gestão liderada por Mexia que reveja em alta o preço da oferta de quase 1334 milhões de euros.

Recordando que a EDP R entrou em bolsa em 2008 a valer 8 euros, a MFS Investments sublinha que o preço agora oferecido não reflecte a capacidade de crescimento no longo prazo. “Acreditamos que a cotação tem ainda de recuperar de alguma incerteza relativa à política de renováveis norte-americana”, afirma a carta assinada pelos gestores, Maura Shaughnessy e Claud Davis, que também consideram que a pressão que a cotação sofreu com a eleição de Donald Trump “não reflecte o potencial de valor futuro” da empresa.

Na conferência telefónica com analistas que se seguiu ao lançamento da oferta, Maura Shaughnessy já tinha confrontado António Mexia com o que considerava ser um preço muito baixo, quando comparado com as métricas utilizadas em outros negócios recentes de venda de activos da EDP Renováveis. Ao ponto de Mexia lhe responder: “desculpe, Maura, no passado já tivemos conversas mais interessantes”.

Na carta, a gestora considera que o valor justo das acções da EDP R deve ser calculado com base em duas métricas essenciais: o valor dos activos e a geração de cash-flow. Olhando para o valor dos activos, a MFS recorda que as vendas realizadas pela EDP R desde 2014 têm atingido uma média de 1,5 milhões de euros por megawatt instalado (MW), com algumas das transacções recentes a chegar a 1,7 milhões. Ora, os 6,80 euros oferecidos na OPA implicam uma avaliação de 1,08 milhões de euros por MW, sublinha a MFS. “Mesmo aplicando uma métrica conservadora de 1,5 milhões de euros por MW, isso resultaria num valor de 11,73 euros por acção, 73% acima do preço da OPA”, salienta a gestora, que também tem acções na EDP.

Uma comparação que o presidente da EDP rejeita. "Os activos não são os mesmos. Esse múltiplo não faz sentido", afirmou Mexia, quando questionado recentememte pelo Expresso, sobre o facto de pretender pagar menos aos minoritários da Renováveis do que pagou em vendas recentes de activos eólicos à chinesa China Tree Gorges (maior accionista da EDP).

Na carta, a MFS usa ainda outras operações no mercado como termo de comparação para mostrar que os minoritários da EDP Renováveis serão penalizados nesta OPA, por exemplo, a aquisição dos minoritários da Enel Green Power pela Enel, em 2016, a um preço de 1,58 milhões por MW. Qualquer preço justo terá ainda de reflectir o valor dos projectos futuros, como o crescimento no mercado norte-americano, os projectos no offshore em França, e o crescimento potencial de projectos no offshore no Reino Unido e no sector solar. E, destaca a gestora, a forte capacidade da empresa em libertar liquidez na sua actividade estratégica deveria estar reflectida no preço da OPA.

Na sua carta, a MFS reforça, em jeito de aviso, que espera que o presidente executivo da Renováveis, João Manso Neto, que também é administrador da EDP, respeite os “mais altos standards de governance” em eventuais situações de conflito de interesse e saiba “cumprir fielmente os seus deveres para com a EDP Renováveis”.

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